"Estamos na fase de
aceleração do contágio", segundo António Lacerda Sales, secretário de
estado da Saúde. Nas últimas 24 horas, foram confirmados mais 117 infetados
pelo novo coronavirus, em Portugal, segundo o boletim diário da DGS, desta
terça-feira, um dia depois de ter morrido o primeiro doente com covid-19 no
país.
Os cálculos matemáticos estimam
que o pico da pandemia provocada pelo novo coronavírus, em Portugal, só
aconteça no final de abril, início de maio. E os novos casos revelados todos os
dias têm confirmado esta expectativa, superando entre os 30% a 50% o dia
anterior. Nas últimas 24 horas, foram notificados mais 117 casos de
covid-19 no país, elevando assim a contagem total para 448 infetados e uma
morte, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS),
desta terça-feira (17 de março).
Há ainda 323 pessoas a aguardar o
resultado das análises laboratoriais, três recuperados e 6852 em vigilância
pelas autoridades de saúde. Embora Portugal tenha notificado o primeiro caso de
covid-19 no dia 2 de março, desde o primeiro dia do ano houve 4030 suspeitos.
Este é também o dia em que o
surto chega a quase todo o território nacional. Só no Alentejo ainda não há casos. No arquipélago da
Madeira, uma cidadã holandesa, que aterrou no aeroporto a 12 de março (antes
das medidas de proteção estarem em vigor), testou positivo para o novo
coronavírus, anunciou o presidente do Governo regional, Miguel
Albuquerque, esta terça-feira, em conferência de imprensa. Esta caso ainda não
se encontra registado no boletim da DGS.
A região mais afetada do país é o
Porto (196 casos), depois Lisboa (180). Foi na capital, no Hospital de Santa
Maria, que morreu, esta segunda-feira, a primeira vitima do covid-19, em
Portugal, um enfermeiro e massagista do Estrela da Amadora. Nas
regiões com maior número de casos, seguem-se o centro (51) e o Algarve (14).
Nos Açores, há apenas um caso. Estão também a ser acompanhados no país seis
cidadãos estrangeiros.
19 cadeias de transmissão
Já existe em Portugal transmissão
local e há 19 cadeias de contágio, mais uma do que esta segunda-feira.
"Estamos na fase de aceleração do contágio", admitiu António Lacerda
Sales, secretário de estado da Saúde, em conferência de imprensa, no final
desta manhã.
A maior parte destas cadeias têm
origem em casos importados. Há 18 doentes notificados com ligações a Espanha,
17 a Itália, 13 a França, 8 à Suíça, e um da Alemanha e Áustria, Andorra,
Bélgica, Países Baixas e Reino Unido.
Costa: "Mesmo sem estado de
emergência é possível impor restrições"
Em vésperas do Conselho de Estado
- que acontece quarta-feira às 15:00 e onde deverá ser decidido se o país
avança com o estado de emergência - o primeiro-ministro lembrou que o quadro jurídico permite
ir escalando as medidas. António Costa sublinhou que a pandemia não
durará apenas duas semanas, pelo que poderá obrigar o Governo a tomar medidas
inversas, como a requisição civil de trabalhadores e de equipamentos a
empresas. "Mesmo sem estado de emergência é possível impor
restrições", disse o primeiro-ministro, esta segunda-feira à noite, em
entrevista à SIC.
António Costa está a colocar nas mãos de Marcelo a declaração de um estado
de emergência no país - estado de exceção que só pode ser acionado em casos de
grave ameaça ou perturbação da ordem democrática ou de calamidade pública.
Neste cenário, há direitos fundamentais que nunca podem ser colocados em causa,
nomeadamente, os direitos à vida ou à integridade pessoal. Esta declaração tem
de passar pelos três órgãos de soberania, tendo de ser decretado pelo
Presidente da República, depois de uma audição do Governo e de uma autorização
da Assembleia da República. A ser declarado, será a primeira vez que este
estado vigorará desde o 25 de abril de 1974.
Repostas fronteiras entre
Portugal e Espanha
A luta para combater o novo
coronavírus levou também à reposição, desde as 23:00 de segunda-feira, das
fronteiras com Espanha - uma medida que, não sendo inédita, só é usada
em casos muito especiais.
Até dia 15 de abril, os dois
países ibéricos voltam a ter fronteiras terrestres, aéreas e marítimas. Foram
suspensos os voos entre os aeroportos nacionais e os espanhóis, bem com as
ligações ferroviárias e as duas ligações fluviais que existem no Minho e no
Algarve.
A reposição das nove fronteiras
terrestres obriga a uma maior mobilização de meios, através da GNR e do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras.
Espanha é, neste momento, o
quarto país do mundo com o maior número de infetados (11 178). Já morreram 491
(149 nas últimas 24 horas). Só está atrás do China - país onde o surto começou,
mas que o conseguiu controlar com sucesso nas últimas semanas -, da Itália - o
novo epicentro do vírus no mundo - e do Irão.
O covid-19 infetou 186 676
pessoas em todo o mundo. Destas, 80 338 já recuperam. Morreram 7 471 cidadãos.
Rita Rato Nunes | Diário
de Notícias
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