Em Paris, Filipe Nyusi deverá oferecer garantias de segurança "furadas" a França para que a petrolífera regresse a Cabo Delgado. Mas Macron poderá impor a presença de forças francesas como condição. Haverá meio termo?
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, rumou este domingo, (16.05), a França numa visita de trabalho a convite do seu homólogo francês Emmanuel Macron. Nyusi vai participar na Cimeira sobre Financiamento das Economias Africanas marcada para esta terça feira, 18, em Paris.
O regresso da petrolífera francesa Total a Cabo Delgado e as condições operacionais na exploração do gás deverão dominar o encontro entre os presidentes moçambicano e francês à margem da cimeira França-África.
No Palácio do Eliseu, Filipe Nyusi terá de jogar um trunfo para que possa continuar a sonhar grande às custas do gás. Mas terá o Presidente de Moçambique, de facto, um trunfo na manga para trazer a Total de volta?
"A única coisa que Moçambique poderá oferecer é que as condições de segurança na zona de exploração do gás possam ser melhoradas. Porém, está já compreendido que não possui recursos e nem forças militares que garantam a Total, e a Total deve conhecer a situação no terreno e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) muito bem, e não estão em condições de o fazer", explica o economista João Mosca.
Segunda oportunidade a Moçambique?
Moçambique já tinha dado garantias de segurança a França que não conseguiu cumprir. E o ataque terrorista de 24 de março contra Palma, região próxima da exploração de gás pela Total, foi a maior prova da incapacidade de Moçambique obrigando a petrolífera a abandonar temporariamente o país.
Moçambique vai merecer uma segunda chance da França, mesmo diante das evidências? Para o especialista em paz e segurança da Universidade Joaquim Chissano Calton Cadeado, "a França está no seu direito de duvidar porque já viu essas condições serem testadas com o último ataque a Palma”.
"Mas desta vez é preciso saber o que o Governo moçambicano tem a mais de diferente [para oferecer]. E se calhar, como o Governo moçambicano conseguiu fazer uma contraofensiva para reocupar Palma em tão pouco tempo, talvez isso possa abrir um sinal de oportunidade para Moçambique receber algum grau de confiança da França", acrescenta.
Mas no encontro não será Moçambique apenas a "jogar as suas cartadas", a França também tem as suas. A Total arrisca-se a pôr em causa investimentos de grande envergadura. Deverá Paris impor, como condição para o regresso da sua petrolífera, a presença de forças militares francesas no norte de Moçambique? O especialista é categórico na sua resposta:
"Sem dúvidas que essa é uma moeda de troca que os franceses podem usar e já usaram antes. Sublinho, onde existe negócio de hidrocarbonetos tem de existir negócios de segurança, estes dois atuam como irmãos gémeos, onde vai um vai outro".
Quem vencerá o "braço de ferro"?
Os cenários deixam evidente um "braço de ferro" que não deverá garantir vitória fácil para o considerado elo mais fraco. Assim, a curto trecho, a Total não deveria regressar, como Moçambique anseia, se a falta de cedência dominar o encontro entre Filipe Nyusi e Emmanuel Macron.
"Mas a Total tem muito interesse em fazer este jogo de charme diplomático e económico - não quero usar a palavra 'chantagem' -, para colocar pressão do lado de Moçambique no sentido de agilizar a discussão para que facilite o seu retorno das operações que vão levar à exploração de gás", sublinha Cadeado.
Moçambique tem batido o pé para uma relação de igualdade com a França, e Maputo tem exigido a discussão da cooperação nos termos a aprovar entre as partes. O estadista moçambicano defende um diálogo e não imposição, frisa Calton Cadeado.
Oposição torce o nariz
Independentemente dos moldes de cooperação, a relação não é bem vista por alguns setores, como por exemplo pela RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique.
"Acho que, no lugar de Moçambique falar com os franceses, tinha de aliar aos seus melhores aliados, os tradicionais. Sempre que tivemos problemas tivemos uma resposta rápida dos portugueses e dos americanos, apesar do que se diz. No passado tínhamos uma resposta rápida dos cubanos e da Alemanha. Penso que estes têm maior aproximação connosco e podem ajudar-nos a chegar rápido onde queremos", questiona António Muchanga, deputado.
E conclui: "Mas parece que o
entendimento é que as Forças Armadas têm de ser formadas e elas próprias vão
lutar. E o programa de formação vai levar cinco anos e o povo pergunta:
estaremos a morrer
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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