Pedro Ivo Carvalho |
Jornal de Notícias | opinião
Já todos conhecíamos os riscos de
um regresso a uma normalidade que nunca será normal. Por isso não vale a pena
fingirmos que fomos apanhados desprevenidos.
Não será possível recuperar um
pouco da vida que nos foi sequestrada sem que haja contactos, sem que haja
proximidade. É essa a ameaça, sempre foi essa a ameaça. O distanciamento social
não é uma bolha para onde entramos ao sair de casa de manhã e de onde saímos
imaculados ao final do dia. Será inevitável estarmos próximos, ainda que não
demasiado.
Esta é a fase adulta da pandemia.
Em que, passado o susto e o confinamento musculado, terá de imperar o bom
senso, o sentido cívico, a responsabilidade individual. A maturidade. Não
queiramos prolongar esta "ditadura social" para além do necessário.
Ninguém está a pedir libertinagem, mas, que diabo, precisamos de espaço, de uma
perspetiva, uma frincha, um horizonte que nos devolva o equilíbrio (emocional,
físico) perdido. E precisamos muito, mesmo muito, de um raio de luz económico
que pulverize o rasto sombrio deixado pelo desemprego, pelo desespero, pela
fome.
Nenhuma cartilha sanitária sobre
comportamentos coletivos pode ter a pretensão de querer ser aplicada de forma
cega. Jamais teria uma eficácia transversal. A realidade é moldada por milhões
de pessoas irrepetíveis. Haverá excessos. O país é muito desigual na forma como
se defende e, sobretudo, na forma como capta as mensagens. E porque podemos ter
de voltar à casa de partida caso tudo corra mal, é fundamental não
negligenciarmos os cuidados: com as máscaras, com a higienização das mãos,
enfim, com aquilo que tem sido a nossa vida em 2020.
Das autoridades de saúde
esperamos linhas orientadoras claras. Das autoridades policiais uma
fiscalização proporcional, não demasiado branda, não excessivamente intrusiva.
Dos portugueses, só podemos esperar que voltem a estar à altura nesta fase da
batalha em que começamos a sair das trincheiras para lutar com as armas que
temos. As únicas armas possíveis.
* Diretor-adjunto
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