Zillah Branco* | opinião
A Festa do “Avante!”, jornal do
centenário Partido Comunista Português, cumpriu rigorosamente a sua função,
pela quadragésima quarta vez desde 1976, para levar ao país a confiança na
criação de um futuro melhor para o povo trabalhador com a superação dos
problemas políticos, económicos, sociais, agora agravados pela pandemia do
coronavírus. Demonstrou que a sua criticada (e invejada) organização interna,
complementada pela disciplina dos seus militantes, tem a capacidade de gerir
uma sociedade para realizar uma festa-convívio, com divulgação de temas
políticos fundamentais, de cultura e de arte, com respeito máximo pelas
recomendações médicas para prevenir a contaminação do vírus temido mundialmente.
O PCP demonstrou que é possível superar as dificuldades governamentais para
manter a sociedade no convívio e no trabalho com alegria e consciência do seu
papel no desenvolvimento equilibrado do país em liberdade. Basta
seguir os princípios marxistas e leninistas de consciência e trabalho colectivo
na perspectiva democrática.
Eu, com mais de 80 anos e algumas
debilidades de saúde, apesar de militante comunista não fui a esta Festa, com
muita pena. Mas, pude acompanhar o seu êxito por uma razão espantosa: a TV, que
sempre sabotou por razões políticas a divulgação da grande Festa, agora
divulgou todos os passos da sua organização e, inclusive, as várias tentativas
frustradas dos opositores de direita, de impedirem a sua realização. E eu pude
assistir no sofá em casa.
Os meios de comunicação em
Portugal não tiveram melhor assunto para um ensolarado fim de semana - dias 4,5
e 6 de Setembro - que a construção militante da enorme festa na Quinta da
Atalaia, com todos os cuidados médicos de protecção à saúde, que reduziu o
número de participantes para 16 mil por dia, com cadeiras em distâncias
obrigatórias para cada evento artístico ou político. Ao entrevistar alguns
ilustres críticos da realização da Festa, como o Presidente da República, ouvi
uma análise difícil que tenta conjugar contradições entre saúde e política, que
a campanha eleitoral a todos envolve, agora abrindo uma razão dialéctica que o
PCP soube aproveitar (é confuso mesmo). Certamente os políticos de direita não
destacaram os valores da consciência comunista e a disciplina militante
derivadas da democracia interna que o PCP mostrou ser mestre. Por um lado não
entendem o suficiente para valorizar esta capacidade de gestão que não têm nos
seus partidos e no governo, por outro insistem em traduzir tudo em “chavões
inconsequentes”.
Aos poucos, para quem acompanha
os problemas que a TV tem sido obrigada a veicular: desde a confissão penosa do
Presidente de Portugal de que “não sabíamos que tantos lares de idosos estavam
sem acompanhamento sanitário”, até às descobertas recentes de que, como disse o
Primeiro Ministro, “os Lares em Portugal são ‘privados’, não do Estado”,
esquecendo que a Segurança Social do Estado investe e (deve) fiscalizar as
instituições que se enriquecem milionariamente, herdando as pensões e mesmo
casas dos idosos que estão sozinhos. É um facto que os que nos governam
conhecem mal a realidade da vida nacional. Mas, caramba, os idosos em Portugal
são uma percentagem muito alta da sua população, à volta de 30% ou mais, a
maioria sozinha e pobre!
A TV, que divulga
prioritariamente os filmes de “mata e esfola”, e os de traficantes e elites
vencedoras que dizimam as “manadas” populares com um equipamento científico e
miraculoso de extinção humana, forma uma consciência com ódio e violência que
divide famílias e povos, não sabe valorizar a importância da fraternidade, da
solidariedade, do prazer em realizar um trabalho colectivo. Para os media
capitalistas tudo isso é “chavão dos comunas”.
Não foi difícil ao PCP enfrentar
o desafio de construir a quadragésima quarta Festa do Avante!, que os
militantes mais idosos só puderam ver pela televisão, que foi obrigada pelas
condições da pandemia a divulgar com alguma categoria, mas com a satisfação de
saberem que mesmo na direita alguns descobriram que nos “chavões” comunistas
estão princípios éticos de vida organizada para salvar a humanidade da extinção
proposta pelos cérebros do imperialismo através de Trump, Bolsonaro e outros
que despontam na Europa.
*Zillah Branco
Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem
experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.
1 comentário:
E tem militantes capazes de montar uma estrutura daquela dimensão em meses de trabalho árduo e voluntário
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