quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Ana Gomes estranha silêncio de Marcelo sobre acordo entre Chega e PSD


PORTUGAL

Ana Gomes vê com "satisfação" haver "muita gente" a demarcar-se do acordo entre os sociais-democratas e o Chega.

A candidata presidencial Ana Gomes afirmou esta quinta-feira estranhar o silêncio do Presidente da República sobre o acordo parlamentar entre o Chega e o PSD nos Açores, defendendo que deveria ser divulgado o acordo entre os dois partidos.

"Estranho que ainda não tenhamos ouvido [Marcelo Rebelo de Sousa sobre o acordo parlamentar que viabiliza o governo nos Açores], mas não perco a esperança de que o possamos ouvir nos próximos dias sobre esta matéria, que é de tamanha importância para a saúde da democracia em Portugal", disse Ana Gomes, que respondia a perguntas dos jornalistas após uma visita ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Questionada pela agência Lusa, a candidata presidencial considerou que o Presidente da República deveria instruir o Representante da República para os Açores, nomeado por Marcelo Rebelo de Sousa, para "fazer aquilo que é indispensável - tornar público o acordo escrito que deu origem a toda esta situação que é grave para os Açores e grave para a República".

Ana Gomes vê com "satisfação" o facto de haver "muita gente", quer no PSD quer no CDS, a demarcar-se do acordo entre os sociais-democratas e o Chega, mas salientou que não compreende o silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa.

"Ouvimos frequentemente [o Presidente da República] opinar sobre todas as matérias, incluindo sobre aspetos do posicionamento do seu partido de origem, o PSD - ainda há pouco tempo o ouvimos falar sobre a posição que o PSD deveria ter em relação ao Orçamento do Estado. Pois, eu estou a aguardar ouvir o senhor Presidente da República sobre esse acordo", acrescentou.

Segundo a candidata, é com "muita inquietação" que vê "um partido com sólidas credenciais democráticas como o PSD, com uma génese até social-democrata, a abdicar daquilo que deveriam ser as linhas vermelhas e fazer um entendimento com um partido racista, xenófobo, anti-constituição, de extrema direita", no sentido contrário do que fazem outros partidos da sua família europeia, que estabeleceram "uma linha de demarcação dessas formações de extrema direita".

"Ao contrário do que se tem procurado dizer, de que é um acordo que está contido aos Açores, obviamente não está contido. Os Açores são território da República Portuguesa. Para além do mais, se um acordo deste tipo é feito nos Açores pode ser replicado no continente e isso ameaça a democracia", frisou.

O líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro, foi indigitado no sábado presidente do Governo Regional pelo representante da República para os Açores, Pedro Catarino.

O PS venceu as eleições legislativas regionais, no dia 25 de outubro, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, elegendo 25 deputados.

PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representavam 26 deputados, anunciaram esta semana um acordo de governação, tendo alcançado acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal (IL).

Com o apoio dos dois deputados do Chega e do deputado único do IL, a coligação de direita soma 29 deputados na Assembleia Legislativa dos Açores, um número suficiente para atingir a maioria absoluta.

TSF | Lusa | Imagem: Manuel de Almeida / Lusa

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