sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

IGREJA DE SUMBE CAPOEIRA DO GALO NEGRO

Artur Queiroz*, Luanda

Joaquim Matias é padre no Sumbe. Durante uma missa despiu a sotaina e enfeitou-se com as penas do Galo Negro tornando-se um militante político. A metamorfose aconteceu no altar, um lugar sagrado, durante a homilia, conversa familiar do sacerdote no decorrer do culto, após a leitura do Antigo e do Novo Testamento, imediatamente antes da recitação do Credo.  A homilia tem a função de explicar a fé e o significado dos vários elementos litúrgicos. O padre preferiu bolsar o discurso da UNITA.

Os fiéis que faziam o santo sacrifício da missa não gostaram que o padre Joaquim Matias se enfeitasse com as penas do Galo Negro. Até porque mais de 90 por cento eram militantes apoiantes ou amigos do MPLA. É assim em todo o lado, nas igrejas, nos táxis, na zunga, nas fábricas, nas casas comerciais, nas repartições públicas, nas forças armadas e de segurança, nos campos, nas escolas, nos centros de saúde e hospitais. A Direcção Provincial do MPLA no Cuanza Sul protestou contra a falta de respeito do padre Joaquim Matias pela Igreja e pelos fiéis todos que estavam presentes na missa.

Um amigo acaba de me enviar um som no qual outro padre vem em defesa de Joaquim Matias mais ou menos nestes termos: Ele disse a verdade ou não disse? Então se tudo o que disse durante a homilia é verdade, o MPLA não pode criticar o sacerdote. Antigamente os padres da Igreja Católica eram bem preparados, tiravam cursos superiores de filosofia e teologia. Hoje pelos vistos vão frequentar umas aulas na UNITA e recebem os hábitos.

Senhor padre desconhecido, a verdade é aquilo em que acreditamos! Acredito em Deus, logo Ele existe. A minha verdade outra, não acredito em deuses logo nenhum existe, A minha verdade não é menos verdadeira do que a sua. É a minha. Portanto, o problema da homilia na igreja do Sumbe, nada tem a ver com verdade ou mentira. O padre Joaquim Matias ou outro qualquer não pode fazer política no altar. Tem todo o direito de alinhar ao lado da UNITA mas não durante um culto, onde os fiéis são seguramente em maior número do MPLA. E mesmo que todos fossem de outros partidos. Na Igreja, durante a missa, o padre trata da sua religião.

O padre Joaquim Matias ao fazer política no altar não foi digno da Liberdade de Culto. Não foi digno do regime democrático. Não foi digno da Igreja que representa. Este, sim, é o problema. Não nos atirem à cara com a vossa verdade, porque vale tanto como a verdade dos outros. A minha verdade está muito próxima do Atahualpa Yupanqui,que cantava: Dizem que Deus existe/ Talvez sim/Talvez não/ Mas é seguro que almoça/sentado à mesa do patrão. 

Senhores padres, quando quiserem, podemos falar de Deus mas não imponham a ninguém a vossa verdade. Porque no fim a vossa verdade é aquilo em que acreditam e a ninha é muito próxima disto: Não foi Deus que criou o Homem. Foram os homens que criaram Deus. Não contem comigo para essas criatividades. Respeito a vossa verdade, respeitem as verdades dos outros. É um sinal de inteligência. E se quiserem o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior no poder, façam política fora dos templos de culto. O padre Joaquim Matias não respeitou os fiéis que o ouviam. 

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana