Pedro Ivo Carvalho |
Jornal de Notícias | opinião
A
Oposição opõe, o Governo governa. A Oposição fiscaliza, o Governo presta
contas. Quanto mais e melhor trabalhar a primeira, mais e melhor trabalhará o
segundo. E, no fim, em condições normais, ganhamos todos.
A
democracia pode ter muitos cadafalsos, mas há regras basilares que se impõem
com tamanha naturalidade que nem devíamos perder tempo com elas. Pois em
Portugal, onde a fauna política é dada a infindáveis particularidades, o maior
partido da Oposição acha que o primeiro-ministro passa tempo demais no
Parlamento em debates cujo modelo está ultrapassado (foi esse o argumento) e o
Governo, claro está, não só concorda como fez aprovar uma lei que autentica
esse reforço de opacidade. Resultado: a partir de setembro, António Costa deixa
de participar em debates de 15 em 15 dias e apenas será incomodado na
Assembleia da República por todos os deputados que não são do PS de dois em
dois meses. A fiscalização ao Governo no Parlamento vai ter dois modelos: um
debate sobre política geral com a presença obrigatória do primeiro-ministro; e
outro, sobre política setorial, em que o Governo se fará representar pelo
ministro da tutela, podendo o primeiro-ministro estar presente ou não.
Ao
fim de 13 anos de debates quinzenais com o chefe do Governo (formato lançado
por José Sócrates por proposta de Paulo Portas), teria sido aceitável
questionar o modelo em que eles acontecem, sobretudo num contexto de forte
mediatização e de imediatismo da mensagem. Mas uma coisa é discutir o formato,
outra, bem diferente, é matar o princípio da confrontação política. Se não
gostavam do modelo, mudavam-no. Assim, apenas empobrecem a pluralidade, dando
razão ao exército de portugueses que não se revê em nada e em ninguém. A democracia
fica mais pobre e o país mais desconfiado. O Bloco Central de interesses
aburguesou-se no desplante: agora é um Bloco Central de desinteresses.
*Diretor-adjunto
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