quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

TRISTE, LÁ VAI RUI RIO PELA CONFUSÃO E NEGRITUDE...

Viva e saúde que não falte. Este é o seu Expresso Curto servido tarde e a más horas. Desculpem pelo atraso. Atraso que não cabe aos da casa do Expresso. Atraso nosso, PG, porque os piratas não incomodam e fazem trampa só aos “grandes” mas também a modestos blogues e etc. Selvagens do piorio.

Visto isso, preferimos ser rápidos e passar já a seguir para o Curto. Hoje pela pena de João Pedro Barros, da casa do tio Balsemão-Impresa-Expresso… e o que mais vier.

À laia de nota rápida: Então Rui Rio anda a reabilitar o Chega fascista, racista e xenófobo e a fazer-nos recordar as tristezas que o mostram a “dar a mão” a saudosos do antigamente salazarista, fascista e colonialista. Gente também do piorio. Pois. Que triste confusão e negritude. Que coisa. Que morcão... Apre!

Adiante e Curto a seguir.

Bom resto de dia e saibam cuidar-se.

Redação PG

“Sou católico, mas não sou crente” (ou como os debates não estão a correr bem a Rui Rio)

João Pedro Barros | Expresso

Bom dia,

Nisto dos debates há opiniões para todos os gostos. Eleger um vencedor num confronto de ideias entre políticos com posicionamentos tão díspares como Rui Tavares e André Ventura é um exercício, no mínimo, complicado. Podemos separar completamente a forma do conteúdo e olhar para os oponentes como folhas em branco? Teoricamente sim, mas isso não será análise política.

O caro leitor até pode não gostar das notas de 0 a 10 que damos nos debates para as legislativas de fim do mês (hoje há PS vs. Chega, às 21h, na RTP1, e Bloco vs. Iniciativa Liberal, às 22h, na SIC Notícias), mas há dados objetivos, ainda que cada analista os valore de maneira distinta. Ou então tornámo-nos naqueles adeptos cujas equipas perdem por 5-0, mas que depois dizem que o adversário não foi melhor em campo, apenas se limitou a concretizar as ocasiões de golo.

Vem isto a propósito dos últimos debates em que participou Rui Rio: na segunda-feira frente a André Ventura (que inegavelmente ditou a agenda), ontem contra Catarina Martins. Não me parecendo ser a prisão perpétua um tema que preocupe mais do que uma franja de portugueses, a verdade é que a resposta do líder do PSD, logo na abertura, vai ser provavelmente o que fica na memória de quem assistiu ao “duelo” na SIC.

Quando Clara de Sousa lhe pediu para clarificar a posição acerca do tema lançado por Ventura, eis que Rio, que facilmente se podia ter libertado da armadilha à primeira oportunidade, voltou a enredar-se num tema que só lhe pode trazer engulhos. “Ficou provado que o Chega não quer exatamente a prisão perpétua, mas uma solução mitigada”, disse duas ou três vezes, normalizando uma proposta que nada tem a ver com a tradição penal portuguesa nem com a proverbial moderação do povo português. Catarina Martins chamou-lhe um figo e talvez tenha percebido logo aí que estava na frente do debate – e partiu, numa avaliação quase unânime dos comentadores do Expresso, para a sua melhor exibição da temporada.

É verdade que Rui Rio também repetiu depois duas ou três vezes que está contra a prisão perpétua e que por isso concorda com o Bloco – mas alguém que o tenha ouvido no debate com Ventura leu outra coisa que não uma abertura para a tal proposta “mitigada”?

Logo de seguida, o social-democrata cunhou uma frase que poderá ficar conhecida como o paradoxo (será que lhe posso chamar oxímoro?) de Rio: “Sou católico, mas não sou crente, não tenho fé”. Vou tentar traduzir: quereria dizer que não é praticante, mas que aprecia a doutrina social da Igreja – só que não deixa de ser um momento “como disse?”. 

Dá a ideia de que Rio não se preocupa com a estratégia nos debates, por uma razão que terá a ver com o seu lado virtuoso: o convencimento pleno nas ideias que carrega há anos e a crença de que um discurso demasiado preparado irá parecer plástico e desvirtuar a sua imagem. E a curta duração dos debates também não o favorece – e ainda menos que use expressões como “se tivesse tempo explicava”. No último plano do debate, Rui Rio encolhe os ombros como quem diz “agora que estava a começar a engatar…”.

Mas o tempo tinha terminado e o candidato a primeiro-ministro não foi convincente nas deambulações por nenhuma área da governação: nem na questão dos salários – ficou a ideia de que o salário mínimo terá de ficar “congelado” longos anos até que o salário médio o possa acompanhar –, nem no SNS (terminou outra vez a concordar com Catarina Martins e não seria difícil ter “ferido” o verdadeiro rival, o PS), nem no financiamento da Segurança Social.

Que me perdoe Rui Rio, que sabe muito mais do que eu sobre todos os temas que verdadeiramente interessam à governação do país, mas não consigo deixar de olhar para os debates como jogos em que teve por várias vezes a baliza aberta – ainda assim, não acertou uma vez no alvo. Já os adversários aproveitaram distrações alheias para meter umas “batatas” na baliza do PSD. É certo que ainda estamos no terreno dos “amigáveis”: a final é com Costa, daqui a precisamente uma semana.

(Sobre os outros debates do dia, breves notas. Francisco Rodrigues dos Santos – “o líder mais jovem com a cabeça mais velha” – em ataque desesperado contra Cotrim Figueiredo – líder de um partido que é, diz “Chicão”, como o “Chega com uns trocos no bolso”. Saiu-se melhor o Iniciativa Liberal, avaliam os nossos comentadores. No último do dia, André Ventura usou o tradicional discurso ultra-agressivo – misturar Salgado e Sócrates num debate sobre Rendimento Básico Incondicional é o cúmulo da demagogia – contra um Rui Tavares com a lição bem estudada mas a quem faltou um pouco mais de simplicidade e incisividade. Para os nossos comentadores, o presidente do Chega perdeu por KO.)

OUTRAS NOTÍCIAS

#liberdadeparainformar – Na sequência do ataque informático de que Expresso e SIC foram alvo, o Grupo Impresa divulgou ontem um comunicado com esclarecimentos aos leitores e espectadores. Anteontem lançámos uma versão provisória do nosso site, que estamos a melhorar continuamente para a aproximar do patamar que os leitores exigem e que exigimos a nós próprios. O trabalho está a ser duro, vai ser longo, mas acredite que vamos sair mais fortes. 

À vontade mas não à vontadinha – É um bocadinho isto que o Conselho de ministros deve decidir hoje em relação a medidas sobre a pandemia. De acordo com o “Público”, o Governo vai assumir a reabertura das escolas na segunda-feira, como estava previsto e era previsível, e não vai impor medidas adicionais. Na reunião do Infarmed de ontem foram deixadas algumas pistas sobre decisões que podem ser formalizadas mais logo, no Palácio da Ajuda, em Lisboa: restrições por sector, autotestes gratuitos e uma nova linha vermelha, estabelecida pelo número de doentes nos cuidados intensivos e pelo índice de transmissibilidade, desvalorizando o total de casos.

Fim do confinamento das turmas – A contribuir para a decisão acima parece ter estado a atualização da norma de rastreio de contactos divulgada ontem à noite pela DGS: um caso positivo numa escola não será considerado um contacto de risco e não obriga ao isolamento da turma, mesmo que as crianças não tenham ainda tomado a segunda dose da vacina, o que contraria afirmações anteriores da diretora-geral da Saúde.

Novo máximo de casos – O que se lê acima quase parece contraditório com um novo pico em 24 horas em Portugal, divulgado ontem: quase 40.000 casos, mas com os internamentos em cuidados intensivos ainda controlados e um tímido sinal de descida do R(t). Pode não ser ainda a endemia, mas é pelo menos uma fase diferente da pandemia.

Voto ou confinamento – Isto está tudo ligado: com um tão grande número de infeções e de contactos de risco, como garantir que isso não influencia o resultado das eleições? O Governo pediu um parecer urgente à PGR para perceber se é possível uma “suspensão” do isolamento para que essas pessoas possam votar a 30 de janeiro. Marcelo não se parece opor e falou numa “autogestão” da pandemia, a Comissão Nacional de Eleições também não vê impedimentos, conta hoje o “JN”.

Vacinação – Arranca esta manhã a vacinação de crianças entre os 5 e os 11 anos e, à tarde, a inoculação da 3.ª dose a professores e auxiliares de educação.

De prato vazio – Os empresários da restauração querem receber compensações para cobrir os prejuízos de 2021, porque os impactos das restrições, nomeadamente no período de festas, causaram “perdas colossais”.

O primeiro orçamento de Moedas – Proposta inclui transportes gratuitos, descontos na EMEL, unicórnios e plano de saúde para idosos, mas ainda tem de ser aprovada na Câmara e na Assembleia Municipal.

O protesto de Luís Dias – Agricultor vai voltar à greve de fome, agora em São Bento, e pergunta: “Que alternativa tenho?”.

Um ano depois – Quem são os homens que invadiram o Capitólio e quantos estão presos?

Futebol – O treinador do Sporting tem covid-19 e o Estoril-FC Porto vai mesmo jogar-se no sábado, apesar do surto que afetou o plantel da equipa de Cascais.

Sem licença para entrar – Mais um episódio da novela sobre a participação (ou não) de Novak Djokovic no Open da Austrália: o tenista (alegadamente não vacinado) viu a sua entrada no país recusada.

Artista X – O misterioso artista Rhed é, afinal, Rocco Ritchie, o filho de 21 anos de Madonna e do realizador britânico Guy Ritchie. Umas das suas inspirações é Paula Rego.

Podcasts – Muitos e bons. Money Money MoneyQuerida Pediatra e os debates das legislativas em destaque num Expresso da Manhã fresquinho e no Sem Moderação.

FRASES

O anúncio do fim da pandemia é capaz de ser bastante exagerado
Henrique Barros, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, na reunião de ontem entre políticos e peritos, no Infarmed

Quero realmente irritar os não vacinados. E assim vamos continuar a fazê-lo até ao fim. É essa a estratégia

Emmanuel Macron, Presidente francês, numa entrevista ao jornal “Le Parisien”, que está a provocar polémica

O QUE EU ANDO A VER

Escrevi o meu último Curto na semana passada, os dias têm sido curtos para o trabalho e, para além disso, vem um bebé a caminho, pelo que as minhas leituras têm andado em torno de livros sobre gravidez, paternidade e primeiros meses de vida. Assim sendo, acho mais interessante recomendar a mais recente temporada de uma série sobre a qual já escrevi no Expresso: “Gomorra”, a máfia sem glamour.

Chegou em novembro à HBO a quinta temporada de “Gomorra”, cujo último capítulo foi disponibilizado há umas duas semanas, mas ainda vou a meio do caminho. É uma série inspirada no livro homónimo do jornalista e escritor Roberto Saviano, sobre os bastidores da Camorra, a máfia napolitana, que se distingue pelo facto de ser pouco hierarquizada (o que gera mais conflitos do que noutras organizações criminosas do género).

Para quem já viu anteriores temporadas, há uma grande surpresa logo no final do primeiro episódio. Quem nunca viu “Gomorra” tem um grande banquete pela frente para deliciar: como tantas vezes sucede em séries com várias temporadas (estão todas ao dispor na HBO), alguns dos melhores capítulos surgem logo no início.

Do primeiro tomo, em 2014, retenho a sensação de “murro no estômago” pelo realismo dos diálogos e do enredo, pelos cenários decadentes dos bairros pobres de Nápoles, pela realização crua e noturna. Alguns episódios são exemplares na maneira como cruzam o enredo principal – a luta pelo poder entre os clãs, com destaque para os Savastano – com sub-histórias de personagens menores que, na maior parte das vezes, são carne para canhão.

Nesta quinta e última temporada, não sobram muitas cartas no baralho dos criadores da série e já não há o efeito surpresa das temporadas iniciais. A forma – acho difícil filmar melhor do que em “Gomorra” – tem-me enchido mais o olho do que o conteúdo da história, que tem mais ação (disparos, mortes, emboscadas) do que no passado. Pode ver-se isto como uma espécie de espiral: aproxima-se o inevitável confronto entre as duas mais importantes personagens.

A direção de atores é estupenda e cada vez mais se destaca Salvatore Esposito. O ator napolitano é excecional na maneira como faz evoluir Gennaro Savastano do modo “playboy” da primeira temporada até ao “capo” angustiado e atormentado desta última encarnação, que raramente sorri e que vemos a hiperventilar de cada vez que algo lhe atrapalha os planos. Só por ele vale a pena ver “Gomorra”.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha um excelente Dia de Reis e obrigado pelo seu apoio nesta luta pela #liberdadeparainformar. Nós vamos continuar deste lado a acompanhar a atualidade em permanência.

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