Sindicato dos Jornalistas
Angolanos critica Governo por não apoiar imprensa privada como manda a lei do
setor. E para o jornalista Ilídio Manuel "nota-se logo que não há uma
vontade".
O Sindicato dos Jornalistas
Angolanos (SJA) tornou público, na semana passada, que "os esforços por si
realizados em conjunto com os diretores dos órgãos de informação privados, no
sentido de se conseguir um apoio, acabou inglório”.
À DW África, Teixeira Cândido,
secretário-geral do SJA, diz que o Estado mostrou-se indisponível em apoiar a
imprensa privada. O sindicalista lamenta a posição tomada pelo Governo que, a
seu ver, coloca estes órgãos numa "situação de incerteza.”
"Porque esta situação poderá
colocar, de certo modo, as empresas expostas. Muitas empresas não têm condições
de continuar a funcionar. É uma situação de incerteza completa. Entendemos que
o Estado tinha a possibilidade de encontrar outras vias porque o que se
solicitou não foi necessariamente dinheiro”, justifica.
O que se solicitou, segundo
Teixeira Cândido, foi a intermediação do Estado para concessão de créditos que
seriam pagos com juros bonificados e a canalização de publicidade institucional
à imprensa privada, entre outras propostas.
"Consistia exatamente, por
exemplo, o Estado orientar as grandes empresas àquelas públicas que publicitam,
a canalizar eventualmente 70% da publicidade para imprensa privada e 30% para
imprensa pública”, conta.
"Como outras, os próprios
departamentos ministeriais que têm publicidade, têm campanha sobre este ou
aquele evento, podiam canalizar 70% para imprensa privada. E um conjunto de
medidas que poderiam muito bem serem tomadas para acudir a imprensa privada”,
conclui o secretário-geral do SJA.
Imprensa privada a morrer
A DW África tentou sem sucesso
ouvir o Governo. O apoio a imprensa privada consta na lei de imprensa há quase
trinta anos, mas nunca foi implementado. O analista e jornalista angolano
Ilídio Manuel encontra uma única razão para isso:
"Nota-se logo que não há uma
vontade. Há uma tendência de se querer matar a imprensa privada”,
interpreta.
O Novo Jornal é um dos
poucos semanários ainda em
circulação. Fora de circulação já andam os jornais privados
Visão, Manchete, entre outros. Por outro lado, a rádio UNIA, afeta à
Universidade Independente de Angolana, anunciou este mês o encerramento das
suas emissões por falta de capacidade financeira.
Vozes críticas abafadas?
Ilídio Manuel lembra que, num
passado recente, muitos jornais críticos ao Governo como, por exemplo, o
Semanário Angolense e o Agora, foram comprados por pessoas próximas ao poder
político.
"Nós já temos episódios de
um passado triste em que os órgãos de comunicação social privados com um pendor
bastante crítico acabaram por ser comprados e depois foram praticamente
aniquilados.”
A passagem do grupo Media Nova -
detentor do jornal O País, TV Zimbo e Rádio Mais - para a esfera jurídica
do Estado e o eminente confisco da TV Palanca e Rádio Global, poderão
empobrecer ainda mais o setor privado da comunicação social nos próximos
tempos.
Ilídio Manuel lembra também que
uma imprensa livre e plural contribui para o processo democrático
angolano.
"Não se tem ainda aquela
ideia de que a imprensa é um parceiro importante na democratização do país.”
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle
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