Pequim, 30 abr 2020 (Lusa) - O
Governo chinês recusou hoje "resolutamente" aceitar uma investigação
sobre a origem do novo coronavírus, apontando que esta seria
"politizada" e "presumiria a culpa" do país, numa altura em
que vários líderes mundiais pedem mais transparência a Pequim.
Em entrevista à cadeia televisiva
norte-americana NBC, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China Le
Yucheng afirmou que Pequim apoia o intercâmbio entre cientistas, mas que se
opõe a que o país se sente no banco dos réus, "sem qualquer evidência e
com presunção de culpa".
O diplomata indicou que não há
"base" para a realização de uma investigação internacional e que
"isso apenas contribuiria para estigmatizar a China".
Estados Unidos, Austrália,
Alemanha ou Suécia exigiram já a Pequim mais informação sobre a origem do
vírus.
Em entrevista recente à rede
televisiva norte-americana Fox, o secretário de Estado norte-americano, Mike
Pompeo, afirmou que o Governo chinês "sabia do vírus antes de decidir
informar o público".
Le Yucheng acusou "alguns
políticos" de "politizarem a pandemia" e afirmou que estes
deviam "lutar juntos", em vez de fazerem acusações.
O diplomata argumentou ainda que
as medidas adotadas pela China para controlar o surto foram "abertas,
transparentes e responsáveis" e que o país "não ocultou ou atrasou
nenhuma informação".
"Os números publicados são
verdadeiros", disse.
Le defendeu que se deve
"confiar nos especialistas que garantiram que o coronavírus é
natural" e, citando o diretor do Instituto de Virologia de Wuhan, a cidade
no centro da China de onde a doença é originária, garantiu que é
"impossível" que o vírus tenha origem no laboratório, como sugeriram
alguns políticos norte-americanos.
E lembrou que, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), "até à data a origem da SARS-CoV-2 é
desconhecida", mas que "todos os dados disponíveis sugerem que é de
origem animal" e, portanto, não se trata de um vírus criado em
laboratório.
"A China não causou a
pandemia, é um desastre natural com que nós sofremos também. Somos uma vítima
do vírus, não cúmplice. Além disso, a China contribuiu para combater a
pandemia. Culpar a China ou pedir uma indemnização à China é uma farsa",
afirmou.
O diplomata reiterou que a China
informou a OMS sobre o vírus em 03 de janeiro e que, no dia 12 do mesmo mês,
anunciou a sequência do seu genoma, "fornecendo informações importantes
para diagnóstico e tratamento e para o desenvolvimento de uma vacina".
Após uma lenta reação inicial e
ter silenciado médicos que alertavam para os perigos de uma nova doença
contagiosa, o Governo chinês tomou medidas drásticas, incluindo colocar a
província de Hubei, da qual Wuhan é capital, sob quarentena, e a paralisia económica
do país.
Enquanto o Governo dos EUA
sugeriu que o vírus teve origem num laboratório, algumas autoridades chinesas
promoveram a teoria de que soldados norte-americanos introduziram a doença
durante a sua participação nos Jogos Militares Mundiais de Wuhan, em outubro
passado.
"Ouvimos comentários muito
negativos contra a China, mas muitas pessoas também apelam a que os dois países
se oponham a uma nova guerra fria. Podemos cooperar, precisamos ter
esperança", acrescentou.
JPI // FPA
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