#Escrito e publicado em português
do Brasil
Ela não chegou à decisiva fase 3
de testes. Não está disponível documentação sobre provas anteriores. Aplicá-la
colocaria em risco as populações. Mas que teria levado Putin, conhecido pelo
cálculo estratégico refinado, a anunciá-la com alarde?
Maíra Mathias e Raquel Torres | Outras Palavras
APROVAÇÃO-RELÂMPAGO
O presidente da Rússia Vladimir
Putin surpreendeu os desavisados afirmando, ontem, que o país se tornou o primeiro no mundo a regulamentar o uso de
uma vacina contra a covid-19: a Sputnik V, nomeada numa óbvia
referência à corrida espacial da Guerra Fria. O movimento vinha sendo anunciado
nas últimas semanas, como comentamos por aqui. No início do mês, o ministro da
Saúde anunciou que uma vacina produzida no país seria aplicada em massa a partir de outubro e, na
semana passada, o vice-ministro adiantou que o registro do produto seria concedido hoje.
Acabou acontecendo um dia antes.
O grande problema é que a
vacina, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Epidemiologia e
Microbiologia (e fabricada pela Binnopharm), não passou por todas as fases de testes que são
necessárias para mostrar que ela funciona – o que já havia rendido um alerta da Organização Mundial da
Saúde (OMS) a Moscou na semana passada.
Não custa lembrar como funcionam os
testes em seres humanos. Na fase 1
a vacina é administrada a um punhado de pessoas para ver
se não há nenhum efeito adverso realmente grave. Na fase 2, dezenas ou centenas
de pessoas recebem a vacina e o objetivo é continuar observando os efeitos
colaterais, ao mesmo tempo em que se verifica a resposta do sistema imunológico
e se estabelece a dosagem e a forma de administração, que vão ser usadas na
fase seguinte. A fase 3, a
mais importante, envolve milhares de pessoas e é nela que os pesquisadores
checam se a resposta do organismo observada antes significa realmente
imunidade: grupos recebem vacina ou placebo e são liberados no ‘mundo real’;
tempos depois, verifica-se quantas pessoas ficaram doentes no grupo que tomou a
vacina e no que recebeu placebo, e só assim dá para comparar e ver se o
imunizante funciona. Como nessa etapa há muito mais gente envolvida, também é
importante ver outros efeitos colaterais que podem não ser comuns o suficiente
para aparecer nas fases 1 e 2 (mas que talvez sejam problemáticos quando a
vacina é aprovada e administrada a milhões de pessoas). Mesmo depois da fase 3, a prova de fogo é a
distribuição em massa, já com o produto no mercado. Deve-se continuar o
monitoramento dos efeitos colaterais, porque não é impossível aparecer algo que
requeira ajustes.
E em que pé está a vacina
anunciada ontem? Ela começou a ser testada em humanos em meados de junho e,
segundo o Instituto Gamaleya, foram concluídas as fases 1 e 2. Falta,
portanto, terminar justo a fase que mostra se de fato a vacina é eficaz. Essa é
uma ressalva que temos feito ao falar de todas as boas notícias sobre
imunizantes: até agora ninguém concluiu a fase 3, e nela as vacinas sempre
podem falhar.
Mas, no caso da vacina
recém-aprovada, nem os resultados dos ensaios já realizados estão
disponíveis: eles não foram publicados em lugar nenhum. Ou seja, não conhecemos nem mesmo os dados das fases 1 e 2. No
site Clinicaltrials.gov – repositório de ensaios clínicos do mundo todo –
há registros dos dois ensaios (aqui e aqui) indicando que a vacina do Instituto Gamaleya foi
administrada a (apenas) 76 voluntários no total, mas sem os resultados. O certificado de registro russo também não tem muitas
informações. Ontem o instituto colocou no ar um site dedicado à vacina, mas ele tampouco traz detalhes:
diz que ela induziu anticorpos e resposta imune celular e que depois nenhum
participante foi infectado pelo coronavírus. Temos as declarações de
Putin, que afirmou que o imunizante foi aplicado em uma de suas filhas e que “passou em
todos os testes necessários”… Mas não há artigos nem comunicados que
descrevam os ensaios.
“É ridículo conseguir autorização
com esses dados”, diz Svetlana Zavidova, chefe da Associação de
Organizações de Ensaios Clínicos da Rússia, na Nature. A entidade enviou ontem um apelo ao Ministério da
Saúde para adiar o registro até que os ensaios de eficácia sejam concluídos. “O
registro acelerado não tornará a Rússia um líder nesta corrida, apenas exporá
os usuários finais da vacina, cidadãos do país da Federação Russa, a perigos
desnecessários”, diz o documento.
Para completar, não se sabe
muito sobre a fase 3, que, segundo o site da vacina, começa hoje “na Rússia, em vários países do Oriente Médio
(Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita) e países da América Latina (Brasil e
México)” – o que, como veremos adinate, não é verdade, pelo menos no
caso brasileiro.
Na Rússia, a aprovação
permite que a vacina seja administrada a “um pequeno número de cidadãos de
grupos vulneráveis”, incluindo idosos e profissionais de saúde. Mas seu uso
amplo depende de que sejam concluídos os testes de fase 3 em cerca de dois mil
voluntários. O que também é pouco.
RÁPIDO, MAS NEM TANTO
Diante da falta de informações, é
claro que o anúncio gerou desconfiança na comunidade científica. A OMS evitou
se posicionar. Está em contato com autoridades russas para obter e checar os dados,
segundo o diretor-assistente da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde),
Jarbas Barbosa. “A princípio, o produtor da vacina tem que realizar ensaios
clínicos de fase 1, 2 e 3. Isso é padrão no mundo todo. Não se pode utilizar
uma vacina ou medicamento sem que essas etapas todas estejam cumpridas”,
afirmou ele.
Os riscos de se acelerar demais
o processo de aprovação de uma vacina são vários, como enumera a matéria do
site The Verge. Se acontecerem efeitos colaterais graves, pessoas podem
ser seriamente prejudicadas. Se não houver eficácia, pessoas em falsa sensação
de segurança vão pegar covid-19 e piorar a pandemia. E, se qualquer dessas
coisas acontecer, vai ser um prato cheio para o movimento antivacina – e as
consequências disso para o futuro da saúde pública são imensuráveis.
E O BRASIL?
O Ministério da Saúde e a Fiocruz
conversaram com representantes do Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF)
no dia 4 de agosto. Na pauta, a vacina. Os técnicos da pasta e da Fundação
queriam saber mais sobre o imunizante e também sondaram as estimativas de preço
para sua fabricação. Não saíram convencidos do encontro virtual. Ao Estadão,
um integrante do Ministério que tem participado de reuniões com outras empresas
para negociar a produção de vacinas confirmou que há desconfiança sobre o imunizante russo.
Na mesma direção, O Globo apurou
que, entre os brasileiros, ficou a impressão de que a pesquisa tem sido conduzida
“de forma açodada”. “Eles estranharam, por exemplo, os
prazos citados para o desenvolvimento de determinadas etapas do estudo.
Procedimentos que durariam de dois a seis meses, como etapas da pesquisa
clínica, foram descritos como tendo sido concluídos em 20 dias, relatou um
integrante da pasta. O número de voluntários também não ficou bem esclarecido”,
conta a repórter Renata Mariz.
O governo brasileiro deixou
a porta aberta para o diálogo, mas quer acesso aos estudos que sustentam
a segurança e a eficácia da tecnologia. Uma nova rodada de conversas deve acontecer nesta ou na próxima semana. Desta vez,
diplomatas da Rússia integrarão a comitiva.
Mas, segundo a Folha, há
receio de que os estados fechem acordos com o governo russo antes que todas as dúvidas sobre a candidata a vacina sejam
esclarecidas. Em 30 de julho, o governador da Bahia Rui Costa (PT) e o
secretário de saúde Fábio Vilas-Boas tiveram reunião virtual com o embaixador
da Rússia para conversar sobre uma possível parceria para os testes e a
produção do imunizante que poderia envolver outros estados nordestinos. A
região se organiza em consórcio desde o ano passado, e o estopim foi outro
problema de saúde: a falta de médicos.
Já o governo do Paraná anunciou
ontem que decidiu fechar um acordo com a Rússia. As tratativas acontecem desde
julho e o termo de cooperação deve ser assinado hoje, em uma reunião entre o governador
Ratinho Junior (PSD) e o embaixador Sergey Akopov. O executivo e o legislativo
estaduais reservaram R$ 200 milhões para a aquisição das doses.
A parceria prevê que o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) seja um dos
polos de produção e distribuição da vacina para toda a América Latina. O
convênio também prevê a realização da fase 3 dos testes clínicos por aqui. Mas
há um porém importantíssimo: os órgãos reguladores brasileiros precisam dar o
sinal verde para que tudo isso saia do papel.
Quem autoriza os testes é a
Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, mais conhecida pela sigla Conep –
atribuição que também cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
que é responsável ainda por registrar o produto. Ontem, a Anvisa informou que não foi procurada pelo fabricante russo. O órgão exigirá acesso aos estudos oficiais. E já adiantou que não
pode prever quanto tempo levará para analisar o pedido, quando ele chegar. Mas
as solicitações de estudos clínicos para outras candidatas a vacina e
medicamentos têm sido avaliadas bem rápido – num prazo de 72 horas segundo a
agência –, graças a novas regras aprovadas durante a pandemia.
CORONAVAC
O governador de São Paulo João
Doria (PSDB) informou ontem que o Instituto Butantan também foi procurado pelos russos, mas respondeu que não
houve interesse uma vez que já existe uma parceria firmada com o laboratório
chinês Sinovac. “O instituto já está totalmente empenhado na pesquisa da
CoronaVac” reforçou o governo, em nota. “Por isso, não faria sentido participar
de uma outra pesquisa com o mesmo objetivo e dividir seus esforços“, continua o texto.
Na segunda-feira, a Sinovac disponibilizou os resultados dos ensaios clínicos da
fase 2 da sua candidata (mas ainda não houve revisão de pares). Entre 29 de
abril e 5 de maio, 600 pessoas na China com idades entre 18 e 59 anos receberam
doses da CoronaVac ou placebo. De acordo com o preprint, a tecnologia produziu
anticorpos suficientes contra o vírus e se comprovou segura, com as reações
adversas se resumindo à dor no local da injeção.
Por aqui, o Butantan iniciou
testes da fase 3 da vacina em 21 de julho. Já estão em marcha em dez dos 12 centros de pesquisa selecionados. Os estudos
só não começaram no Hospital Albert Einstein e no Instituto Nacional de
Infectologia Evandro Chagas, unidade da Fiocruz localizada no Rio de Janeiro.
Mas até outubro, todos os nove mil voluntários devem receber as doses da vacina
ou do placebo no Brasil.
Ontem, o presidente do
instituto voltou a dizer que “é factível” que São Paulo comece a vacinar em
janeiro. “Tem muita gente dizendo que é otimismo demais. Isso pode ser
relacionado a outras vacinas, não a essa”, afirmou Dimas Covas à Folha. E
o governo do estado está preparando a compra de dez milhões de seringas para dar conta desses
planos.
Só que a Piauí mostra que
alguma coisa não bate nesse calendário, já que o próprio Butantan prevê
examinar o último participante da fase 3 em… outubro de 2021. “É a mesma data prevista pela
AstraZeneca e a Universidade de Oxford para terminarem os testes de sua vacina
no Brasil. O terceiro laboratório que testa a sua droga no Brasil, a Pfizer,
prevê completar o estudo em novembro de 2022” , lista a repórter Camille Lichotti,
mostrando que entre o otimismo vendido à população por governantes e
autoridades e os dados concretos há uma distância considerável.
Acompanhar os testes até o fim é uma das exigências para demonstrar a
eficácia das candidatas. E todas elas já estão reduzindo os prazos normais da
fase 3 em anos.
SOBE E DESCE
Ações de empresas que se
beneficiarão com a reabertura da economia, como companhias aéreas e redes de
varejo, saltaram após o anúncio noturno de Putin. Já as companhias que estão
ganhando muito dinheiro com o confinamento – Amazon, Apple e Netflix, por
exemplo – caíram entre 1% e 2%. No mundo, as bolsas não responderam de forma unívoca ao anúncio. Houve pregões
fechando em baixa na China e nos Estados Unidos, mas isso provavelmente tem
relação com a disputa entre os dois países.
MISTÉRIO NA ÁFRICA
A entrada do novo coronavírus no
continente africano era uma preocupação desde que apareceram os primeiros casos
fora da China. Em abril, a OMS alertava que o continente poderia em breve se tornar o próximo epicentro da
crise, e que até 300 mil pessoas poderiam morrer. Hoje, o vírus já se espalhou
consideravalmente por vários países e a África como um todo chegou a um milhão
de casos. Há vários problemas, especialmente onde há menos acesso a serviços de
saúde. A falta de oxigênio, por exemplo, tem sido uma barreira em
vários hospitais, e gera mortes que seriam totalmente evitáveis.
Mesmo assim, os números não
são tão ruins quanto os inicialmente esperados. No site da Science, a
repórter Linda Nordling tenta entender o porquê. É verdade que a
baixa capacidade de testagem em vários países sugere uma imensa subnotificação.
Estudos reduzidos baseados em testes com anticorpos mostram taxas de
prevalência bastante altas em alguns lugares do Quênia, Malawi e Moçambique,
por exemplo, onde, ao contrário do que dizem os números oficiais, 10% ou mais
da população teriam sido infectados. Mas o que intriga mesmo é a a baixa
mortalidade. Houve até agora 20 mil mortes (uma taxa de 2%) em todo o
continente. Bom, a baixa testagem também pode ajudar a explicá-la: pode ser que
estejam morrendo muitas pessoas sem diagnóstico. Só que, nesse caso, seria
esperado um aumento geral da mortalidade por todas as causas. E isso não parece estar acontecendo.
Hipóteses: o fato de as
populações serem jovens pode estar deixando-as protegidas (não do vírus, mas do
agravamento e das mortes); a exposição de africanos a outros coronavírus pode
ter fornecido defesas; a exposição regular a outras doenças infecciosas, como
malária, poderia ter preparado de alguma forma o sistema imunológico contra o
SARS-CoV-2. Ainda não dá para concluir nada. Mas pesquisas mais abrangentes com
anticorpos estão em curso ou vão começar em breve em vários países do
continente, e espera-se que possam ajudar a entender melhor o quadro geral.
CUIDADO COM JOVENS
A diretora da Opas, Carissa
Etienne, alertou ontem para o alto nível de infecções de adolescentes em países
da América Latina e no Caribe: em julho, foram mais de 200 mil registros na
região, e cerca de 200 mortes. Por esses dados, o que preocupa é menos a
mortalidade (ainda extremamente baixa) e mais a capacidade desses milhares de jovens de replicar o vírus.
Afinal, as evidências indicam que adolescentes transmitem tanto quanto
adultos.
Em relação ao agravamento da
doença nessa faixa etária, cresce a atenção com os possíveis efeitos da obesidade. Segundo a BBC,
vários estudos demonstram que os riscos isolados da obesidade para a piora dos
quadros são maiores em pessoas com menos de 50 ou 60 anos. Isso pode ser um dos
fatores que levaram os Estados Unidos a taxas de mortalidade significativa
entre pessoas mais jovens.
OUTRAS PREOCUPAÇÕES
A pandemia está sobrecarregando
os sistemas de saúde de várias formas. Uma delas é a falta de pernas para
diagnosticar outras doenças. Ontem, Carissa Etienne chamou atenção para uma
inconsistência nos números da dengue. Nos dois primeiros meses de 2020, os
casos da arbovirose aumentaram 139% na América Latina, em comparação com o
mesmo período do ano passado. “No entanto, desde que a covid atingiu nossa região em março, os
casos notificados de dengue diminuíram”.
Também é o caso da malária, com
redução de mais de 40% nos casos – um número que não expressa a realidade, ou
“não conta a história completa”, como caracterizou Etienne.
E falando em malária, a
atriz Camila Pitanga e sua filha receberam o diagnóstico da doença. Se trataram no Sistema Único. “Uma vez que a suspeita era
malária (…) não há melhor lugar para você ser tratado do que a rede SUS, local
de referência e excelência para doenças endêmicas”, relatou nas redes sociais.
E completou: “É de suma importância valorizar a existência desse sistema de
saúde que cuida de tanta gente, principalmente dos que não tem condições de
pagar um plano de saúde. Estamos num país onde uma doença matou mais de cem mil
pessoas em poucos meses. Esse número poderia ser o triplo ou mais se não fosse
o SUS.”
QUATRO CASOS: LOCKDOWN
Após mais de cem dias livre do
coronavírus, a Nova Zelândia registrou quatro infecções em uma
mesma família. E restaurou a quarentena em Auckland, cidade mais populosa
do país, com 1,7 milhão de habitantes. Fora os trabalhadores essenciais, todo
mundo vai precisar trabalhar de casa; locais públicos, bares, restaurantes
e outros serviços serão fechados por pelo menos três dias. Enquanto isso,
o rastreamento de contatos está em andamento, para ver quem mais a família
pode ter contaminado. No resto do país, haverá outras restrições mais leves,
como a proibição de aglomerações com mais de cem pessoas. O fechamento pontual
imediato não significa que as autoridades do país estejam em desespero, mas,
pelo contrário, que sabem o que fazer. “Tivemos 102 dias e era fácil pensar que
a Nova Zelândia estava fora de perigo. Nenhum país chegou tão longe quanto
nós sem uma recaída. E porque nós fomos os únicos, tínhamos que ter um plano. E
temos“, disse a primeira-ministra Jacinda Ardern.
TRÊS CRÍTICAS BEM DIFERENTES
O ranking elaborado pela
Secretaria de Governo para dar munição a parlamentares aliados contra gestores
locais, principalmente adversários do presidente no campo político, mereceu uma
nota de repúdio da Frente Nacional de Prefeitos. Para a entidade, o governo
Bolsonaro promove mais uma vez “confronto federativo” com o objetivo de
“imputar responsabilidades” e “apontar culpados”. O texto bate mais. Segundo a
Frente, desde o início da pandemia, “o governo federal tem se esquivado das responsabilidades“,
além de atrapalhar “medidas implementadas por prefeitos e governadores para
salvar vidas”.
E depois de Gilmar Mendes, foi
a vez de Cármen Lúcia criticar o governo. Mas ao contrário do colega de toga, a
ministra do Supremo adotou um tom velado. “Cem mil mortos é uma tragédia. Cem
mil mortos não precisava ter acontecido, em que pese ser fato que este
coronavírus é realmente uma doença grave e que acometeria muita gente. Mas foi
uma atuação estatal, aliada a uma atuação em parte de uma sociedade perplexa,
aturdida diante de tantos desmandos, de tanta falta de orientação segura seguindo-se a ciência e a
medicina de evidências, que nos levou a um fim de semana de luto. Portanto,
luto que impõe luta permanente pela democracia”, disse em um seminário
virtual.
Enquanto isso… O filho 03 do
presidente divulgou uma das teses preferidas do bolsonarismo – e não em
qualquer lugar, mas num evento promovido pelo Itamaraty. De acordo com o
deputado federal Eduardo Bolsonaro, a pandemia “é o laboratório perfeito para
globalistas”. “Tem gente que fica falando que ‘ah, Eduardo, isso é teoria da
conspiração, não existe globalismo’. Mas nos vimos, mesmo aqui dentro do
Brasil, órgãos e tribunais preterindo o Ministério da Saúde e as secretarias
estaduais de Saúde com bases em argumentos da OMS. Ou seja, colocou a OMS acima
dos órgãos nacionais”, disse. Tem mais: segundo ele, a Organização Mundial da
Saúde “não sabe com o que está lidando”. A reportagem do Globo destaca
que intervenções como essa se tornaram comuns na gestão de Ernesto Araújo, com
palestras de ‘ilustres’ blogueiros e militantes pró-governo no lugar de
especialistas e diplomatas.
O PRINCIPAL NÃO É O FOCO
O Tribunal de Contas da União
(TCU) concluiu que dos R$ 286,5 bilhões já gastos pelo governo federal na
pandemia, apenas R$ 22 bilhões foram dirigidos a ações de combate direto à
covid. Isso dá menos de 8% do total, quando até no Irã o
percentual é melhor, de 13%.
Ontem foram registrados mais 1.242
óbitos e 56.081 casos de covid-19, levando o total a 103.099 mortes e 3.1112.393 de infecções conhecidas. A
média dos últimos sete dias diminuiu: ficou em mil (estava acima disso havia semanas).
BAIXAS NA EQUIPE ECONÔMICA
Ontem, os secretários de
Desestatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Paulo Uebel, pediram demissão. Com isso, já são oito baixas na equipe econômica. O motivo de Uebel
foram os breques de Bolsonaro, que vem retardando o envio da reforma
administrativa ao Congresso. Já Mattar, que é dono da empresa de aluguel de
veículos Localiza, colocou o ônus no “establishment”. Em entrevista à CNN Brasil, ele
reclamou que não há “vontade política” para avançar nas privatizações.
Cada vez mais sozinho no seu
liberalismo radical, Paulo Guedes mirou em colegas de Esplanada para dizer que
aqueles que aconselham o presidente a burlar a regra do teto de gastos estão empurrando Bolsonaro para “uma zona de impeachment”.
Pedidos de afastamento por outras razões, inclusive pela condução do chefe do
Executivo da pandemia, é o que não faltam. Não se admira que a declaração do
ministro da Economia tenha sido dada ao lado do dono da gaveta em que estão
todos esses processos: Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A propósito: hoje chega mais
um. Assinado pela Coalizão Negra por Direitos, o pedido de impeachment de
Bolsonaro argumenta que o governo federal tem agido contra a saúde pública durante a pandemia. Para a
entidade, que reúne 150 organizações e coletivos do movimento negro, faltaram
medidas de apoio a populações vulneráveis e houve erros nas negativas de pedido
do auxílio emergencial a pessoas pobres.
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Esta é a edição do dia 12 de agosto da nossa newsletter diária: um resumo interpretado das principais notícias sobre saúde do dia. Para recebê-la toda manhã em seu e-mail, é só clicar aqui.
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