terça-feira, 13 de julho de 2021

A guerra do COVID

Jorge Figueiredo

Carnets de guerre COVID-19 , de Didier Raoult, tem um subtítulo significativo: "O maior escândalo sanitário do século XXI". A obra, publicada este ano, conta a trajectória de um sábio com mais de 3000 artigos publicados que tentou (e tenta) estabelecer alguma racionalidade quanto à chamada pandemia. Semana a semana, em intervenções no You Tube desde 14/Janeiro/2020 até o fim de 2020, tem sido uma batalha tenaz para cumprir o que é o dever de qualquer médico: curar os seus pacientes – mas forças poderosas tentaram (e tentam) impedi-lo.

Parece simples dizer que a obrigação de um médico é curar os pacientes – essa é a história milenar da medicina. O raciocínio médico clássico segue três etapas: 1) parte dos sintomas; 2) chega ao diagnóstico e 3) procura a terapia. Assim, a preocupação imediata diante de uma nova doença não é a descoberta de uma vacina pois estas vêm quando vêm. Podem-se passar anos até o surgimento de uma e até pode acontecer que isso nunca se verifique (para muitas doenças, como a malária por exemplo, não existem vacinas). Mas no caso desta pandemia toda a lógica foi invertida.

O que está por trás disto? O Prof. Raoult nos conta passo a passo. Como director do Instituto de Infectologia de Marselha (IHU), ele acompanhou todos os surtos infecciosos das últimas décadas (Ébola, MARS, vaca louca, antrax, gripe aviária, chicungunha, etc). Além disso, teve o benefício da colaboração de cientistas chineses, que rapidamente conseguiram efectuar a análise das sequências do ADN e do ARN dos novos micro-organismos. Ele denuncia "a grande deriva da OMS", cujo alarmismo foi propagado pelos media até ao ponto que se pode chamar de terrorismo sanitário.

No IHU de Marselha o Prof. Raoult tomou as providências para receber os novos infectados pelo coronavirus, inclusive com câmaras de isolamento. Acerca das medidas preventivas, ele é categórico: "A única coisa que se demonstrou funcionar é a lavagem de mãos", assim como o álcool. Quanto à utilização de máscaras, "a única coisa que foi demonstrada é para os médicos que cuidam dos pacientes infectados, para os próprios infectados e para os médicos em geral". Esta contenção contrasta com a imposição generalizada de máscaras nas ruas, agora promovida pelas autoridades de saúde.

Os cientistas chineses, além de isolarem o vírus de modo quase imediato começaram as testar todas as moléculas, inclusive as antigas. Descobriram assim que a cloroquina, que já funcionava com o SARS, funciona também sobre o novo vírus. "Eles dizem que a cloroquina não custa nada, que é provavelmente o medicamento mais seguro e mais prescrito no mundo, todas as pessoas o tomavam todos os dias para a profilaxia do paludismo. (...) Portanto este vai ser o tratamento de referência" (p. 46). Em consequência, a cloroquina, prescrita há mais de 80 anos e utilizada em mais da metade do mundo, foi o tratamento adoptado no IHU.

Este foi o grande "pecado" do Prof. Raoult. Ao adoptar um tratamento barato e eficaz (hidrocloroquina + azitromicina) com base em dados experimentais, ele provocou a ira da BigPharma e dos médicos que ela financia e coloca ao seu serviço. Assim, desencadeou-se em França uma tempestade tremenda contra o Prof. Raoult Didier. Para a BigPharma, a eficácia de um medicamento mede-se sobretudo pelos lucros que proporciona, não pelo bem-estar dos pacientes. A estratégia da BigPharma é criar uma nova molécula para cada nova doença, pois assim pode facturar mais. Usar moléculas antigas e que já estão no domínio público não é rentável para os seus accionistas. E os tentáculos da BigPharma são grandes e poderosos. "Recebi ameaças telefónicas, que se acaba por identificar a fonte, que é justamente de colegas nossos que recebem o grosso financiamento da Gilead há seis anos e que ao mesmo tempo participam no ensaio Discovery" (p.171).

Em França a Gilead tentava impor o seu Remdesivir como medicamento padrão para o coronavírus. Esta empresa conta com colaboradores poderosos no aparelho de Estado francês e andou a financiar médicos durante muitos anos. Assim, abstraindo os conflitos de interesses, ela conta com uma rede de colaboradores prestativos. A Gilead ganhou muito dinheiro desde o princípio do Covid e, quando a OMS decidiu que o Remdesivir é o grande tratamento, as suas cotações nas bolsas de valores subiram em flecha. Elas flutuam "em função dos anúncios na imprensa da eficácia ou de tratamentos substitutivos" (p.119). No entanto, o Remdesivir teve um desempenho pífio – inferior à cloroquina – em termos de eficácia para o Covid. "Um grande estudo, publicado recentemente na Lancet, sobre 2376 pessoas, comparando o remdesivir com um placebo, não mostra diferenças" (p.160). Além disso, o remdesivir é um medicamento muito tóxico, que provoca insuficiências renais, que é particularmente difícil de utilizar e que não pode ser realmente utilizado nas fases precoces, razão pela qual os ensaios executados com a utilização do remdesivir abrangem apenas formas graves" (p.177).

Em grande medida, a celeuma em torno da hidroxicloroquina deveu-se à politização do assunto. Começou pelo presidente Trump, que se pôs a apregoar o medicamento. De imediato o seu émulo brasileiro fez o mesmo. Mas com estes maus defensores, a pobre hidroxicloroquina ficou cilindrada entre a campanha de denegrimento feita pela BigPharma e as manifestações de políticos que não têm credenciais científicas para defender qualquer remédio que seja. Maus advogados conseguem arruinar uma boa causa. A desinformação promovida pela BigPharma quanto à cloroquina é poderosa. No Brasil, uma Comissão Parlamentar de Inquérito chegou a enxovalhar uma cientista séria, Dra. Nise Yamaguchi, pela sua defesa da hidroxicloroquina. Ali parece ter-se estabelecido uma oposição absurda entre o tratamento dos doentes e a vacinação. Mas o drama sanitário no Brasil deve-se mais aos péssimos serviços de saúde pública do que à falta de vacinação.

Quanto ao tratamento, o Prof. Raoult explica: "A maior parte das especulações que foram feitas sobre este vírus eram falsas. É uma doença diferente das outras doenças respiratórias. Ela atinge o pulmão profundamente ao invés da superfície, o que quer dizer que os sinais respiratórios são muito tardios, pouco antes da reanimação. Em segundo lugar, não é preciso que este medo desta pandemia, que invadiu tudo, chegue a substituir o que é a medicina habitual. É preciso cuidar das pessoas, não deixá-las em casa. É igualmente uma lição que vem sendo dada simultaneamente na Islândia e na Suécia, onde têm taxas de mortalidade muito baixas. Eles puseram como prioridade o cuidar, o que quer dizer que se cuidarmos das pessoas, mesmo não tendo o medicamento preciso que permite matar o vírus, elas acabam por sair-se melhor, há menos mortes. Nossas taxas de mortalidade, nas pessoas hospitalizadas no IHU, são de 0,8%. Se além disso utilizarem o tratamento que funciona melhor, diminuirá ainda mais esta mortalidade, particularmente entre os mais vulneráveis. Mas o facto de nos ocuparmos das pessoas, de as tratarmos, de lhes dar oxigénio quando precisam, de vigiá-las, melhora a situação. No caso, é preciso dar anticoagulantes porque esta doença provoca perturbações da coagulação. É preciso cuidar das pessoas. Não se pode, numa epidemia, dizer: 'Não se cuida das pessoas'. Estabeleceu-se algo de muito espantoso, não se cuida dos doentes e a seguir proíbe-se aos médicos de prescrever medicamentos que poderiam funcionar. Isso não impede as pessoas mais ricas e de encontrarem como se cuidar, são as mais pobres, as que não têm rede, que não conseguiram ter os medicamentos, as prejudicadas. Assim, estas epidemias não devem enervar-nos ao ponto de esquecer a própria medicina" (p.195).

O Prof. Raoult tem também uma concepção estratégica. Numa guerra, não se vai organizar um exército quando ela começa – este tem de estar organizado antes de ela começar. E tal como Vauban, o arquitecto militar, disseminou uma rede de fortalezas por toda a França no século XVIII, ele propôs que o país criasse meia dúzia de instituições à semelhança do IHU. Mas a sua proposta caiu nos ouvidos moucos de sucessivos governos franceses. O IHU, em Marselha, por enquanto é a única "fortaleza" existente em França.

Por outro lado, o livro aponta os perigos do confinamento. Em Espanha, "as pessoas que iam ao trabalho como habitualmente eram menos infectadas do que as que permaneciam confinadas. Isto mostra que o confinamento sem testar as pessoas representa um perigo" (p.201). Confinar pessoas livres de infecção com outras infectadas foi o que se verificou em navios de cruzeiros marítimos. Além disso, o próprio confinamento pode criar condições para o surgimento de variantes virais. "Um vírus expande-se na superfície da Terra, é o primeiro episódio. Depois, fecham-se as fronteiras, encerra-se o vírus em ecosistemas diferentes e passa-se o que está descrito desde Darwin, uma evolução divergente dos vírus em diferentes ecosistemas. Vai haver vírus africanos, vírus do Norte da Europa, vírus americanos, tal como havíamos desenvolvido um vírus europeu que era um pouco diferente do vírus chinês. Depois abrem-se as fronteiras novamente e vê-se aparecer uma segunda epidemia nos países onde há mais deslocamentos humanos, em particular os países mais turísticos" (p.438). O facto de haver segundas infecções em pessoas que tiveram uma infecção na Primavera, com o primeiro vírus, mostra que se trata de duas epidemias diferentes.

Quanto às vacinas, Raoult Didier afirma: "Não sei se existirá uma vacina. Estou acostumado aos discursos que vêm as vacinas como a solução para tudo. Há vacinas que funcionam, mas como sabe, há trinta anos que ouço que vai haver uma vacina para o HIV, uma vacina para o paludismo, uma vacina para substituir o BCG. Há milhares de milhões que foram engolidos nisso e nenhuma fez prova de eficácia. Vacinas verdadeiramente novas aparecidas nestes últimos trinta anos, há muito pouco no mercado. Além disso, com um vírus tão variável como este, uma vacina precisaria provavelmente fazer associações de variantes. Quando se vê que pacientes têm uma recaída pouco tempo após uma infecção inicial, isso deixa perplexo. Não quero prever nada, mas não estou seguro de que haja uma vacina milagre dentro de pouco tempo" (p.443).

Em contrapartida, o prof. Raoult defende a detecção das pessoas, por meios económicos. Um deles é a generalização dos oxímetros, pequenos aparelhos de baixo custo que o Estado deveria promover ou importar maciçamente para colocá-los à disposição do público. Os saturómetros detectam a baixa de oxigénio nos pacientes. Isto para "evitar que o primeiro contacto das pessoas com a medicina seja a reanimação, com uma probabilidade de morrer muito mais importante do que se forem cuidados precocemente" (p.443).

11/Julho/2021

Ver também:

  A Covid, os governos da UE e as multinacionais farmacêuticas , por Dra. Ángeles Maestro

  "Somos cobaias humanas": Taxas alarmantes de acidentes após vacinas mRNA exigem acção urgente , por F. William Engdahl

Esta resenha encontra-se em https://resistir.info/

Sem comentários:

Mais lidas da semana