sábado, 11 de abril de 2020

“III Guerra Mundial” | Meditando sobre a Covid-19, o pérfido inimigo biológico



Vamos ser práticos e frontais. Estamos numa III Guerra Mundial, não entre países, mas entre estes e um elemento biológico despertado pela inconsciência — tudo o indica — humana. Estados, Populações, Militares estão em disposição de emergência máxima contra um inopinável, desleal e invisível inimigo comum.

De tal forma que muitos países, e muitas pessoas, se esqueceram de celebrados Dias Mundiais, como o da Árvore e da Floresta, ou o da Poesia, ou o de Luta Contra a Discriminação Racial, ocorridos no passado dia 21 de Março.

Finalmente, aquilo que tanto muitos pareciam desejar, ainda que de outras formas, como imposições e fracturas económicas, políticas, armas, etc., aconteceu da forma mais absurda que poderíamos prever, excepto, talvez, através de contínuos e celebrados visionamentos cinematográficos ou de séries e televisão: um ataque biológico, sem precedentes, por um inimigo invisível, pérfido, fortemente crescendo e muito letal.

Em 2011, era estreado, a nível mundial, um filme científico de Steven Soderbergh — com as interpretações de Marion Cotillard, Matt Damon e Kate Winslet, entre outros —, que tinha por base um acontecimento biológico resultante da propagação de um coronavírus em que um “paciente zero” tinha sido contagiado em Hong Kong (por acaso, uma região autónoma da China). Dessa propagação resultaram vários milhares de infectados e várias centenas de vítimas. O filme chamava “Contagion” (Contágio). Um filme que se tornou “oscarizado”.

Pois, qual infeliz “remake”, “de novo”, da China, nos chegou o actual inesperado e terrível viajante. Desde Janeiro de 2020, quando, oficialmente, o Governo chinês afirmou haver uma “nova pandemia” que o novo coronavírus, a SARS-CoV-2, que resultou na Covid-19, que o mesmo não pára de nos atormentar devido à sua estranha e forte propagação contagiosa. Um vírus que ataca as vias respiratórias e que coloca muitas pessoas em risco...

Apesar de termos imensos chineses entre nós, alguns chegados já depois do início da pandemia — não é certo quando a mesma se iniciou, quer na China, quer agora, e segundo especialistas italianos, na Europa —, só no final da passada semana é que fomos, oficialmente, atingidos por ela; (quando o texto sair, espero que ainda estejamos bem aquém da maioria dos países africanos, nomeadamente da África do Sul, porque, por quando do momento que escrevo ainda são permitidos agrupamentos até 50 pessoas e dos que, entretanto, chegaram, a incivilidade de alguns tê-los-á levado a informar, erradamente, os serviços sanitários, sobre as suas verdadeiras moradas; estas pessoas deveriam ser detidas e colocadas em quarentena e pecuniariamente com elevadas multas, já que estão a colocar em perigo os seus concidadãos).

O certo é que, se da China, tudo o indica, chegou este inesperado e pouco atraente viajante — de notar que um porta-voz do “Mirex” chinês acusou, há cerca de duas semanas e por via do Twitter, que os “pacientes zero” teriam sido militares norte-americanos; a teoria da conspiração em actividade no meio diplomático —, é nesta altura a Europa, nomeadamente Itália e Espanha, quem mais está afectada pela pandemia. Os EUA retorquiram afirmando que terá sido a autocracia chinesa a propagar o vírus, devido ao encobrimento que fizeram...

Ainda sobre os EUA, importa notar que, até quase o final de há duas semanas, o presidente norte- -americano, senhor Trump, considerava pouco importante — ou, jocosamente, minorava mesmo — esta pandemia. O certo é que decidiu avançar com medidas draconianas contra a Europa, determinando a suspensão de voos, de e para Europa, por um período de cerca de 30 dias. Posteriormente, fechou as fronteiras com o México e, pela primeira vez desde que existem como países, com o Canadá.

Claro que há factores que terão levado a esta inversão de atitude do senhor Trump — como do senhor Bolsonaro, Presidente do Brasil, ainda que este continue a apoiar-se nos seus amigos evangélicos que mantêm igrejas cheias porque acham que a fé, de per si, será suficiente para impedir a propagação deste nosso letal inimigo —, como o facto de mais de 46 dos 50 estados norte-americanos estarem já com muitos infectados (Califórnia e Nova Iorque já declararam quarentena), e a economia mundial estar em profunda regressão — recordo um artigo do Le Monde em que se afirmava que as iniciativas do senhor Trump para conter a Covid-19 se deviam salvar... a “sua economia” por causa das eleições de Novembro próximo.

Não esquecer que, caso a Covid-19 não interfira nelas, em Novembro haverá eleições presidenciais nos EUA, onde o senhor Trump esperava poder usar a, até há pouco, fortalecida e pujante economia para ser reeleito. Como se tem visto, a Covid-19 está a ter um impacto sem precedentes — há quem diga que será pior que por quando da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, em 2008, ou mesmo, após o 11 de Setembro de 2001.

As bolsas internacionais, e as dos EUA, em particular, mostram isso mesmo. Os preços do petróleo são outra das preocupações dos países produtores — nós incluídos que elaborámos o OGE a 55 USD o barril de crude —, o turismo, principal fonte de alguns países, sem outra forma de produção industrial, está em profunda queda devido não só à propagação mundial do coronavírus, como o facto de as companhias aéreas estarem, quase todas, em terra... (um efeito precioso deste mal fadado inimigo mortal é que parece a Natureza estar a limpar alguma da enorme porcaria que temos andado a fazer com o ambiente). Milhares de empregos vão estar em causa; e, com o desemprego, crises sociais serão, ou poderão ser, o fim de muitos regimes, governos ou... a civilização (como a conhecemos).

Na Europa, onde o contágio e a propagação da pandemia, actualmente, mais se faz sentir a grande maioria dos países entraram em emergência nacional e quarentena total. O número de infectados e de vítimas mortais, seja, particularizando, na Europa ou na China, e/ou a nível mundial, já há muito ultrapassaram os números do “Contagion”.

São números que nos levam a estar preocupados. E nós que estamos fora, na Diáspora, ficamos ainda mais preocupados com o que poderá acontecer com o nosso País, já infectado. Como o Governo já declarou, a nossa condição sanitária é deficiente. Os hospitais continuam a estar (ou contar com), essencialmente, ligados à corrente eléctrica dos geradores; ainda não há um retroviral que se possa dizer ajuda a cura, e os poucos que temos serão sempre poucos para cerca de 30 milhões de angolanos no País.

Vamos rezar — de preferência, em casa ou em locais de culto ao ar livre e afastados uns dos outros — para que sejamos poupados deste novo coronavírus.

Que este conflito à escala mundial, esta efectiva — na minha opinião — 3.a Guerra Mundial, seja, pelo menos, de média duração; ainda que haja já quem reveja que depois desta primeira leva que poderá terminar, pelo menos no Hemisfério Norte, no início do segundo semestre, possa voltar a este hemisfério no último trimestre. E compreende-se, o Hemisfério Sul entrou agora na época das chuvas, dos temporais, e, em certas zonas, no Outono, no frio, onde, segundo os especialistas, o nosso inimigo mais e melhor se propaga...

E que a Humanidade, com sua inconsciência humana, pare para pensar e comece a compreender de que nem tudo pode ser para usar, comer, ou cercear a liberdade de animais; tudo indica que terá sido o cativo e/ou o consumo de morcegos por parte de uma população, esquecendo, ou, como eu, desconhecendo, que aqueles mamíferos quando estão em profundo stress despoletam vírus que são, ou podem ser letais para outros animais, humanos incluídos. E já tínhamos/estávamos esquecidos que outros coronavírus tiveram a mesma origem e pelas mesmas razões. Parece que nunca aprendemos ou depressa esquecemos...

Oremos!...

*Publicado no semanário Novo Jornal, ed. 630, de 10.Abril.2020, pág, 23

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto; Investigador associado do CINAMIL

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

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