quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Portugal | À TERCEIRA SÓ QUEM É TOLO

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Ponto prévio: Se um cidadão já tem 18 anos, se não tem problemas de saúde, se não vai de viagem para fora do país, não há muitos mais argumentos razoáveis para não votar. Há partidos e propostas em número suficiente. E há o voto em branco ou nulo. Não há conversa de café que justifique o desperdício de exercer o direito ou o desprezo pelo dever de votar. É assim, pelo menos, em tempos normais.

O problema é que não vivemos tempos normais. Apreciemos ou não as medidas de controlo sanitário, vivemos em pandemia. Que atirou muita gente para uma cama de hospital, para uma unidade de cuidados intensivos e até para a morgue. É natural, portanto, que haja receios. E que haja condicionalismos, regras mais apertadas, filas mais longas. Para tudo, incluindo o voto.

Não se pede um milagre aos poderes públicos. Haverá sempre perturbações. Não precisa de levar o cidadão ao colo até à urna de voto. Mas pode e deve exigir-se que organize tudo em devido tempo. Que não fomente equívocos. Que facilite e não complique. Como diz o provérbio, à primeira qualquer cai, à segunda cai quem quer. E há até uma versão na Internet que acrescenta que à terceira só cai quem é tolo. Nem de propósito, Portugal já vai nas terceiras eleições em pandemia.

Foi só a 5 de janeiro passado, tarde e a más horas, que o Governo pediu parecer aos magistrados sobre a possibilidade de permitir aos cidadãos isolados (serão cerca de meio milhão de pessoas no próximo dia 30) uma exceção que lhes permitisse exercer o seu direito ao voto. Duas semanas depois, estamos na mesma. Ou não há parecer, ou está metido na gaveta.

Também foi só depois da pressão pública dos autarcas que o Ministério da Administração Interna anunciou uma conferência de Imprensa, para dar conta das "regras claras" que lhe exigiram. Tão depressa marcou, como desmarcou. Fica para hoje (ou para amanhã, ou depois, tanto dá). Só faltam 13 dias para as eleições? É pouco? Calma, nós somos bons é a improvisar. Ou então apenas um pouco tolos. Segundo o provérbio.

*Diretor-adjunto

Sem comentários:

Mais lidas da semana