D. Luiz Lisboa reage assim às
críticas feitas por "amigos do regime". As entrevistas do bispo
católico de Pemba sobre os ataques terroristas em Cabo Delgado terão
caído mal a muita gente adversa a críticas ao Governo.
O artigo que deu origem a esta
polémica é de autoria de Gustavo Mavie, jornalista e membro do Conselho
Nacional de Ética Pública. Ele escreveu recentemente um artigo em que
aponta o dedo acusador ao bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, pelas
denúncias que este faz das violações e outras irregularidades no âmbito da
guerra em Cabo
Delgado. A aparente hostilidade contra Fernando Lisboa
suscitou duras críticas da sociedade.
À DW África, o polémico
jornalista justificou o porquê do seu "ataque" ao bispo: "Eu
andei a citar o que ele diz na carta pastoral de 18 de julho de 2019. Esse
bispo, no lugar de apoiar e ajudar o Governo pensar melhor em
como resolver os problemas, está a bater na entidade errada. A mim não me
parece justo ele culpar o Governo que é liderado por uma pessoa que até é capaz
de conversar com o diabo." Segundo Mavie, ficou
provado que Filipe Nyusi é uma pessoa aberta para falar com
todos: "Ele procurou Dhlakama lá nas matas para pôr fim
à guerra, não seria nada difícil que ele falasse com o bispo. O Nyusi
iria recebê-lo muito bem, aquele senhor não tem problemas quanto a
isso."
"Sou contra maus padres e
não contra a Igreja Católica", foi o título do segundo artigo de Mavie,
uma reação à contestação geral. Note-se que destacados "fazedores de
opinião" nas redes sociais, comungando das palavras de Mavie, insinuaram
que o bispo estaria involuntariamente a "apoiar os insurgentes",
dando-lhes um protagonismo que eles não merecem.
D. Luiz Fernando Lisboa, em
entrevista à DW África, reage assim aos ataques contra a sua pessoa:
"Eu vejo-os com serenidade. Não é a primeira vez e não será a última e nem
sou o único atingido. Muitas pessoas são atacadas por falarem a verdade, por
trabalharem pela justiça, por defenderem os mais fracos."
Segundo refere ainda o bispo de
Pemba "as pessoas têm uma visão equivocada em relação ao trabalho da
igreja" e, adianta: "Há pessoas que pensam que os religiosos só
devem ficar dentro da igreja a rezar. Nós trabalhamos com as pessoas, estamos
ao lado das pessoas e sobretudo das que mais sofrem. Esse foi o exemplo que
Jesus deu e nós não podemos fazer diferente." Mavie não é o único
crítico de D. Luiz Fernando Lisboa: para além de Gustavo Mavie surgiram outros "intelectuais"
que lançam duras críticas ao bispo e Pemba.
Académico Elísio Macamo:
"Sinal de uma cultura politica problemática"
Estamos perante um caso de
desonestidade intelectual? O académico Elísio Macamo, ouvido pela DW, entende
que os críticos do bispo, mais que outra coisa, evidenciam intolerância:
"Quanto a mim, trata-se de uma manifestação de uma cultura política muito
problemática que existe no nosso país. Uma atitude muito hostil à crítica,
à interpelação crítica da governação. O que o bispo tem dito devia merecer
outro tipo de resposta da parte de quem se acha próximo do Governo e também do
próprio Governo. O que o bispo diz é que as Forças de Defesa de Moçambique
estão a faltar com o seu dever. Agora, se ele tem ou não razão, isso por
enquanto não importa."
Ainda no entender do académico, o
texto em causa mostra o espirito de que não há espaço para crítica em
Moçambique: "O problema é o entendimento que se tem de democracia e de
cidadania. Ser cidadão significa estar comprometido com o país e isso significa
estar sempre interessado em interpelar o que os governantes fazem. Então,
quando alguém pede ao Governo para justificar os seus atos não está a
perder o respeito para com o Governo, está a exercer a cidadania. Quem
critica o Governo está a valorizar a importância do cargo do Presidente, porque
está a manifestar a sua cidadania."
D. Luiz Fernando Lisboa:
"Vou continuar"
A DW perguntou ao bispo de
Pemba se acha que as duras palavras contra si podem ser vistas como uma
tentativa de silenciar as denúncias das coisas que vão mal em Cabo Delgado. D. Luiz
Fernando Lisboa respondeu: "Pode ser, creio que seja esse o objetivo.
Mas ninguém vai silenciar a igreja, ninguém. E tomara que essas pessoas
percebam que quanto mais fizerem isso, mais vão ser ridicularizadas,
porque aqueles que entendem a missão e o trabalho da igreja vão reagir, mesmo
que eu não reaja, e eu não vou reagir, vou continuar. Ninguém vai calar a
igreja".
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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