Eugénio Costa Almeida* | opinião
Vamos ser práticos e frontais.
Estamos numa III Guerra Mundial, não entre países, mas entre estes e um
elemento biológico despertado pela inconsciência — tudo o indica — humana.
Estados, Populações, Militares estão em disposição de emergência máxima contra
um inopinável, desleal e invisível inimigo comum.
De tal forma que muitos países, e
muitas pessoas, se esqueceram de celebrados Dias Mundiais, como o da Árvore e
da Floresta, ou o da Poesia, ou o de Luta Contra a Discriminação Racial,
ocorridos no passado dia 21 de Março.
Finalmente, aquilo que tanto
muitos pareciam desejar, ainda que de outras formas, como imposições e
fracturas económicas, políticas, armas, etc., aconteceu da forma mais absurda
que poderíamos prever, excepto, talvez, através de contínuos e celebrados visionamentos
cinematográficos ou de séries e televisão: um ataque biológico, sem precedentes,
por um inimigo invisível, pérfido, fortemente crescendo e muito letal.
Em 2011, era estreado, a nível
mundial, um filme científico de Steven Soderbergh — com as interpretações de
Marion Cotillard, Matt Damon e Kate Winslet, entre outros —, que tinha por base
um acontecimento biológico resultante da propagação de um coronavírus em que um
“paciente zero” tinha sido contagiado em Hong Kong (por acaso, uma região autónoma
da China). Dessa propagação resultaram vários milhares de infectados e várias
centenas de vítimas. O filme chamava “Contagion” (Contágio). Um filme que se tornou
“oscarizado”.
Pois, qual infeliz “remake”, “de
novo”, da China, nos chegou o actual inesperado e terrível viajante. Desde
Janeiro de 2020, quando, oficialmente, o Governo chinês afirmou haver uma “nova
pandemia” que o novo coronavírus, a SARS-CoV-2, que resultou na Covid-19, que o
mesmo não pára de nos atormentar devido à sua estranha e forte propagação
contagiosa. Um vírus que ataca as vias respiratórias e que coloca muitas
pessoas em risco...
O certo é que, se da China, tudo
o indica, chegou este inesperado e pouco atraente viajante — de notar que um
porta-voz do “Mirex” chinês acusou, há cerca de duas semanas e por via do
Twitter, que os “pacientes zero” teriam sido militares norte-americanos; a
teoria da conspiração em actividade no meio diplomático —, é nesta altura a
Europa, nomeadamente Itália e Espanha, quem mais está afectada pela pandemia.
Os EUA retorquiram afirmando que terá sido a autocracia chinesa a propagar o
vírus, devido ao encobrimento que fizeram...
Ainda sobre os EUA, importa notar
que, até quase o final de há duas semanas, o presidente norte- -americano,
senhor Trump, considerava pouco importante — ou, jocosamente, minorava mesmo — esta
pandemia. O certo é que decidiu avançar com medidas draconianas contra a
Europa, determinando a suspensão de voos, de e para Europa, por um período de
cerca de 30 dias. Posteriormente, fechou as fronteiras com o México e, pela
primeira vez desde que existem como países, com o Canadá.
Claro que há factores que terão
levado a esta inversão de atitude do senhor Trump — como do senhor Bolsonaro,
Presidente do Brasil, ainda que este continue a apoiar-se nos seus amigos
evangélicos que mantêm igrejas cheias porque acham que a fé, de per si, será
suficiente para impedir a propagação deste nosso letal inimigo —, como o facto
de mais de 46 dos 50 estados norte-americanos estarem já com muitos infectados
(Califórnia e Nova Iorque já declararam quarentena), e a economia mundial estar
em profunda regressão — recordo um artigo do Le Monde em que se afirmava que as
iniciativas do senhor Trump para conter a Covid-19 se deviam salvar... a “sua
economia” por causa das eleições de Novembro próximo.
Não esquecer que, caso a Covid-19
não interfira nelas, em Novembro haverá eleições presidenciais nos EUA, onde o
senhor Trump esperava poder usar a, até há pouco, fortalecida e pujante
economia para ser reeleito. Como se tem visto, a Covid-19 está a ter um impacto
sem precedentes — há quem diga que será pior que por quando da falência do
banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008, ou mesmo, após o 11 de Setembro
de 2001.
As bolsas internacionais, e as
dos EUA, em particular, mostram isso mesmo. Os preços do petróleo são outra das
preocupações dos países produtores — nós incluídos que elaborámos o OGE a 55
USD o barril de crude —, o turismo, principal fonte de alguns países, sem outra
forma de produção industrial, está em profunda queda devido não só à propagação
mundial do coronavírus, como o facto de as companhias aéreas estarem, quase
todas, em terra... (um efeito precioso deste mal fadado inimigo mortal é que
parece a Natureza estar a limpar alguma da enorme porcaria que temos andado a
fazer com o ambiente). Milhares de empregos vão estar em causa; e, com o desemprego,
crises sociais serão, ou poderão ser, o fim de muitos regimes, governos ou... a
civilização (como a conhecemos).
Na Europa, onde o contágio e a
propagação da pandemia, actualmente, mais se faz sentir a grande maioria dos
países entraram em emergência nacional e quarentena total. O número de
infectados e de vítimas mortais, seja, particularizando, na Europa ou na China,
e/ou a nível mundial, já há muito ultrapassaram os números do “Contagion”.
São números que nos levam a estar
preocupados. E nós que estamos fora, na Diáspora, ficamos ainda mais
preocupados com o que poderá acontecer com o nosso País, já infectado. Como o Governo
já declarou, a nossa condição sanitária é deficiente. Os hospitais continuam a
estar (ou contar com), essencialmente, ligados à corrente eléctrica dos
geradores; ainda não há um retroviral que se possa dizer ajuda a cura, e os
poucos que temos serão sempre poucos para cerca de 30 milhões de angolanos no
País.
Vamos rezar — de preferência, em
casa ou em locais de culto ao ar livre e afastados uns dos outros — para que
sejamos poupados deste novo coronavírus.
Que este conflito à escala
mundial, esta efectiva — na minha opinião — 3.a Guerra Mundial, seja, pelo
menos, de média duração; ainda que haja já quem reveja que depois desta primeira
leva que poderá terminar, pelo menos no Hemisfério Norte, no início do segundo semestre,
possa voltar a este hemisfério no último trimestre. E compreende-se, o Hemisfério
Sul entrou agora na época das chuvas, dos temporais, e, em certas zonas, no
Outono, no frio, onde, segundo os especialistas, o nosso inimigo mais e melhor
se propaga...
E que a Humanidade, com sua
inconsciência humana, pare para pensar e comece a compreender de que nem tudo
pode ser para usar, comer, ou cercear a liberdade de animais; tudo indica que
terá sido o cativo e/ou o consumo de morcegos por parte de uma população, esquecendo,
ou, como eu, desconhecendo, que aqueles mamíferos quando estão em profundo
stress despoletam vírus que são, ou podem ser letais para outros animais, humanos
incluídos. E já tínhamos/estávamos esquecidos que outros coronavírus tiveram a
mesma origem e pelas mesmas razões. Parece que nunca aprendemos ou depressa
esquecemos...
Oremos!...
*Publicado no semanário Novo Jornal, ed. 630, de 10.Abril.2020, pág, 23
*Investigador do Centro de
Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado
pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto; Investigador
associado do CINAMIL
** Todos os textos por mim
escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado
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