Eu sei que muitos dos meus
leitores só agora começam a pensar que pode haver mais vida para além do euro.
Jorge Bateira* | Jornal
Tornado
Gostava de os tranquilizar. Para
já, António Costa é um europeísta genuíno; tem feito alguns alertas críticos,
mas nunca irá tirar Portugal deste colete de forças do euro. Não, Portugal não
vai sair do euro pela mão de AC e do PS, custe o que custar ao país.
Agora, eu estou certo de que o
euro vai acabar, e acho que já estivemos bem mais longe. Um cenário plausível é
o da eleição em Itália de um governo que se recuse a cumprir o Tratado
Orçamental, não deixando a UE intrometer-se na condução da sua política
orçamental pós-pandemia.
Então, o que fazer quando o euro
acabar (por divórcio amigável, acredito, porque a Alemanha também já não quer
viver com esta periferia, onde mesmo com o fim do euro ainda pode sugar a mão
de obra qualificada que estamos a preparar para a emigração)?
Para ajudar a tranquilizar os
mais inquietos com o fim do euro, aqui ficam algumas respostas a dúvidas
frequentes. São respostas lacónicas e já foram escritas há algum tempo, num
contexto em que se falava de sairmos do euro.
Isto faz parte da preparação da
opinião pública para o que aí vem.
Dúvidas sobre a saída do euro
Contratos entre residentes
Todos os contratos realizados ao abrigo da legislação nacional são convertidos na nova moeda. Isto inclui depósitos bancários e contratos de crédito realizados pelos privados junto dos bancos residentes em Portugal.
Todos os contratos realizados ao abrigo da legislação nacional são convertidos na nova moeda. Isto inclui depósitos bancários e contratos de crédito realizados pelos privados junto dos bancos residentes em Portugal.
Dívida pública emitida pelo Estado
Os títulos de dívida são convertidos na nova moeda caso tenham sido emitidos ao
abrigo da legislação nacional (Lex Monetae – ver no Financial Times um artigo
de Gilles Thieffry sobre a Grécia). O Banco de Portugal é retirado do sistema
do euro por decreto do governo.
Dívida privada externa
Deveria manter-se em euros para não prejudicar as relações comerciais. O
acréscimo nas dívidas resultante da desvalorização deve ser tratado segundo o
tipo de empresa (Petrogal, EDP e outras, suportam o encargo porque também têm
activos no estrangeiro que se valorizam; as outras empresas são apoiadas pelo
Estado nesse diferencial).
Salários de funcionários e
investimento público
Estão garantidos porque o défice orçamental é financiado pela emissão de
títulos de dívida, em nova moeda, que os bancos estão interessados em comprar,
ou por emissão monetária sem juros através do BdP.
Pensões
Estão garantidas porque as pensões pagas em cada mês são financiadas pelos
descontos efectuados mensalmente, o que não é problema com desemprego baixo. Se
necessário, um défice do orçamento da segurança social é sempre coberto por uma
transferência do orçamento do Estado. Tal como os salários, as pensões serão
indexadas à inflação.
Financiamento das importações de
bens essenciais
Não é problema sério porque as contas externas estão perto do equilíbrio. Ainda
assim, para ter uma reserva de segurança em divisas, não será difícil obter
crédito comercial externo contra garantia em ouro, ou outras contrapartidas,
até que a desvalorização (acompanhada de outras políticas) consolide o
equilíbrio da balança corrente. Para um crédito em divisas, o ADB (Banco
Asiático de Desenvolvimento) é uma alternativa ao FMI.
Nacionalização dos bancos
Para garantir que o controlo dos movimentos de capitais não fica nas mãos dos
actuais banqueiros, e também porque há bancos que ficam falidos com dívidas ao
exterior em euros, o sistema bancário será recapitalizado e nacionalizado. Mais
tarde, encontrar-se-á uma fórmula institucional que impeça os governos de
partidarizarem as administrações dos bancos.
Como será o fim do euro?
Se a Itália sair do euro, a França e a Espanha terão de fazer o mesmo para não
perder mercados. Será um processo semelhante ao do fim do padrão-ouro na Europa
dos anos 30. Nessa situação, os governos estabelecerão em poucas horas um
acordo para uma intervenção de emergência, articulada com a Reserva Federal dos
EUA e outros bancos centrais, a fim de estabilizarem o sistema financeiro. Com
o fim do euro, abrem-se novas perspectivas de cooperação entre Estados europeus
soberanos.
Moeda comum
Terminada a experiência do euro, alguns países podem organizar uma zona de
“moeda comum” (moeda bancária para pagamentos ao exterior da zona), com o
câmbio das moedas nacionais ajustável periodicamente face à evolução das
respectivas balanças externas. As moedas desses países ficariam protegidas da
especulação financeira porque não são usadas no exterior. Os movimentos de
capitais também podem ser regulamentados de forma mais apertada para impedir
bolhas especulativas.
Também podem ouvir-me nos Snacks
de Economia Política.
*PhD em Economia, Professor
Universitário
Leia em Jornal Tornado:
Escandalosa nomeação do
embaixador marroquino Omar Hilale pela Nações Unidas
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