sábado, 25 de janeiro de 2020

Portugal | Não apaguem os racistas


Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

Volta e meia apanho comentários de pessoas que decidem apagar das redes amigos que façam afirmações xenófobas ou fascistas. Percebo que essa higienização de um espaço que tem tanto de público como de privado é um direito, mas pessoalmente gosto da sensação de ir medindo o pulso às redes sociais, na sua amplitude e no seu absurdo.

O Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública apagou o post em que insinuava que a mulher negra agredida teria "doenças graves", mas felizmente de nada serve eliminar uma mensagem largamente disseminada. O nível de racismo deste sindicato foi inequivocamente posto a nu e mais vale termos, social e politicamente, mecanismos para agir e prevenir o crescimento de fenómenos perigosos dentro das forças de segurança.

O comportamento dos agentes que estiveram no incidente vai ser apurado pelas instâncias devidas. Mas a influência de movimentos subterrâneos é mais difícil de acompanhar. Se de forma tão evidente são expostos pensamentos extremistas, a tutela não pode ignorar a gravidade do fenómeno e tem de perceber claramente como seleciona, forma e fiscaliza quem veste uma farda e representa o Estado de direito.

O pior que podemos fazer é fingir que não temos profundas clivagens raciais e comportamentos antidemocráticos. Até recorrendo a argumentos falaciosos, como a tentativa de fazer corresponder a xenofobia ao número de deputados de partidos radicais, como se essa ligação fosse direta ou exclusiva. O racismo, apesar dos pergaminhos de igualdade e de abertura às migrações à Esquerda, não é exclusivo de nenhum partido ou tendência ideológica. Já para não falar que a crise da Direita é conjuntural. Este fim de semana o CDS, partido que corre o risco de se tornar mínimo mas está longe de morrer, disputa eleições e será curioso perceber a força do candidato com as posições mais conservadoras.

Os racismos, os extremismos e outros ismos andam por aí. Mas vale que sejam visíveis e que todos tenhamos consciência deles.

*Diretora-adjunta

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