segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

SOBRE A "ESTRATÉGIA" DOS GÉNIOS CRIATIVOS DE WASHINGTON

Andrei Martyanov [*]

A estratégia dos EUA para "consertar" a Rússia na Europa, impondo-lhe "sanções esmagadoras" para depois atacar a China, está a fracassar. Isto acontece porque foi totalmente mal concebida.

Estratégia é uma palavra da moda entre políticos e jornalistas porque é "carregada" e dá uma impressão de alguma coisa realmente misteriosa e fria. Falarei sobre isso no meu próximo vídeo. Estratégia como um "plano" para alcançar objectivos políticos em qualquer coisa, no entanto, no campo da geopolítica prática da segunda metade dos séculos XX e XXI é um bocado mais do que um "plano". Tal como em campanhas militares, ninguém se pode tornar um "estratega" sem ter antecedentes tácticos e operacionais e é por isso que toda a educação militar avançada no mundo é estruturada com o objectivo de elevar um oficial do nível táctico, para o nível operacional e para o nível do pensamento estratégico, fornecendo assim um eixo em torno do qual irão girar todas as decisões estratégicas, com contributos dos níveis táctico e operacional. Não é assim que funciona a "ciência" política moderna e que no Ocidente passa por "tomada de decisões estratégicas".

A geopolítica moderna, primariamente como o reino do poder bruto dos estados projectado contra o pano de fundo geográfico, é desconhecida da classe governante ocidental. Ela não pode ser conhecida devido a uma falta de compreensão radical dos instrumentos que ditam a realidade geopolítica – economia física e militar. Estes campos SÃO muito complexos e, em algum momento do tempo, a "elite intelectual" do Ocidente, a qual cresce e é criada primariamente dentro dos limites dos departamentos de "humanidades" da Ivy League dos EUA e das antigas instituições educacionais do Reino Unido, ficou simplesmente sem conhecimentos especializados, os quais já faltavam mesmo no fim do século XIX. No século XXI, explicar a Vicky Nuland ou a Jake Sullivan o que é topologia das redes de combate (concedendo que lhes é ministrado o curso básico de Teoria dos Grafos) e como isto é não menos importante do que o poder de fogo bruto, é uma missão impossível e um exercício de futilidade.

Mas isto é apenas um pequeno segmento, dentre muitos, da realidade moderna a qual é mais importante para a geopolítica prática e o equilíbrio global do poder do que opiniões pessoais de pessoas incompetentes com zero antecedentes no desenvolvimento de estratégias reais de desenvolvimento e governação. E é isto e muitos outros factores, e não alguns conceitos políticos abstractos, que conduzem as modernas estratégias reais. As "elites" estado-unidenses não fazem estratégias, elas fazem estratégias e doutrinas de intimidação as quais existem num mundo virtual de paixões pessoais de iliteratos, vinganças e ambições e os resultados de tais "estratégias" são impressionantes – o país, os EUA está a ser dirigido no terreno por pessoas que literalmente não sabem como funciona o mundo. Leia-se a excelente peça de Bernhard. Ali se explica como tais "estratégias" fracassam. Os EUA precisam de melhores "estrategas", não de hacks políticos que operam "estratégias" sobre um quadro em branco que falham uma vez atrás da outra porque estão desligadas da realidade. Mas, mais uma vez, isso leva-nos à questão mais vasta de as "elites políticas" dos EUA estarem à altura da tarefa. A resposta é óbvia – elas não estão.

02/Fevereiro/2022

  As respostas escritas dos EUA e da NATO às propostas russas podem ser descarregadas aqui.

[*] Analista militar, autor de Losing military supremacy: the myopia of American strategic planning,   The (Real) Revolution in Military Affairs e   Disintegration: Indicators of the Coming American Collapse.   As suas obras podem ser descarregadas aqui.

O original encontra-se em smoothiex12.blogspot.com/2022/02/bernhard-of-moa-did-good-write-up.html

Este artigo encontra-se em resistir.info

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