sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Portugal | Grande exemplo de consciência cívica e de organização social


Zillah Branco* | opinião 

A Festa do “Avante!”, jornal do centenário Partido Comunista Português, cumpriu rigorosamente a sua função, pela quadragésima quarta vez desde 1976, para levar ao país a confiança na criação de um futuro melhor para o povo trabalhador com a superação dos problemas políticos, económicos, sociais, agora agravados pela pandemia do coronavírus. Demonstrou que a sua criticada (e invejada) organização interna, complementada pela disciplina dos seus militantes, tem a capacidade de gerir uma sociedade para realizar uma festa-convívio, com divulgação de temas políticos fundamentais, de cultura e de arte, com respeito máximo pelas recomendações médicas para prevenir a contaminação do vírus temido mundialmente. O PCP demonstrou que é possível superar as dificuldades governamentais para manter a sociedade no convívio e no trabalho com alegria e consciência do seu papel no desenvolvimento equilibrado do país em liberdade. Basta seguir os princípios marxistas e leninistas de consciência e trabalho colectivo na perspectiva democrática.

Eu, com mais de 80 anos e algumas debilidades de saúde, apesar de militante comunista não fui a esta Festa, com muita pena. Mas, pude acompanhar o seu êxito por uma razão espantosa: a TV, que sempre sabotou por razões políticas a divulgação da grande Festa, agora divulgou todos os passos da sua organização e, inclusive, as várias tentativas frustradas dos opositores de direita, de impedirem a sua realização. E eu pude assistir no sofá em casa.

Os meios de comunicação em Portugal não tiveram melhor assunto para um ensolarado fim de semana - dias 4,5 e 6 de Setembro - que a construção militante da enorme festa na Quinta da Atalaia, com todos os cuidados médicos de protecção à saúde, que reduziu o número de participantes para 16 mil por dia, com cadeiras em distâncias obrigatórias para cada evento artístico ou político. Ao entrevistar alguns ilustres críticos da realização da Festa, como o Presidente da República, ouvi uma análise difícil que tenta conjugar contradições entre saúde e política, que a campanha eleitoral a todos envolve, agora abrindo uma razão dialéctica que o PCP soube aproveitar (é confuso mesmo). Certamente os políticos de direita não destacaram os valores da consciência comunista e a disciplina militante derivadas da democracia interna que o PCP mostrou ser mestre. Por um lado não entendem o suficiente para valorizar esta capacidade de gestão que não têm nos seus partidos e no governo, por outro insistem em traduzir tudo em “chavões inconsequentes”.

Mas, estou certa de que muita boa gente que ficou a acompanhar a Festa de sexta a domingo pela televisão, pessoas apolíticas que buscam solução para reanimar a vida económica e cultural do país sem as apregoadas irresponsabilidades de Trump e Bolsonaro que querem um maior número de mortos sejam eles pobres ou idosos ou com problemas de saúde. Os que valorizam a vida dos povos acima das campanhas eleitorais, viram exemplos claros de organização e formação de consciências sólidas para fazer face às pandemias. Descobriram que, em uma sociedade manipulada por uma elite poderosa que conduz a população como “manada inconsciente”, não é possível promover a produção e a vida sem a consciência gerada por um sistema socialista, que supera os naturais egoísmos individuais e as ambições de lucro capitalista.

Aos poucos, para quem acompanha os problemas que a TV tem sido obrigada a veicular: desde a confissão penosa do Presidente de Portugal de que “não sabíamos que tantos lares de idosos estavam sem acompanhamento sanitário”, até às descobertas recentes de que, como disse o Primeiro Ministro, “os Lares em Portugal são ‘privados’, não do Estado”, esquecendo que a Segurança Social do Estado investe e (deve) fiscalizar as instituições que se enriquecem milionariamente, herdando as pensões e mesmo casas dos idosos que estão sozinhos. É um facto que os que nos governam conhecem mal a realidade da vida nacional. Mas, caramba, os idosos em Portugal são uma percentagem muito alta da sua população, à volta de 30% ou mais, a maioria sozinha e pobre!

A TV, que divulga prioritariamente os filmes de “mata e esfola”, e os de traficantes e elites vencedoras que dizimam as “manadas” populares com um equipamento científico e miraculoso de extinção humana, forma uma consciência com ódio e violência que divide famílias e povos, não sabe valorizar a importância da fraternidade, da solidariedade, do prazer em realizar um trabalho colectivo. Para os media capitalistas tudo isso é “chavão dos comunas”.
Não foi difícil ao PCP enfrentar o desafio de construir a quadragésima quarta Festa do Avante!, que os militantes mais idosos só puderam ver pela televisão, que foi obrigada pelas condições da pandemia a divulgar com alguma categoria, mas com a satisfação de saberem que mesmo na direita alguns descobriram que nos “chavões” comunistas estão princípios éticos de vida organizada para salvar a humanidade da extinção proposta pelos cérebros do imperialismo através de Trump, Bolsonaro e outros que despontam na Europa.

*Zillah Branco
Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

1 comentário:

Manuel disse...

E tem militantes capazes de montar uma estrutura daquela dimensão em meses de trabalho árduo e voluntário

Mais lidas da semana