terça-feira, 24 de novembro de 2020

Ataque terrorista à missão de Nangololo: "Só ficaram mesmo as paredes" - diz padre

Em entrevista à DW África, o padre Edegard da Silva, que trabalhava na missão de Nangololo, norte de Moçambique, relata que a aldeia de Muambula tornou-se quase um lugar fantasma após ataques terroristas neste mês.

A missão de Nangololo em Muidumbe, no norte de Moçambique, foi pela segunda vez atacada e destruída pelos terroristas. O padre Edegard da Silva que lá trabalhava conta que praticamente a aldeia de Muambula é um lugar fantasma, os habitantes fugiram das atrocidades, incluindo os missionários.

Sobre a reconquista da sede do distrito de Muidumbe, anunciada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), na última semana, o missionário diz nada saber e citando testemunhas, diz que ainda se ouve tiroteio em alguns lugares de Muidumbe.

Conversámos com o padre Edegard Silva Júnior sobre a situação na província de Cabo Degado, ele começa por nos contar as circunstâncias dos ataques que aconteceram este mês.

Edegard Silva Júnior: Este foi o segundo ataque e ele aconteceu do dia 30 outubro a 19 de novembro. Foi um dos piores ataques já registados na região. Mas não temos dados sobre a quantidade de insurgentes e armamento utilizado. Entretanto, pelo desastre que fizeram, imaginamos que tenham sido [usados] armamentos pesados. O fato é que quando há o ataque, todos fogem. É por isso que nem sempre há detalhes [sobre o ataque]. Mas desta vez foi um desastre total na aldeia.

DW África: E o que é que sobrou da vossa missão, alguma coisa escapou aos ataques?

ESJ: Nós temos o centro de pastoral que acolhe os catequistas quando esses vêm para os encontros. E dispomos de quartos de hospedagem para até 50 pessoas. Esses dormitórios, as salas de catequese, a casa dos missionários e paroquial, foram todos destruídos. Entre as demais instalações que foram destruídas: a igreja, a rádio comunitária, o ambulatório dentário, a casa das irmãs religiosas, a creche para as crianças de até seis anos. Disso tudo, só ficaram mesmo as paredes – o que tinha dentro e os telhados se foram.

DW África: Recentemente, as FDS disseram ter reconquistado a sede distrital de Muidumbe. Este é um sinal de esperança para o vosso regresso e trabalho junto às populações nesse local?

ESJ: O primeiro fato é que nós não temos estas informações, porque não há ninguém na aldeia e não sabemos qual é o tipo de ação que eles farão. Além disso, ninguém da aldeia tem planos de voltar, porque não existem condições agora. Grande parte das casas foram destruídas e as pessoas têm medo. Houve uma família assassinada. Então, ninguém pensa em voltar. Além disso, desconhecemos a estação da força de segurança, porque não há uma possoa com quem possamos contar. E não  sabemos em que [isso] consiste. Ontem mesmo tinha uma pessoa na aldeia que disse que ouviu tiros. Bem, são 26 aldeias, desconfiamos que eles tenham saído de uma delas, mas não significa que não estejam mais na área. Além disso, o Muidumbe é formado por 26 aldeias e o grande estrago não foi apenas num local. Em cada época de ataques eles destruíam instalações. Num dos ataques destruíram o hospital e, noutro, um banco - a única agência bancária da região. É por isso que não se pode falar de estabilidade a partir de Muambula, até mesmo porque toda a população fugiu do distrito.

DW África: E como estão a articular o vosso trabalho junto das autoridades, tendo em conta o aumento da violência no norte de Moçambique?

ESJ: Esta atuação se dá sobretudo por meio do senhor Bispo Luíz Fernando Lisboa, principalmente porque nós, os missionários, não temos estes canais diretos para falar com as instâncias e autoridades. Até porque, aqui, este relacionamento é difícil.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

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