Fogo no semanário Canal de
Moçambique teria começado durante a partida final da Champions League entre
Bayern de Munique e Paris Saint-Germain. Jornalistas e ativistas acompanharam o
trabalho dos bombeiros.
Um incêndio atingiu a redação do
semanário Canal de Moçambique na avenida Maguiguana, em Maputo, na noite deste
domingo (24.08). O fogo teria começado durante a partida entre Bayern de
Munique e Paris Sait-Germain pela Final da Champions League.
A redação do jornal está
inutilizada. O fogo destruiu equipamentos de informática (computadores,
impressoras e monitores), matéria de escritório, arquivos do jornal e vários
móveis. Equipas do corpo de bombeiros trabalharam durante a madrugada junto com
os responsáveis do jornal para apagar o incêndio e avaliar os estragos.
O coordenador do Centro de
Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, passou parte da madrugada
no local e classificou o incidente como "uma barbaridade”.
"Quando chegamos lá, aquilo
parecia uma bomba de combustível que explodiu. Estava a cheirar combustível.
Eles colocaram dois bidões de combustível, espalharam combustível e atearam
fogo de longe. Fomos a esquadra buscar a polícia", relata Nuvunga.
Revolta e desabafos
Um sentimento de revolta tomou
conta das redes sociais do jornal moçambicano. Fotos do que restou das
instalações do jornal foram publicadas. O diretor Fernando Veloso também se
manifestou via Facebook, falando em "bombas artesanais”.
Em comunicado à imprensa, os
integrantes do CDD, que estiveram no local, dizem que a redação do jornal
"mais crítico ao Governo da Frelimo foi reduzida a cinzas".
A ONG lembra que o incêndio
ocorreu quatro dias após o semanário publicar uma reportagem sobre alegado
"tráfico de influência" e disputas da "elite política
moçambicana pelo controle do negócio de marcação de combustíveis, estimado em
2,5 mil milhões de meticais [30 milhões de euros]".
O texto ressalta que o Ministério
dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) foi forçado a suspender o concurso que
vencido por um consórcio. A anulação ocorreu depois da reclamação de duas
empresas interessadas.
Na mesma nota, o CDD condena
fortemente o que chama de "ataque às instalações do Canalmoz e Canal de
Moçambique" e expressou solidariedade com os proprietários e trabalhadores
das publicações. "Este ataque representa um grave golpe contra a liberdade
de imprensa, um dos fundamentos básicos da democracia. Por esta razão, o CDD
exige investigações sérias e profundas deste ataque contra a democracia",
diz a nota.
Jornalistas
do Canal de Moçambique foram à barra da justiça há algumas semanas
depois de noticiarem um alegado acordo entre Estado e multinacionais para
proteger trabalhadores dos ataques em Cabo Delgado. Com o título "O negócio
da guerra em Cabo Delgado ",
o jornal estampou o suposto contrato entre empresas e dois ministérios.
Em
dezembro de 2019, um homens tentaram raptar o editor do semanário, Matias
Guente, no bairro do Alto Maé. O grupo, que se fazia transportar
numa viatura de marca Toyota Corola, estava armado e trazia também tacos de
beisebol e de golfe, e teria seguido Matias Guente por algum tempo, tendo
posteriormente tentado obrigar o jornalista a entrar no seu veículo. Na
ocasião, Guente resistiu, foi agredido, mas conseguiu fugir.
Marcio Pessoa | Deutsche Welle
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