Expresso Curto abre com novela “Selminho de Portugal”. O autor do Curto é José Cardoso, do Expresso, o título que lhe damos no PG é o que está acima, a imagem é do senhor Selminho, um estranho nome e uma estranha história que até desagrada à juíza que está a tratar do "drama". Não tarda a ser mudada - a juíza, retirada do processo… É só uma previsão. Um palpite que o povoléu já está a dar. Nada de admirar. Um bitate a que o PG se associa.
Agora deixamos toda a lavra para o Curto. É de ler. Há muito conteúdo e bom. Até a UE tem um buraco. E Espanha. Bem, acerca de buracos a UE é uma das campeãs no mundo e defeca por todos eles. Maus odores. Fiquem com um bom dia, se conseguirem. (PG)
Moreira às voltas com a imobiliária e Espanha (e Europa) às voltas com um buraco na parede
José Cardoso | Expresso
Bom dia,
Bem-vindo ao seu Expresso Curto, o habitual guia das manhãs sobre o que de mais
importante se está a passar em Portugal e no Mundo. Dois acontecimentos têm
estado a marcar a atualidade: o “caso Selminho”, do nome da imobiliária da
família do presidente da Câmara do Porto, pelo qual Rui Moreira vai ser
julgado; e a passagem para a cidade espanhola de Ceuta, no norte de Marrocos,
de milhares de migrantes ilegais concentrados lá mesmo ao lado, para lá das
cercas de arame farpado, à espera de uma oportunidade para darem o salto para a
Europa. A oportunidade surgiu, passaram uns milhares, muitos já foram
recambiados.
A SELMINHO DE MOREIRA
O presidente da Câmara do Porto, Rui
Moreira, vai mesmo ser julgado no “caso Selminho” – e pode perder o
mandato. Para já, a juíza
que tomou a decisão diz ser “solidamente previsível” que o presidente da câmara
do Porto seja condenado. Rui Moreira
retorque que a decisão de o levar a tribunal é “um insulto e uma infâmia” e
que isso não vai travar a sua recandidatura nas autárquicas de outubro. Se não
conhece muito bem os contornos do caso, tem AQUI tudo
explicado, em 16 perguntas e outras tantas respostas
O BURACO NA PAREDE DA EUROPA
A origem do que aconteceu em Ceuta parece ter já algum tempo. O líder da Frente
Polisário, o movimento saraui que luta há décadas pela independência do Sara
Ocidental - de que o regime marroquino nem quer ouvir falar - , Brahim Ghali,
apanhou covid-19. Os sarauis pediram ajuda a Espanha, Ghali foi levado para
Espanha numa operação secreta, os marroquinos descobriram e o Rei Mohamed VI
ficou muito zangado. Mas o melhor é ler a história AQUI.
Por parte de Espanha – ou seja da Europa, porque Ceuta é uma das portas de
entrada, ainda em território africano, no continente europeu – o
que está a fazer e o que pode fazer?
OUTRAS NOTÍCIAS
Por cá, houve duas batatas quentes no Parlamento e outra no Porto.
NOVOS E VELHOS BANCOS
Na Assembleia da República houve de novo mais achegas para uma discussão velha,
a do velho BES e do novo Novo Banco. Depois de ter sido ouvido na comissão
parlamentar de inquérito o vice-governador do Banco de Portugal e presidente do
Fundo de Resolução, Luís
Máximo dos Santos, foi-o também o atual governador, Mário Centeno, que era
ministro das Finanças na altura da venda do banco. E o
governador Centeno lá esteve seis horas a defender o trabalho do ministro
Centeno. Hoje será a vez de António Ramalho, presidente do Novo Banco.
DEBATES ARMADOS
O segundo tema quente que passou ontem pelo Parlamento foi o da discussão da
reforma das Forças Armadas, cujas propostas governamentais as atuais e antigas
cúpulas castrenses, com dois ex-presidentes à mistura, contestam. Militares
ouvidos pelo Expresso consideraram o debate parlamentar “triste” e estranharam
o “súbito aparecimento” de um estudo que sustenta as opções propostas pelo
Governo. Leia AQUI essas
reações e pode ver ALI que
reformas são propostas e o que está em causa.
NOTÍCIAS DE MÁSCARA
Sobre a dispensa ou não das máscaras, duas notícias:
- ESTA,
em que uma especialista que aconselha o Governo diz que as máscaras são para
continuar a usar e explica porquê, em 5 pontos
- E as regras
(novas e velhas) sobre as máscaras (e não) para quem vai à praia,
publicadas esta terça-feira em Diário da República.
(já agora, fique
a saber quantas pessoas foram multadas e quantas foram detidas durante
os Estados de Emergência)
RASPADINHA DO PATRIMÓNIO
Já
está aí a chamada “raspadinha do património”. Custa um euro e dá um prémio
máximo de 10 mil. Foi criada com um objetivo (o de render dinheiro para o
Estado, claro) e deu polémica q.b., que adiou o início da faturação. Será que
esta nova maneira de arranjar dinheiro para a defesa do património nacional faz
sentido? O presidente do Conselho Económico e Social, Francisco
Assis, já disse o que tinha a dizer: não tem dúvidas de que há um vício das
raspadinhas em Portugal, que é "grave e atinge os mais vulneráveis".
E, da parte do património, porque precisa assim tanto? Leia o
artigo de opinião desta quarta-feira de Henrique Monteiro. E, sobre
raspadinhas em geral, onde em 2019 eram gastos todos os dias 4,7 milhões de
euros, leia já agora ESTE e
mais ESTE.
E UM CURSO POR 500 PAUS
Outra notícia recente sobre prémios e dinheiros foi o anúncio pelo Governo de
que dará 500 euros aos adultos que não tenham acabado o ensino secundário e
queiram acabar o curso. Ora este foi precisamente o tema do mais recente
programa de debate da série “Ao vivo na redação”, no qual participaram o
psicólogo clínico e forense Mauro Paulino e o presidente executivo da Fundação
José Neves. O vídeo está AQUI.
DIÓXIDOS FORA NADA
Que o mundo precisa de reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono
toda a gente sabe. Que consiga pôr
a zero as emissões (em termos líquidos) até 2050, meta proposta por várias
instituições europeias, já muitos duvidam. A Agência Internacional de Energia
veio agora dizer que sim, não é só fumaça, e apresentou um plano para tal.
E MUITO DIÓXIDO PARA FORA
O Rali de Portugal está de volta, a partir desta quinta-feira. Em Paris,
entretanto, a polícia
encerrou a praça de Notre-Dame, por causa da elevada concentração de chumbo,
ainda na esteira do incêndio que devastou a catedral há dois anos.
MAIS DUAS NOVIDADES DA JUSTIÇA
- Há um novo presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Chama-se Henrique
Araújo
- O sindicato dos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)
enviou uma carta à Procuradoria-Geral da República a perguntar
se há ordens para retirar ao SEF os casos de investigação à imigração ilegal.
PRESIDÊNCIA PORTUGUESA DA UNIÃO EUROPEIA
Israel/Palestina. UE exige cessar-fogo e solução política
Na reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros, realizada
ontem, apenas a Hungria não apoiou o texto informal em que a UE pede o
cessar-fogo imediato na região e insiste
numa solução política que evite as sucessivas ondas de violência no
território. Para a UE, o principal desafio será resolver o problema político na
base do conflito, uma vez que “a violência chegará de novo noutra altura”,
traduziu assim o chefe da diplomacia europeia a posição conjunta dos
Estados-membros (exceto a Hungria).
Bazuca
Santos Silva insistiu ontem na urgência de se aprovar os primeiros Planos de
Recuperação e Resiliência já em junho, durante o conselho dos ministros das
Finanças de dia 18. Para isso, a Comissão terá de acelerar a avaliação dos
documentos. O ministro dos Negócios Estrangeiros pressiona ainda o processo de
ratificação do Fundo de Recuperação, que está por concluir em meia dúzia de
Estados-membros. Sem esse passo, a
Comissão não pode financiar-se nos mercados nem transferir o dinheiro
para as economias "antes do final do verão"
FRASES
“O seu súbito aparecimento, como um acaso bem lembrado, sugere um expediente de
última hora"
Almirante Melo Gomes, ex-chefe da Armada e um dos 28 signatários da carta
de contestação da reforma das Forças Armadas proposta pelo Governo, sobre o
estudo a favor da reforma apresentado por um académico do Instituto de Defesa
Nacional que é também assessor do ministro da Defesa
“Não há nada de extraordinário nesta matéria (estamos a fazer exatamente aquilo
que outros Estados-membros fizeram”
Graça Fonseca, ministra da Cultura, sobre a raspadinha do património, à venda
desde ontem
“Vou propor esta semana uma reunião a Rui Rio, para perceber se a ideia é
continuar a permitir este estado de coisas ou fazer oposição dura e a sério,
com o objetivo de salvar Portugal”
André Ventura, líder do Chega
O QUE ANDO A (RE)LER
“Sorri e pergunta-me se já eu tinha ouvido falar do “vento amarelo”. Digo que
não. Então começa a falar-me sobre esse vento – rijatsfar é como lhe chamam os
habitantes árabes desse lugar -, um vento oriental, quente e ameaçador, que uma
vez a cada várias gerações vem e abrasa a região, e as pessoas fogem do seu
calor, para grutas e cavernas, mas mesmo aí ele alcança aqueles a quem quer
alcançar, aos que cometem ações injustas e cruéis. E ali, nas fendas da rocha,
extermina-os um a um”.
É a este trecho, da conversa que teve na aldeola de Wadi Elfuquin, na
Cisjordânia, com o ancião árabe Abu Jarb, de 85 anos, considerado pelos habitantes
locais como “o historiador da aldeia”, que o escritor israelita David Grossman
foi beber o título do seu primeiro livro, “O vento amarelo”.
Primeiro e muito polémico, tendo desencadeado na altura fortes paixões e acesas
críticas dos seus conterrâneos. Motivo? O livro de Grossman, israelita, judeu,
chocou muitos dos seus compatriotas por lhes dar conhecer a realidade crua em
que vivia (continua a viver) o
povo palestiniano sob a ocupação de Israel, uma realidade diária que esteve
na génese da primeira Intifada (revolta palestiniana), em 1987.
Mas Grossman nem sempre foi um pacifista, defensor da solução de dois Estados.
Depois da Guerra dos Seis Dias,
Mais tarde jornalista, foi enviado na primavera de 1987 (no âmbito do 20º
aniversário da Guerra dos Seis Dias, em junho) pelo semanário Koteret Rashit
para fazer uma série de reportagens na Cisjordânia ocupada. A conversa com o
velho Abu Jarb foi durante uma dessas reportagens, no âmbito das quais visitou
tanto campos de refugiados palestinianos como colonatos judeus nas mesmas
zonas. Foram esses relatos crus e apaixonados que deram origem a “O vento amarelo”
– um murro no estômago dos judeus israelitas, desconhecedores (ou estando-se
nas tintas) do que se passava ali ao lado, nos territórios que o seu país tinha
conquistado.
O ressurgimento do mais grave ciclo de violência dos últimos sete anos entre
Israel e os palestinianos, cuja faúlha
foi a situação do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Leste (parte árabe da
cidade), levaram-me a pegar novamente no livro.
Os relatos nele contidos continuam atuais – aliás, se comparados com os dias de
hoje já pecam muito por defeito. No livro, escrito em 1987 (e editado cá pela
Bertrand e pela D. Quixote), Grossman dizia: “Há 20 anos que vivemos numa
situação falseada e artificial, baseada em ilusões, no vacilante ponto de
equilíbrio que há entre o ódio e o medo, num deserto vazio de sentimentos e de
consciência”. Mude-se o início da frase, escrevendo “há 54 anos que vivemos…”,
e o resto não se mantém igual – é pior.
David Grossman tornou-se um escritor prestigiado, com dezenas de obras
publicadas. E continua a ser um pacifista convicto e a defender uma solução
negociada (de dois povos, dois Estados) para o conflito israelo-palestiniano.
Isto apesar de o filho Uri ter sido morto quando estava na tropa, no Líbano,
por um rocket do Hezbollah.
Será que David Grossman ainda junta a família às sextas-feiras numa vigília
noturna de solidariedade com árabes desalojados por colonos judeus,
Para terminar, deu-se
conta de que o mistério da Síndrome de Havana está de volta?
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