Paula Santos* | Plataforma | opinião
A
receita do capitalismo para os desmandos da banca é pôr o povo a pagar. Nos
vários processos de falências de bancos em Portugal, os prejuízos são
nacionalizados e os bancos limpos são entregues aos privados.
A
recente venda de património do Novo Banco a preço de saldo, quando há bem pouco
tempo o Estado tinha transferido 850 milhões de euros, revela mais uma vez que
são os trabalhadores e o povo a suportar a gestão danosa da banca.
O
Novo Banco terá vendido 13 mil imóveis avaliados em 631 milhões de euros pelo
valor de 364 milhões de euros, o que em qualquer parte do mundo seria um
péssimo negócio. O comprador foi um fundo, que ninguém sabe quem está por
detrás, com ligações às Ilhas Caimão. Mas a situação é ainda mais grave quando
tudo indica que poderá ter sido o próprio banco a emprestar o dinheiro para a
concretização da operação e que será o Fundo de Resolução a cobrir o prejuízo.
Poderemos estar perante um caso de polícia e de um crime económico contra o Estado.
"O Governo PS deixa evidente a sua natureza de classe. Quando estão em confronto os interesses do capital e dos trabalhadores, opta sempre pela salvaguarda do capital"
No
Projeto de Resolução n.º 471/XIV/1.ª, do PCP, que recomenda ao Governo a
reversão da alienação do Novo Banco, a sua transferência para a esfera pública
e o apoio especializado às micro, pequenas e médias empresas, de maio de 2020,
já denunciávamos o facto de o Governo entregar “a um banco mais 850 milhões de
euros para pagar vendas de imóveis e outros ativos ao desbarato (sem que se
conheçam os adquirentes, cuja relação direta ou indireta com partes associadas
à Lone Star ou a antigos acionistas do BES/GES não está posta de parte)”.
Não
é despiciente referir que esta transferência ocorreu no período de combate ao
surto epidémico, em que milhares de trabalhadores viram os seus salários cortados
por via do lay-off, muitos ficaram sem qualquer rendimento e muitos perderam o
posto de trabalho. Mais uma vez o Governo PS deixa evidente a sua natureza de
classe. Quando estão em confronto os interesses do capital e dos trabalhadores,
opta sempre pela salvaguarda do capital e dos grupos económicos em detrimento
da defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo.
Este
é mais um episódio que só vem dar razão à proposta do PCP de integração do Novo
Banco no sistema público bancário, que possa contribuir para o apoio às
famílias e ao aparelho produtivo, em particular às micro, pequenas e médias
empresas. No Projeto de Resolução supra identificado afirmámos: “Se é o Estado
quem paga as contas do Novo Banco, deve ser o Estado a controlar os seus
destinos”.
Quando
o Governo decidiu vender o Novo Banco à Lone Star ao desbarato, alertámos que isso
teria consequências lesivas do interesse público. Está agora demonstrada que a
privatização do Novo Banco foi um erro e que os custos podem ultrapassar os 10
mil milhões de euros ao erário público.
É
importante que se apurem os factos e as responsabilidades sobre tudo isto. Mas
a questão de fundo que está colocada e a única solução para a salvaguarda da
estabilidade do sistema financeiro e para a firmação do interesse nacional,
recuperando uma alavanca da economia é o controlo público do Novo Banco.
*Deputada do Partido Comunista Português (PCP) – Portugal
Sem comentários:
Enviar um comentário