Angola terá crescimento negativo,
Cabo Verde ficará muito perto do zero, Guiné-Bissau sem ajudas dos parceiros e
Covid-19 levará economia de Moçambique ao tapete, segundo as previsões do
economista Carlos Lopes.
O economista guineense e atual
alto representante da União Africana (UA) para as negociações com a Europa,
Carlos Lopes, anunciou esta segunda-feira, em entrevista exclusiva à DW África,
que todas as atividades de preparação da cimeira África-Europa, prevista para
outubro, estão suspensas devido à pandemia do novo coronavírus.
O antigo secretário-geral adjunto
das Nações Unidas diz também que já não se irá substituir o franco
CFA pelo ECO no decurso deste ano e prevê um crescimento bastante negativo das
economias africanas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que
África pode tornar-se o próximo epicentro do covid-19, devido à
rápida evolução dos contágios.
Na entrevista à DW, Carlos Lopes
analisa também o impacto da doença na economia do continente africano,
sobretudo nos PALOP. Aponta também as medidas que os líderes africanos devem
tomar com uma certa urgência para evitar o pior para as suas economias.
DW África: Que impacto terá a
pandemia de covid-19 na economia africana?
Calos Lopes (CL): Eu penso que o
mais importante a assinalar é o facto de que a economia já estava numa situação
de certa dificuldade. Tinha havido duas revisões para diminuir a previsão de
crescimento por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outros
organismos internacionais. Estávamos já com uma previsão de cerca de 3,2% e
acontece agora a paragem praticamente total das atividades das cadeias globais
de produção e a procura das matérias-primas que sofreu reduções drásticas,
sobretudo petróleo que vai até os 20 dólares por barril. Podemos contar que a
economia africana neste ano vai ter imensas dificuldades e uma delas,
seguramente, é um conjunto grande de países com um crescimento negativo. Estou
praticamente ciente do facto de que devido ao impacto do coronavírus, nós temos
não só uma diminuição considerável de atividade de tudo o que é logística,
transportes, uma diminuição drástica da produção manufatureira, do comércio a
nível mundial para além do turismo, que cria muitos empregos, embora não seja
ainda uma área com grande importância no Produto Interno Bruto (PIB) de muitos
países africanos, em alguns ele é fundamental. Portanto, este conjunto de más
noticias faz com que possa prever uma diminuição muito grande da procura, que
tem sido responsável por dois terços de crescimento de África - a procura
interna neste caso. Mas depois temos um outro fator que eu acho que é
consideravelmente mais impactante, que é o facto de as nossas moedas serem
moedas onde é possível especular em momentos como este, tanto em termos da dívida
soberana como em termos da própria taxa de câmbio. Por causa disso, termos uma
diminuição de valor das moedas e um aumento considerável das obrigações
internacionais em dólares ou em moeda forte. Portanto, tudo isto combinado faz
crer que por causa das economias maiores do continente que são a Nigéria, o
Egito, e a África do Sul ficarem a sofrer fortemente uma perturbação, vamos ter
um crescimento negativo este ano em África.
Braima Darame | Deutsche Welle
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