quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

NOVA ORDEM MUNDIAL

Paulo Rego* | Plataforma | opinião

A China assume uma posição de força ao lado da Rússia. Talvez inesperada, nada surpreende. Lembro-me de ouvir oficiais chineses perante a crescente pressão norte-americana contra investimentos chineses e a sua crescente influência: “Não queremos isso, mas se nos obrigam ainda nos aliamos a Moscovo”. A ambição chinesa é incontornável. Até agora gerida atrás da cortina do ‘soft power’, assume agora a ambição de uma nova ordem mundial. A futura maior economia do mundo não aceita uma visão do capitalismo global com regras impostas pelos Estados Unidos e seus aliados. 

É ingénuo olharmos para este conflito como um choque entre democracias e ditaduras/oligarquias. Está em causa uma luta de poder e influência global. Uma coisa é aceitar que as populações a ocidente, habituadas a votar nos seus governantes e a exigir um conjunto de direitos, liberdades e garantias, temam a crescente influência de quem impõe o poder absoluto. Outra coisa – no fundo é a mesma – é perceber que as populações a oriente, habituadas a oligarquias, como a russa; ou a ditaduras, como a chinesa, estão mais interessadas em afirmar o seu ego, cultura e visão do mundo.

Acreditam, aliás, que o merecem e que isso resulta na melhoria direta das suas condições de vida. Tendem por isso a apoiar os seus governantes contra o inimigo externo que quer mandar no mundo. 

Não acho nada que vá haver guerra convencional na Ucrânia. Não por questões morais ou bom senso de qualquer das partes. Mas porque a mútua destruição não serve o interesse de nenhum dos lados. Contudo, muita coisa mudou. Biden tem de encontrar uma narrativa para recuar no avanço da NATO sem perder a face a ocidente. O mesmo dilema põe-se diretamente ao recuo de Putin – indiretamente a Xi Jinping. 

Muito mais que o domínio do Mar Morto, recursos naturais ou guerra tecnológica, está em causa o organograma da governação global com a integração de mundivisões tão diferentes. Todos têm de ceder – e todos têm de ganhar. Esse é o verdadeiro desafio. 

*Diretor-Geral do PLATAFORMA 

Este artigo está disponível em: 繁體中文

Leia em Plataforma: China para que te quero

Sem comentários:

Mais lidas da semana