Líder militar dos EUA identifica evidências do Estado Islâmico nos ataques no norte de Moçambique. Defende ação da comunidade internacional, mas esclarece que apoio militar dos EUA é "solução de último recurso".
O
chefe do comando norte-americano de Operações Especiais em África, sedeado na
cidade alemã de Estugarda, disse esta terça-feira (04.08) que os ataques no
norte de Moçambique têm "impressão digital do Estado Islâmico",
manifestando preocupação com o acelerar da ameaça terrorista na região:
"Estamos
preocupados. Acreditamos que há um problema local que está a ser aproveitado
pelo Estado Islâmico. Nos últimos
As preocupações do major-general Dagvin Anderson foram proferidas durante uma conferência de imprensa sobre os esforços dos Estados Unidos no combate ao terrorismo em África durante a pandemia da Covid-19.
Sinais
do Estado Islâmico
Dagvin
Anderson apontou o facto de o próprio Estado Islâmico ter reivindicado essa
ligação, mas considerou, sobretudo, determinantes os sinais da organização
terrorista nas comunicações.
"Vimos
publicações e comunicações nos Média muito bem feitas e que têm a impressão
digital e todas as marcas do Estado Islâmico. Por isso, acreditamos que há uma
ligação mais profunda, que o Estado Islâmico está envolvido com a fação no
norte de Moçambique e que têm influência", disse o major-general.
O responsável admitiu, no entanto, que a extensão dessa influência não é ainda totalmente conhecida. "Estamos a trabalhar com a nossa embaixada e com o Governo de Moçambique para ter uma ideia melhor, perceber como essa ameaça se está a desenvolver e o que é que isso significa para a região", afirmou.
Comunidade
internacional deve agir
Para
o major-general Dagvin Anderson não há dúvidas de que "há atores externos
que estão a influenciar o conflito e a torná-lo mais virulento e
perigoso".
"Já
não se trata apenas de um conflito local que possa ser resolvido apenas pelas
autoridades locais. Foi inflamado pelo Estado Islâmico, que fornece treino,
formação e recursos", considerou.
Dagvin
Anderson sublinhou a preocupação pela forma como a relação entre o movimento
rebelde local e o Estado Islâmico se está a desenvolver, considerando que a
resposta terá de ser liderada por Moçambique, mas envolvendo outros países e a
comunidade internacional.
"Tanzânia,
Malawi e outros países terão de ajudar porque o terrorismo vai atravessar
fronteiras e procurar refúgio onde puder para continuar a destabilizar a
região", disse.
Apoio
dos EUA
Por
outro lado, defendeu, a abordagem à ameaça não deve passar apenas por uma
resposta militar, devendo incluir outras questões como o reforço da segurança,
resolução dos problemas na origem da contestação e promoção do desenvolvimento
económico e de oportunidades para as populações.
"Estas
são áreas em que o Governo norte-americano tem estado envolvido dando apoio a
Moçambique", disse, indicando como exemplo a ajuda norte-americana ao país
na sequência da destruição causada pelos ciclones de 2019.
"Se não dermos essa ajuda, se a comunidade internacional não se juntar para encontrar uma solução após estas crises, os extremistas violentos irão explorar isso e procurar afastar as populações dos governos, criando narrativas e realidades alternativas. Todas estas abordagens têm de ser combinadas para promover o contraterrorismo", analisa.
Militares
só em "último recurso”
Questionado
pela agência Lusa sobre a possibilidade de uma resposta de apoio militar dos
Estados Unidos ao conflito, Dagvin Anderson sustentou que essa seria uma
"solução de último recurso".
"Se
chegar até nós, como militares, significa que as coisas ficaram muito más.
Gostaríamos de manter as forças militares fora desta questão o máximo
possível", disse, adiantando que, a existir, o envolvimento militar
norte-americano passará pela assistência e apoio às forças locais.
"Mesmo
com o envolvimento da Al-Qaida ou do Estado Islâmico são sempre problemas
localizados que precisam do conhecimento das forças locais. Nós podemos ajudar
a reforçar as suas capacidades, através de formação, equipamentos ou treino,
dependendo sempre das condições no terreno e do nível da ameaça", disse.
Cabo
Delgado é desde outubro de 2017 palco de ações de grupos armados, que, de
acordo com as Nações Unidas, forçaram à fuga de 250.000 pessoas de distritos
afetados pela violência, mais a norte da província.
O conflito armado naquela província já matou, pelo menos, 1.000 pessoas, e algumas das ações dos grupos armados têm sido reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico (EI).
Deutsche Welle | Lusa
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