"Proibiram-nos de usar
máscara": Tripulante português infetado
pelo coronavírus está "revoltado"
A TSF falou com o português
infetado com o novo coronavírus que está dentro do navio atracado no Japão.
Sem respostas, sem comida
fornecida pelo navio e sem saber quando vai sair do Diamond Princess, Adriano
Maranhão diz-se "revoltado". O português infetado com o novo
coronavírus está há várias semanas de quarentena, no porto de Yokohama, no
Japão, e lamenta, em entrevista à TSF, a falta de respostas, sublinhando que a
embaixada portuguesa já tem conhecimento da sua situação.
"A embaixada já tem
conhecimento do meu caso, já falou com as autoridades japonesas, já tem o
comprovativo em como é positivo e a única coisa que me disseram foi que
vão tentar tirar-me daqui para um hospital local o mais cedo possível",
explica à TSF.
Adriano Maranhão é canalizador no
Diamond Princess, ainda não sabe quando vai sair do navio e garante que não foi
visto por nenhum médico nos últimos dias: "Não fui visto por ninguém.
Telefonaram para a minha cabine a perguntar qual era o meu estado, se eu estava
bem, se eu tinha medido a minha febre. Eu disse que sim, que não tinha febre
nem sintomas. Não me disseram mais nada."
O português infetado adianta ainda que só recebeu
comida graças à solidariedade de dois portugueses: "Deram-me comida, mas
não foi o navio que me deu. Quem me deu comida foram dois colegas portugueses
que temos a bordo. Eu consegui falar com eles e eles trouxeram-me comida à
cabine, não foi o navio. O navio não me trouxe nada."
O trabalhador do navio lamenta
ainda a forma como o trataram depois de o informarem do diagnóstico:
"Deram-me a informação, disseram-me para fazer as malas, porque iria sair
do navio, teria de levar tudo o que era meu comigo e teria de contactar a
embaixada e a companhia, porque, saindo do navio, o navio já não tinha
responsabilidade sobre mim. Fiquei incrédulo. Tenho de ir para a rua e
ainda vou ser o responsável por entrar em contacto com a embaixada e com a
companhia para me resolver um problema."
Adriano Maranhão denuncia ainda a
falta de proteções adequadas para os trabalhadores do navio, que se limitavam a
apenas "uma máscara e umas luvas de látex" que não foram sequer
usadas desde o início da quarentena.
"A máscara só foi
obrigatória ao fim de dois ou três dias de começar a quarentena. Não foi logo.
Os chefes proibiram-nos de usar a máscara, porque só os médicos é que poderiam autorizar
a máscara. Passado uns dias disseram que éramos obrigados a andar com a
máscara. Passados dois dias talvez, foi-nos dito que tínhamos de andar com
luvas. O processo aqui foi muito lento e nem sequer usámos as proteções
adequadas."
O português acredita que os
trabalhadores também deviam estar de quarentena: "Não devíamos sequer
andar a servir o passageiro, porque o passageiro tinha coronavírus e andou a
contagiar os tripulantes."
"Estou muito revoltado como
eles procederam à organização das coisas daqui", remata.
Francisco Nascimento e Sara
Beatriz Monteiro | TSF | Imagem: EPA
*Título PG
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