O coordenador do PRA-JA, Abel
Chivukuvuku, diz à DW que ainda tem fé que o Tribunal Constitucional legalize o
seu projeto político. Já quanto às autárquicas, não acredita que se realizem
nem neste, nem no próximo ano.
Em entrevista exclusiva à DW
África, Abel Chivukuvuku começa por dizer que o PRA-JA fez uma coisa
"inédita" ao levar ao Tribunal Constitucional mais de 30 mil
assinaturas em detrimento das 7.500 exigidas por lei. Ainda assim, diz ele, a
Justiça "recusou legalizar" o seu projeto político. O tribunal alegou
problemas nas assinaturas. Mas Chivukuvuku tem esperança.
"Primeiro, tenho fé.
Segundo, temos o dever de lutar no nosso país para a implementação de
princípios democráticos, mesmo que isso não seja para o nosso proveito",
afirma. "Nós temos que ter também um papel didático, para ajudar os
dirigentes do MPLA a libertarem-se do passado deles de não democraticidade."
Abel Chivukuvuku não fala ainda
sobre um plano B, caso o Tribunal Constitucional volte a chumbar o projeto
político. Mas de uma coisa tem a certeza: "Em 2022, com PRA-JA ou sem
PRA-JA, vamos fazer parte da agenda política nacional."
Sobre as eleições autárquicas,
Abel Chivukuvuku não acredita que venham a acontecer nos próximos anos. O
político acha que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) "tem
medo das autarquias locais".
Entretanto, não comenta se será
candidato a Presidente da República em 2022. Diz apenas que todos do seu
projeto serão candidatos: "Preciso de desmistificar a ideia de que, em
tudo que eu faço, tenho de ser o número 1. Em tudo que eu faço, eu quero
contribuir, sendo número 1, 2, 3, 4 ou 5, isso é irrelevante."
Mas continua com o sonho de
querer ser Presidente angolano?
"Quem não sonha, morreu.
Quem não sonha, não tem vida. É um direito. No entanto, não é um imperativo. O
que significa que as circunstâncias de 2022 vão determinar", diz
Chivukuvuku à DW África.
Coligação da oposição?
Uma destas circunstâncias poderá
ser a criação de uma coligação dos partidos da oposição para fazer frente ao
MPLA, um debate que ele mesmo encorajou este mês no seio da política angolana.
"Talvez em Angola fosse
desejável encontrarmos um modelo em que todas as forças da oposição ou as
forças relevantes e patrióticas se juntassem para fazer uma espécie de união
dos povos de Angola contra o MPLA, e aí é irrelevante quem fica número 1. Posso
ser número três ou número cinco, é irrelevante."
Esta semana, a Frente Nacional de
Libertação de Angola (FNLA) saudou
a ideia de uma coligação, mas o maior partido da oposição, a União Nacional
para a Independência Total de Angola (UNITA), disse que ainda é cedo para
pensar nisso.
Quem financia o PRA-JA?
Em 2012, a poucos meses das
eleições gerais, Chivukuvuku fundou a Convergência Ampla de Salvação de Angola
- Coligação Eleitoral (CASA-CE), depois de deixar a UNITA. Mas viria
a ser destituído, em 2019, por alegada "quebra de confiança", e
criou a seguir o novo projeto político, o PRA-JA.
Será que Abel Chivukuvuku
voltaria a ser militante da UNITA caso o projeto político não seja legalizado?
Em resposta à DW África, o político foi perentório.
"Se essa fosse a opção, não
teria saído."
Muito se questiona sobre as
fontes de financiamento para a criação da CASA-CE e do PRA-JA. Já se especulou
que Chivukuvuku tenha recebido apoio financeiro da empresária Isabel dos
Santos. Mas o político nega.
"Se ela me desse apoio, até
gostaria. É cidadã angolana, qual é o problema?"
Também rejeita ter recebido apoio
financeiro da comunidade internacional, porque a lei dos partidos políticos
proíbe financiamentos do género, explica. "E nós cumprimos a lei. Agora,
não proíbe o apoio diplomático, humano, etc. Ontem mesmo almocei com a
embaixadora americana."
Afinal, de onde vem o
dinheiro?
"Ao longo da vida fomos
trabalhando e há credibilidade, os cidadãos acreditam e ajudam."
Alto desemprego jovem
A 26 de setembro, o Presidente
angolano, João Lourenço, completa três anos no poder. Chivukuvuku diz estar
preocupado com a Angola de hoje: "Aumentou o desemprego, particularmente
na classe jovem e, sobretudo, na classe jovem que estudou, o que é ainda mais
grave. E a expetativa de melhorias não é visível. Estamos mal."
Em relação à famosa "cruzada
contra a corrupção" do Presidente da República, Chivukuvuku diz que não é
possível resumir a problemática em poucas palavras. Mas entende que em Angola
não há "muita corrupção - nós temos é muito roubo".
O antigo responsável da CASA-CE
diz que tem contactos regulares com o Presidente João Lourenço. E aproveita
para felicitar o ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, por mais um
aniversário, esta sexta-feira (28.08).
Por fim, como é que Abel
Chivukuvuku gostaria de ser lembrado? "Como alguém que contribuiu,
alguém que foi útil, alguém que se colocou à disposição do país."
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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