Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião
Volta e meia apanho comentários
de pessoas que decidem apagar das redes amigos que façam afirmações xenófobas
ou fascistas. Percebo que essa higienização de um espaço que tem tanto de
público como de privado é um direito, mas pessoalmente gosto da sensação de ir
medindo o pulso às redes sociais, na sua amplitude e no seu absurdo.
O Sindicato Unificado da Polícia
de Segurança Pública apagou o post em que insinuava que a mulher negra agredida
teria "doenças graves", mas felizmente de nada serve eliminar uma mensagem
largamente disseminada. O nível de racismo deste sindicato foi inequivocamente
posto a nu e mais vale termos, social e politicamente, mecanismos para agir e
prevenir o crescimento de fenómenos perigosos dentro das forças de segurança.
O comportamento dos agentes que
estiveram no incidente vai ser apurado pelas instâncias devidas. Mas a
influência de movimentos subterrâneos é mais difícil de acompanhar. Se de forma
tão evidente são expostos pensamentos extremistas, a tutela não pode ignorar a
gravidade do fenómeno e tem de perceber claramente como seleciona, forma e
fiscaliza quem veste uma farda e representa o Estado de direito.
O pior que podemos fazer é fingir
que não temos profundas clivagens raciais e comportamentos antidemocráticos.
Até recorrendo a argumentos falaciosos, como a tentativa de fazer corresponder
a xenofobia ao número de deputados de partidos radicais, como se essa ligação
fosse direta ou exclusiva. O racismo, apesar dos pergaminhos de igualdade e de
abertura às migrações à Esquerda, não é exclusivo de nenhum partido ou
tendência ideológica. Já para não falar que a crise da Direita é conjuntural.
Este fim de semana o CDS, partido que corre o risco de se tornar mínimo mas
está longe de morrer, disputa eleições e será curioso perceber a força do
candidato com as posições mais conservadoras.
Os racismos, os extremismos e
outros ismos andam por aí. Mas vale que sejam visíveis e que todos tenhamos
consciência deles.
*Diretora-adjunta
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