sexta-feira, 17 de julho de 2020

Colômbia | Um genocida inominável


FARC-EP

Corajosa, muito corajosa a denúncia de Daniel Mendoza Leal através da sua extraordinária série MATARIFE un genocida innombrable , contra Álvaro Uribe Vélez, essa "tormenta de morte que não deixa de açoitar o país". O povo inteiro, a dignidade humana, deve apoiar sua valentia que recolhe o decoro de muitos compatriotas que sempre esperaram justiça contra os abusos do tirano.

Se se chegar a impor a tutela de Uribe contra a série, "de acordo com a Constituição – considera o advogado Mendoza Leal – seria como infringir as leis da física. Contudo, na Colômbia o dinheiro e o poder podem por vacas a voar no céu". Isso não deve acontecer. O genocida, mesmo que consiga influenciar alguns magistrados, nunca poderá amordaçar a verdade. Uribe tem um cadastro espantoso e aterrador. O ex Promotor Geral, Eduardo Montealegre, disse recentemente que "Uribe é um criminoso de guerra. Chegou a hora de ele responder perante a justiça. Evadiu-se durante a sua longa carreira política de todos os crimes que cometeu". O estranho neste caso notório é o desentendimento e a ausência de perseguição judicial tanto na jurisdição colombiana como no Tribunal Penal Internacional.

Tudo em Uribe é dantesco: o paramilitarismo do seu coração, que aperta com a sua mão direita ensanguentada, causou – segundo Memória Histórica – mais de 100 mil mortos na Colômbia. A alcunha de Matarife (Açougueiro) que lhe atribuiu Gonzalo Guillen, é apropriada e justa. É tão assassino que cravou com prazer a faca no Acordo de Paz de Havana.

Quem é realmente Uribe? É a podridão que reúne todo o mal, tudo o que o prejudicou o país: máfia, corrupção política, roubo do erário, falsos positivos, assassinato de líderes sociais, falsos testemunhos, roubo violento de terras... É o pai do narco-Estado colombiano.

Mas como pôde chegar até aí? Inicialmente, ajudando Pablo Escobar a inundar as ruas dos Estados Unidos com cocaína. Recordemos que fez isto aproveitando o cargo de director da Aerocivil. A seguir foi governador de Antioquia e dali saltou à presidência da República, financiado fartamente por uma máfia sempre agradecida. "Vaca ladrona não esquece a brecha", diz o refrão popular. Dessa mesma maneira levou à cátedra presidencial do Palácio de Nariño o seu pupilo Duque, no melhor estilo da Ñeñe-política [NR] . Assim ascendeu Uribe a esse pódio indignante onde hoje brilha com luzes injuriosas, como fundador do primeiro narco-Estado do mundo.

Como pode o açougueiro mafioso proteger até hoje a sua repugnante impunidade? Em primeiro lugar, com o poderoso apoio do governo dos Estados Unidos, ao qual ele é mais útil como presidente títere do que como prisioneiro num condado. Necessita dele como peão da sua política para a América Latina. De Uribe certamente dirão em Washington o que diziam do ditador Anastasio Somoza: é um FP, mas é o nosso FP. E quem o disse foi Franklin Delano Roosevelt que foi presidente dos Estados Unidos durante três mandatos.

O cancro maligno do uribismo invadiu todos os ramos do poder do Estado: o poder judicial, o legislativo, o executivo. Tem vice presidente próprio e uma bancada de legisladores que para se comprazerem assumem posições mais extremas que as do seu patrão (são mais papistas que o Papa). Conta com a cumplicidade criminosa dos magistrados designados por ele para integrar os Tribunais. São a sua quota, devem-lhe o cargo, e por isso prestam-lhe lealdade e os seus préstimos. Não têm olhos para ver o turbilhão dos seus delitos. Mas também dispõe de uma panóplia de advogados do diabo que se ocupam sempre de lhe acolchoar o caminho da impunidade. São peritos sofistas e prestidigitadores jurídicos que emaranham a norma que sanciona, que enredam a vítima e ameaçam-na, que compram testemunhos falsos – e se alguém resiste ou não se vende, pode terminar envenenado com cianuro. O Promotor é da sua corrente política, tal como o Procurador. Também tem "amigos" no Conselho Nacional Eleitoral, em caso de necessidade. Os altos comando militares – que também são seleccionados pelo genocida inominável – baixam as bolinhas diante dele. E ele os defende e os cobre com o manto da impunidade quando são acusados por violação dos direitos humanos. Muitos deles, sobretudo os reformados, actuaram com ele como irmãos no crime. Rodeiam-no pecuaristas e latifundiários que roubam terra, assim como os ladrões do Agro Ingreso Seguro. Apoiam-no também grandes empresários que contribuem com dinheiro para as campanhas políticas, cevados nos contratos do Estado, os quais põem à sua disposição seus meios de comunicação. Roubou a saúde aos colombianos e privatizou em favor da grande empresa e de banqueiros insaciáveis todos os serviços públicos e os bens comuns.

Faz falta um grande acordo político nacional "para que se acabe a trapaça" ("pa' que se acabe la vaina"), como diz "La gota fría", a popular composição do Velho Mile; uma grande convergência de todas as forças democráticas do país, incluídos os militares com decoro, que sentem por dentro a dor da pátria. Comecemos a despertar as consciências, acendamos a chama da esperança de um novo governo justo, inclusivo e resolutamente definido pela paz completa. A chave está na unidade de todos os sonhos de pátria nova. Nela reside a potência transformadora, a força irresistível da mudança social e política.

Vamos, que um novo governo, mais humano e cheio de amor pelo seu povo, é possível.

[1] Política de corrupção caracterizada pela compra de votos.

  Ver também o livro Biografia no autorizada de Álvaro Uribe Velez, el Señor de las Sombras , de Joseph Contreras e Fernando Garavito

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