O Democrata (gb) | editorial
A Comunidade Económica de Estados
da África Ocidental (CEDEAO) está a enfrentar a maior “turbulência”
desde a sua criação em 1975.
A fama de ter sido descrita como
um modelo de organização regional pela eficácia da sua liderança está hoje
muito ameaçada pelos ventos de contestações multiformes provenientes de
diferentes países membros.
A crise política no Mali e
críticas internas contra a mediação hesitante dos Chefes
de Estado é sinal evidente da fragilidade do bloco
regional na formulação de uma proposta coerente e transparente para uma solução
durável no Mali. Um olhar atento ao desenrolar da complexa situação política,
social e securitária na vasta República de Mali deixa transparecer a
incapacidade da CEDEAO em propor uma solução.
A plataforma da oposição que
exige a demissão do Presidente Ibrahim Boubacar Keita já denunciou a
parcialidade da mediação regional que publicamente defendeu a continuidade de
Keita na Presidência e a demissão de parte dos deputados, todos
eleitos pelo povo maliano. Mais um impasse, mais um fracasso em
vista, depois de vários outros, nomeadamente na Guiné Conacri,
Guiné-Bissau e no Togo. Nesses países, a CEDEAO vacila entre o real
político e o diplomaticamente correto. Dependendo de peso de cada regime e
relações de protagonistas em crise, a organização regional tenta aplicar um de
dois princípios.
No meio de tudo, a CEDEAO
perde terreno e adiciona fracassos na sua conhecida e respeitada
trajetória de defesa da legalidade democratica
e resolução de conflitos nos Estados membros.
Na crise
política da Guiné Conacri, a Comissão da CEDEAO
tem adotado uma atitude de demissão total, limitando-se ao
serviço mínimo por via de comunicados vazios.
Na crise pôs eleitoral na
Guiné-Bissau, a CEDEAO ganhou o prémio de incoerências por somar
posicionamentos contraditórios raros numa mediação política na qual se envolveu
desde 2012. O seu longo silêncio revela uma promiscuidade latente.
No Togo, as relações de força a
favor do regime de Faure Gnassingbé minimizaram o fracasso da intervenção
regional naquele país. Mas as sementes da crise togolesa permanecem
vivas.
Outro desafio de ferro no
caminho da CEDEAO é, sem dúvida, a Côté d’Ivoire (Guiné Equatorial).
Os rastos do sangrento conflito
político militar que durou quase uma década (2002-2011) estão ainda
presentes na memória de cada cidadão ivoarense. O
“volte-face” de Alassane Adramane Ouattara en disputar um terceiro
mandato numa prova contra o seu aliado octogenário de ontem,
Henry Konam Bédié, augura um futuro sombrio naquele país ainda em
estado de convalescença. Com o afastamento de Laurent Bagbo e
Guillaume Soro da corrida presidencial, a tensão politica está em alta e o
pleito de outubro próximo será de alto risco. O futuro deste gigante da UEMOA
dependerá, em larga escala, dacapacidade da Comissão
Eleitoral de assegurar a transparência. Um desafio quase
impossível, quando se olha para a natureza politiquente do governo
liderado por Ahmed Bakayoko, inimigo jurado de Soro, atualmente em exílio
forçado.
Em diferentes cantos da região,
os desafios da estabilização política, o terrorismo e as rivalidades de
carácter comunitarista são palpáveis e colocam a CEDEAO na prova de uma equação
complexa. A persistência de crises multidimensionais insolúveispode
precipitar o declínio da organização com estruturas pedintes de reforma
profunda.
Ou se reforma, ou a mudança virá
de povos da comunidade cada vez mais exigentes e ríspidos.
Finalmente, paira uma incógnita:
governança transparente na CEDEAO alicerçada em respeito dos seus princípios
cardinais para impulsionar a democratização nos Estados membros ou o inverso,
os ventos de democratização africanizada que permitiria a reedificação da
CEDEAO com tentáculos mais robustos?
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