O primeiro-ministro reiterou na
sexta-feira a necessidade de uma resposta europeia à crise financeira
decorrente da pandemia, considerando não ser preciso apelar "aos valores
de solidariedade", porque a "lógica mercantilista" mostra que é
do interesse de todos os Estados-membros.
"Não é preciso apelar aos
valores da solidariedade. A pura lógica mercantilista é suficiente para
explicar por que razão é mesmo necessário que a Europa responda em
conjunto", considerou António Costa numa entrevista no Porto Canal.
"É do interesse de todos. É
puro egoísmo, se quiser. A Holanda, que é das maiores beneficiárias do mercado
interno [europeu], não precisa de ajudar os outros para bem dos outros. Precisa
de comparticipar com todos num esforço comum para seu benefício próprio",
explicou o chefe do Governo.
António Costa sublinhou que a
União Europeia (UE) tem de ter um "instinto de sobrevivência" e, se a
resposta a esta crise devido à pandemia da covid-19 não for
"em conformidade" com a gravidade do problema, todas as "pulsões antieuropeias que
existem em vários países vão sair fortalecidas".
"Felizmente, o Banco Central
Europeu agiu rapidamente, a Comissão Europeia deu passos para uma ação rápida,
o Parlamento Europeu também. O que é que tem estado a enterrar o funcionamento
das instituições europeias? Os Estados, reunidos no Concelho [Europeu]",
prosseguiu Costa, acrescentando que é preciso superar a "pequena minoria
que tem estado a bloquear" o processo de decisão.
António Costa realçou que
"há alguns colegas" de outros Estados-membros da UE que "parecem
ter a ilusão de que sozinhos resolvem os seus problemas", mas "estão
enganados".
O chefe do Governo socialista
exemplificou que Portugal, "depois de um grande esforço nas últimas
décadas, conseguiu que 44% do seu PIB [Produto Interno Bruto] fosse
de exportações", sublinhando que os "principais clientes" do
país são a Alemanha e Espanha.
"Portanto, nós não estaremos
bem se Espanha e a Alemanha não estiverem bem", adiantou, notando que não
há possibilidade de "encontrar mercados alternativos com a dimensão dos
mercados alemão e espanhol".
O primeiro-ministro realçou que
esta postura também se aplica aos restantes países da UE, já que a recuperação
da Europa depende da recuperação das economias espanhola e italiana, duas das
mais afetadas pela pandemia.
"Os holandeses, que são dos
maiores beneficiários do mercado interno, não ficarão bem sozinhos se o resto
da Europa estiver mal", advertiu.
A pandemia já provocou
mais de 271 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em
195 países e territórios.
A Europa contabiliza 153 mil
mortos, entre mais de 1,6 milhões de casos confirmados.
Em Portugal, morreram 1.114
pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos
recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
O "Grande Confinamento"
levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes
nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020,
arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na
zona euro e de 5,2% no Japão.
Para Portugal, o FMI prevê
uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.
Já a Comissão Europeia estima que
a economia da zona euro conheça este ano uma contração recorde de
7,7% do PIB, como resultado da pandemia da covid-19,
recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3%.
Para Portugal, Bruxelas estima
uma contração da economia de 6,8%, menos grave do que a média
europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo
da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: © Lusa
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