Artur Queiroz*, Luanda
Os nazis diziam que o trabalho
liberta. Os patrões perceberam a mensagem e começaram a calcular os salários
pagando com 99 por cento de liberdade e um por cento
O prestimoso Jornal de Angola é odiado pelo engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior e toda a Oposição. Odiado e espezinhado pelo Sindicato dos Jornalistas. Odiado e abusado pelo João Melo, que faz dele moeda de troca para a sua promoção no Diário de Notícias, brasão do Galinha, uma espécie de chefe da extrema-direita mediática portuguesa. Após a golpada do 10 de Janeiro, o nosso diário generalista publicou um texto de opinião onde nos ensinam o que é sindicalismo. Ontem mais um texto opinativo garantindo que há o direito à greve e os taxistas são uma peste quase tão incómoda como o COVI19.
Alto lá com os equívocos.
Sindicalismo é actividade de sindicatos. Onde estão as organizações sindicais
dos taxistas? Apontem uma, por favor. Direito à greve é para trabalhadores, os
tais que recebem uma fatia leonina em liberdade e um nadinha
Leonardo Lopes é o presidente da Cooperativa dos Taxistas Unidos de Angola e teve de pegar em megafones para informar a opinião pública que as cooperativas de taxistas não aderiram à greve da golpada no dia 10 de Janeiro. Cooperantes não são trabalhadores pagos com liberdade às toneladas e um nadinha de dinheiro. Cuidado com os equívocos.
A Associação dos Taxistas de Angola, pela voz do seu presidente, disse na Rádio Despertar que ia acontecer o que aconteceu no dia 10 de Janeiro. São trabalhadores ou patrões? Corre uma versão um tanto inquietante. A instituição é uma espécie de atrelado da UNITA e os seus membros, activistas do Galo Negro. Militantes de partidos políticos fazem greves em nome de quê? Por melhores salários não é. Só pode ser em cumprimento das suas tarefas políticas. Cuidado com os equívocos.
As cooperativas de taxistas não aderiram à greve da golpada no dia 10 de Janeiro. Mas as associações patronais aderiram. Greve? Makuto-é! Uma das reivindicações é que os taxistas possam descontar para a Segurança Social. Qual é a dúvida? Qual é o entrave? Que descontem. Todas as contribuições são necessárias e bem-vindas. Se descontam como assalariados, cooperantes, trabalhadores por conta própria ou patrões isso é lá com eles. Mas atenção! As entidades patronais têm o dever de inscrever os seus trabalhadores na Segurança Social. E fazer os descontos legais. Os trabalhadores por conta própria e as cooperativas têm o mesmo dever. Cuidado com os equívocos.
Os taxistas da ATA queixam-se de que a polícia não deixa fazer reuniões na rua. Pelos vistos os activistas políticos que dominam a instituição não sabem que está em vigor o Decreto Presidencial sobre a Situação de Calamidade Pública. Quando o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior voltar da reunião com o conselho de administração da UNITA em Lisboa, vai explicar-lhes. Cuidado com os equívocos. Calamidade pública não é só o Galo Negro.
Acaba de ser anunciada a criação da Câmara Nacional dos Taxistas para defender os interesses do sector. Escrevi sector, não classe. Uma “câmara” não é um sindicato, nem na cabeça dos sicários da Jamba. A confusão criada só interessa mesmo aos golpistas. Os trabalhadores dos táxis, sejam motoristas, lotadores ou cobradores são os mais prejudicados. O Estado deve exigir dos patrões que legalizem os seus colaboradores. Eles próprios têm o dever de não aceitar o trabalho sem direitos. As cooperativas têm um papel vital na moralização do serviço de táxi construído na base dos antigos candongueiros.
As associações patronais têm todo o interesse em acabar com o caos no sector. O Estado já teve mais do que tempo para oferecer aos consumidores, transportes públicos eficazes e seguros. Quando uma carrinha de caixa aberta transporta 20 pessoas, se há um acidente com capotagem da viatura, morrem todos. O Estado tem o dever de proteger vidas, não é deixar morrer cidadãos em transportes ilegais e perigosos. Por mais que haja interesses ocultos na candonga dos transportes. Cuidado com os equívocos.
Agora vou fazer um intervalo curto nas minhas férias, um ou dois minutos. A senhora vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, no fragor da greve golpista de Luanda, no dia 10 de Janeiro, disse, muito empolada, que não é com violência que a Oposição chega ao Poder. Admira como ainda não perceberam isso. Mas com o entusiasmo disse algo que me deixou siderado: - “O Presidente João Lourenço vai ganhar as eleições!” Grande equívoco. Em Agosto, os partidos políticos é que vão a votos e as eleições servem para eleger deputados. O cabeça de lista do partido mais votado é Presidente da República.
Muita atenção. Se nenhum partido tiver maioria absoluta, o cabeça de lista do partido mais votado vai ter que se desdobrar em negociações e assumir compromissos, se quiser cumprir o mandato. Está visto que o MPLA concorre sozinho contra todos. Isto quer dizer que há o risco real de termos na Assembleia Nacional mais deputados eleitos dos outros partidos, do que do partido que ganhar as eleições.
O Presidente João Lourenço não vai a votos. Vai o glorioso MPLA e sua excelência é apenas o primeiro da lista nacional de candidatos a deputados. Cuidado com os equívocos e com o culto da personalidade que o próprio repudia. O Presidente da República também cometeu um pequeníssimo equívoco. Na segunda-feira seguinte à greve golpista, demitiu o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida.
Mau sinal enviado à sociedade. Cuidado que a polícia foi incompetente. E bom sinal aos golpistas: Com o 10 de Janeiro deitámos abaixo o comandante da polícia. No próximo vai o ministro do Interior. E depois cai o Presidente da República. Venham daí mais greves golpistas, com muita força!
Volto a entrar de férias e desculpem-me alguma palavra mais maldita.
* Jornalista
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