Chá "milagroso" de
Madagáscar contra a Covid-19 chegou a Bissau no sábado (02.05). Eficácia ou não
do "alegado tratamento" é tema de debate na Guiné-Bissau. Subiram
para 413 os casos da doença no país, há 19 recuperados.
Esta segunda-feira (04.05), a
Presidência guineense, através do Chefe de Gabinete de Sissoco Embaló, começou
a distribuição para alguns países da Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO) das amostras do chá importado de Madagáscar, que também vai
ser usado na Guiné-Bissau.
O medicamento tradicional é
produzido a partir de ervas e tem
sido utilizado em Madagáscar no âmbito do tratamento da Covid-19.
O chá, doado
pela República de Madagáscar, chegou a Bissau no sábado trazido pelos
enviados do Presidente Sissoco Embaló, o ministro da Defesa Nacional, Sandji
Fati, e o Chefe do Gabinete de Embaló, Califa Soares Cassamá.
O ativista cívico guineense
Badilé Domingos Sami admite que o medicamento natural seja eficaz no combate a
coronavírus.
"São medicamentos
tradicionais que não têm aprovação da Organização Mundial de Saúde, mas
usámo-los e dão certo. E, neste momento, eu acho que temos que ter confiança
neste produto", diz Sami. "Mas para oferecer mais confiança, apesar
de ser um governo simbólico, os governantes têm que ter a coragem de criar as
condições para que o povo, realmente, tenha confiança neste produto."
No entanto, o médico Hedwis
Martins desaconselha o consumo do medicamento importado, porque há ainda muita
coisa por esclarecer: "O chá proveniente de Madagáscar ainda carece de uma
validação científica e farmacêutica. Ainda não há nada que confirme que tem
efeitos para o tratamento da Covid-19."
Possíveis efeitos secundários
O médico alerta ainda para os
possíveis efeitos secundários deste chá de Madagáscar.
"Sabemos que todos os
medicamentos, mesmo os medicamentos inventados a nível dos laboratórios, têm
efeitos colaterais e adversos, e imagine um chá caseiro, que ninguém sabe a
dosagem, que nem foi testado para saber se é bom ou não para a Covid-19, mas as
pessoas estão a consumir. Eu aconselho o não consumo, conclui.
Euforia é prematura
Para o sociólogo Infali Donque, a
sociedade guineense não deve entrar na euforia sobre a capacidade de cura do
medicamento importado.
"A credibilidade vai
depender da eficácia deste medicamento no tratamento de pacientes que já temos
aqui no país. Mas, seja como for, é preciso dar tempo ao tempo, porque o que
toca na saúde humana é extremamente delicado."
413 infetados na Guiné-Bissau
Entretanto, continua a subir o
número dos infetados pelo novo coronavírus na Guiné-Bissau.
Alguns membros do Governo
guineense, incluindo o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, que estão
infetados pelo vírus, encontram-se em quarentena num dos hotéis de Bissau,
requisitado para receber alguns doentes.
No boletim divulgado esta
segunda-feira (04.05), o Centro de Operações de Emergência de Saúde confirmou
que a Guiné-Bissau já regista 413 casos positivos da Covid-19, um aumento de
156 casos desde o último balanço, divulgado na sexta-feira passada.
Sobre a subida dos números,
Hedwis Martins responsabiliza a comissão interministerial que está a acompanhar
a situação da pandemia no país: "Para além de estar a abordar [a doença]
de uma forma muito leve, também está a criar a possibilidade de que aumentem
cada vez mais os números", afirma o médico em entrevista à DW.
"Como é possível que as
pessoas infetadas continuem nas suas casas? Isso não é admissível. Esta é a
razão do aumento dos números de casos, não existe outra razão."
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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