Anselmo
Crespo | TSF | opinião
Por
mais animada que tenha sido a semana - a política fez o desconfinamento todo de
uma vez -, o que se passou com a transferência dos 850 milhões de euros para o
Novo Banco não dignificou ninguém: nem o Governo, nem a oposição, nem a
Presidência da República e muito menos o setor financeiro.
Vale
a pena um pequeno exercício de memória para lembrar que, há dois meses, Marcelo
Rebelo de Sousa chamou Centeno a Belém para lhe pedir que não abandonasse o
posto, num momento tão difícil do país. Ou que Rui Rio, há um ano, afirmava
desassombrado na TSF que Mário Centeno podia perfeitamente ser seu ministro das
Finanças e agora vem pedir a sua demissão. Isto já para não falar das loas que
António Costa teceu ao seu CR7 do Eurogrupo, usado como bandeira eleitoral do
PS nas Legislativas de outubro passado.
E
quanto à substância deste caso, a verdade é que nem os pedidos de desculpa, nem
as falhas de comunicação e muito menos as manobras de diversão ou os pedidos de
demissão conseguiram disfarçar a questão mais importante em toda esta polémica:
como é que um primeiro-ministro faz depender novas injeções no Novo Banco de
uma auditoria que ainda está a ser feita e acaba desautorizado pelo ministro
das Finanças? Pior: como é que o primeiro-ministro se compromete, por três
vezes, com esta decisão - que levaria à quebra de um contrato assinado pelo
Estado -, sem que o ministro das Finanças o alerte para o que está em causa?
Nenhuma
das explicações que ouvimos esta semana responde a estas perguntas. Na
substância, Mário Centeno tem razão: o Estado, sendo uma pessoa de bem, tem de
cumprir os contratos que assina. O inverso significaria uma quebra de
confiança, com impacto internacional, e uma mais que provável derrota em tribunal. Mas um
primeiro-ministro não sabe isto?
Mário
Centeno explicou na TSF que se tratou de uma falha de comunicação e que as
contas do Novo Banco foram auditadas, deixando subentendido que o
primeiro-ministro teria confundido as auditorias. O que é completamente
impossível, já que das três vezes que António Costa falou sobre isto - em dois
debates quinzenais e numa entrevista ao Expresso -, referiu-se sempre à
auditoria que só estaria pronta em
julho. O primeiro-ministro não sabia que havia um pagamento
de 850 milhões de euros que teria de ser feito em maio, sob pena de quebra de
contrato?
Mário
Centeno diz ainda que não fez nada à revelia do primeiro-ministro. O que torna
tudo politicamente mais delicado. Sobretudo quando o Presidente da República
vem colocar-se ao lado do primeiro-ministro. Porque isso só pode significar uma
de duas coisas: ou alguém está a mentir ou, no mínimo, não nos estão a dizer a
verdade toda.
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