sábado, 2 de outubro de 2021

Ex-diretor da secreta quer Nyusi e Guebuza em tribunal

MOÇAMBIQUE | DÍVIDAS OCULTAS

Gregório Leão, antigo diretor do Serviço de Informações e Segurança do Estado, volta a sugerir que o Presidente Filipe Nyusi e o seu antecessor, Armando Guebuza, se sentem no banco dos réus.

"Eu não devia estar aqui sozinho", afirmou o arguido Gregório Leão no quarto dia consecutivo de audições.

O ex-diretor do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE) é acusado do crime de "associação para delinquir" por ter participado em reuniões do Comando Conjunto e do Comando Operativo Forças de Defesa e Segurança.

As duas entidades aprovaram a criação da Zona Económica Exclusiva, um projeto que descambou nos empréstimos que endividaram o país em mais de 2,2 mil milhões de dólares.

Por isso, Gregório Leão disse esta sexta-feira (01.10) em tribunal: "Se é associação para delinquir [...] no âmbito deste projeto, seríamos todos nós, os membros do Comando Operativo."

'Quem tem provas, que as entregue'

O juiz da causa, Efigénio Baptista, reiterou o que disse na quinta-feira: que não há indícios de que o Presidente Filipe Nyusi e o seu antecessor tenham recebido dinheiro da Privinvest, empresa acusada do pagamento de subornos no âmbito do projeto da Zona Económica Exclusiva.

O magistrado frisou que todas as contas de Nyusi e Guebuza foram rastreadas; há milhares de páginas de extratos bancários, que constam do processo: "Não tem nada", resumiu Efigénio Baptista.

"Quem tiver [provas], que vá entregar à Procuradoria-Geral da República. Faz um favor aos moçambicanos", rematou.

No último dia da audição do réu Gregório Leão, o antigo diretor da secreta moçambicana denunciou perseguições e ameaças à sua família devido a este processo.

"Na sequência do que estamos a analisar – e não digo que não podemos analisar – havia ameaças na minha casa; há pessoas a circular e não sei se estão credenciadas. Dizem que são da Procuradoria e que as pessoas têm que sair da casa, porque querem fechar a casa. Dizem que é uma ordem superior", afirmou Leão.

A audição do arguido António Carlos do Rosário, que chefiou as três empresas estatais que beneficiaram das "dívidas ocultas", a Proindicus, MAM e Ematum, estava prevista para esta sexta-feira. Mas, devido à complexidade do julgamento de Gregório Leão, a audição foi adiada para a próxima terça-feira.

Romeu da Silva (Maputo) | Deutsche Welle

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