Namalimba era tão bela que o Sol do meio-dia se envergonhava quando a via, procurando refúgio nas sombras. Nas florestas de Halavala, à vista do reino de Ombalundo, todos os animais queriam conhecê-la e casar com ela. Até Hosi, o soberano de todas as terras do Planalto Central, foi pedir a sua mão. Mas ela disse que não ao rei leão! Ngeve, o rei dos rios, também foi seu pretendente. Mas ela recusou o riquíssimo hipopótamo. Disse-lhe gentilmente:
Watundila k’ilu lyongeve, katyukila. Quem um dia saiu de cima do hipopótamo nunca mais volta para perto dele.
A mãe de Namalimba, Cokolondona, ficava admirada quando Ekumbi escondia seus raios de luz nas montanhas do Cathiungo, para deixar resplandecer a beleza da filha. E como era pobre, sonhava com o dia em que aparecesse um pretendente rico para casá-la. Até lá, passava o dia agarrada ao pilão fazendo fuba de milho.
Um dia apareceu um pretendente. Era Ngeve, o rei dos rios. Ele disse a Cokolondona que tinha visto Namalimba a banhar-se no rio e ficou apaixonado por ela.
- Dás-me a mão da tua filha e eu dou-te todos os rios e as suas mães, nas montanhas do Bié.
Cokolondona, entusiasmada, cantou: A Namalimba/ a Namalimba/ ndo lame ukombe wove/ ove a Nanmalimba ca! A pobre mulher chamou sua bela filha para saudar tão ilustre visita. Do quintal veio uma voz maviosa:
- Quem é o ousado?
Cokolondona respondeu: é o reio dos rios, Ngeve!
E a menina com sua voz de brisa passando no capinzal:
- Si yongolale – ove a Namalimba ca!
E rejeitou todos os ilustres pretendentes, um por um. Lá no alto, Ekumbi brilhava ainda mais. A bela Namalimba, por quem se enamorou desde o amanhecer ao fim do dia, continuava a ser dele.
Um dia, Cokolondona recebeu na sua casa o rei Hosi, impante na sua juba real:
A Namalimba/ a Namalimba/ ndo lame ukombe wove/ ove a Nanmalimba ca!
- Ukombe Helie?
- Ove a Namalimba ca ukombe Hosi – ove a Namalimba ca!
- Si yongolale – ove a Namalimba ca! Não me interessam reis poderosos nem ricos pretendentes. Quero ser livre de escolher o meu esposo.
Na floresta de Halavala os animais reuniram-se. Isto foi no tempo do Kaprandanda, quando o homem era burro e o burro era homem. Todos contaram as suas desditas de amor. Todos tinham sido rejeitados por Namalimba.
Kambeu, o cágado sábio, que esteve sempre calado, solicitou respeitosamente silêncio e falou:
- Eu vou pedir a Cokolondona a mão de sua filha Namalimba.
Todos soltaram gargalhadas que fizeram tremer as árvores. E Hosi, rei de todos os reis, falou:
- Nós, tão grandes, tão possantes e tão belos fomos rejeitados e tu, Kambeu, queres conseguir mais do que nós? Não vás. Ongue, Ukombe Mbambi e todos os outros disseram ao humilde cágado:
- Não vás, ela humilha-te…
Mas Kambeu, determinado, respondeu:
- Deixem-me tentar. E lá partiu em direcção a casa de Namalimba.
Cokolondona, nesse momento, dizia à filha:
- Namalimba, o teu destino vai ser triste, rejeitas todos os pretendentes… Estava Cokolondona despejando suas tristezas sobre o pilão quando Kambeu bateu à porta. Ela foi ver quem era e de seguida cantou:
- A Namalimba/ a Namalimba/ ndo lame ukombe wove/ ove a Nanmalimba ca!
- Ukombe Helie?
- Ove a Namalimba ca ukombe Kambeu – ove a Namalimba ca!
A menina vestiu os seus mais belos panos e veio saudar o cágado. De seguida abraçaram-se. Kambeu perguntou a Namalimba se queria ser a sua esposa. E ela disse que sim.
Então partiram para a floresta, onde construíram uma casinha com ramos entrelaçados e ali viveram felizes para sempre: Olupolo ka wendanda otembo ka niñili.
Moral da minha historinha: Ndete v’iso ongulu mwele ikeña-keña, ikambula, oku l’oku, elemba lyoluneleho lwotjyumbo. Tradução livre: Vejo com os meus olhos um porco, que ronca, captando, aqui e ali, o perfume de uma flor de jardim.
*Esta história foi-me cantada pelas professoras Flora Linda e Judite Felícia no Huambo. É contada às crianças com dança, canto e música. Iniciação nas artes.
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