Inspirações para sair do
labirinto: no Reino Unido, o Momentum, criado há quatro anos, ressuscitou o
Partido Trabalhista, livrou-o de uma burocracia encarquilhada e pensa agora
vencer as eleições e reverter décadas de neoliberalismo
Ruby Lott-Lavigna | em Vice |
Outras Palavras | Tradução: Simone Paz e Gabriela Leite
Estou num escritório surrado em
Finsbury Park, na região norte de Londres. Um letreiro colado à parede
apresenta uma contagem regressiva até 12 de dezembro. Diz: “30 dias para o
socialismo”. Outro cartaz lista os restaurantes locais, juntamente com um lembrete
que incentiva as pessoas a “considerarem gastar seu dinheiro em um deles, em
vez de numa cadeia sonegadora de impostos”. Tirando essas placas da parede, o
espaço se parece com qualquer outro escritório — laptops em todo lugar, tapetes
feios, o murmúrio baixo da conversa telefônica. A diferença é que as pessoas
que trabalham aqui não tentarão vender nada para você. Eles estão aqui para
ganhar uma eleição.
São os escritórios do Momentum, a
organização de base filiada ao Partido Trabalhista britânico, que foi criada em
2015. O Momentum, originalmente uma fusão de grupos de apoiadores de Jeremy
Corbyn, formada durante sua campanha pela liderança trabalhista, está agora
registrado legalmente, tem um conselho de administração e mais de 130 grupos
locais em todo o Reino Unido. Após a convocação de eleições gerais para
dezembro, a equipe mudou-se para este escritório para dar conta da expansão de
cerca de 13 mobilizadores para 40.
O Momentum faz campanha por um
governo trabalhista e é conhecido por sua importante presença nas redes
(leia-se: ótimos memes), por ter uma grande base de jovens apoiadores e por
gostar muito das políticas propostas por Jeremy Corbyn. Embora funcione de
maneira semelhante a outros grupos adjacentes ao partido, como o Progress ou o
Labor First, o Momentum ganhou atenção especial por seu papel crítico na
eleição de 2017, ajudando os trabalhistas a quebrar a maioria do Partido
Conservador. Enquanto estes batiam a cabeça, o Momentum sabia que havia
alcançado algo enorme.
“A história da eleição [2017] é
que, essencialmente, a Momentum, em conjunto com a liderança, tinha uma
abordagem muito ousada, positiva e enérgica da campanha, que não se baseava na
simples defesa de cadeiras para os trabalhistas”, me conta Laura Parker,
coordenadora nacional do movimento. “Fomos muito, muito, muito melhores do que
todos imaginavam que seríamos, e uma grande parte disso deve-se ao fato dos
membros do Momentum terem pensado: eu não estou ligando pra isso [o
número de cadeiras no Parlamento]”.