quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

TRAUMATISMO UCRANIANO

César Príncipe [*]

Os presságios de Joe e de seus acólitos e meninos de coro constituem, a poucos meses da debandada do Afeganistão, um CSMI/Comprovativo da Saúde Mental do Império. As fábricas de pânico laboram noite e dia. É a reindustrialização da América. Mobilizadas por Joe, o Profeta, as meretrizes da Velha Roma regressam às estradas e ao circo mediático: os russos estão às portas da Ucrânia. Fujam. Os russos irromperão, desde logo, em Dezembro de 2021, logo depois, em Janeiro de 2022, finalmente, impreterivelmente em 16 de Fevereiro de 2022. Portanto, daqui a poucas horas, o mundo prestará contas ao Criador e à Reserva Federal.

Joe, Por qué no te callas?

Entretanto, as tropas USA NATO apertam o nó à Rússia. E Portugal também está lá para ence(nações) de músculo. Depois das colónias africanas, as colónias americanas. Os USA e as suas forças instrumentais declaram não intervir, porque a Ucrânia não é membro da NATO. Acreditem os formalistas. A NATO está experimentada em bombardear e massacrar sem considerações formais. Jugoslávia: um dos álbuns sangrentos e radioactivos. Ainda se lembram? Uma coisa está comprovada pelos ERO/Expeditos Repórteres do Ocidente: as meretrizes estão na estrada. O circus maximus está montado em Washington e Kiev e noutras capitais da agitprop. Minhas senhoras e meus senhores, a Rússia está na iminência de cruzar as sagradas fronteiras de uma Antiga República Soviética. Mas a Rússia desmente, farta-se de desmentir e farta-se de denunciar a histeria e até a pretensamente ameaçada Ucrânia não vê sinais de tanques a rolar, aviões a zumbir, fragatas a apontar as canhoeiras na sua direcção. E para lá chegar, a Rússia conhece todos os caminhos, palmo a palmo. Mas Joe é Profeta e tira selfies às intenções do gigante eslavo e previne e manda alinhar os vassalos europeus. E os serviçais e o seu amo estão em retirada das posições em solo ucraniano. Temem ou simulam recear que os russos despejem milhares de mísseis. Faça-se jus: os foragidos não querem ser apanhados pelo fogo de Putin ou – quem sabe – de Joe. Em desespero de causa, Joe faz-se filho de Putin. Sim, os diplomatas e os instrutores e os mercenários da Academi e os inteligentes do costume aviam as malas. Compreende-se: entre tantas lanças e crateras e fragores, sentir-se-iam traumatizados.

Contudo, a Rússia já revelou ter sentido lógico nas artes da beligerância: só atacará se os seus interesses vitais forem alvejados pelas armas oficiais (Crimeia, por exemplo) ou por operações de sabotagem e actos de etnocídio, empreendidos pelos GNB/Grupos Nazis Bandera nas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk. Na circunstância, o Exército ucraniano seria rapidamente destroçado e o EFK/Estado Fantoche de Kiev colapsaria. E então, o NMN/Nosso Ministro das Necessidades seria dos primeiros a bradar aos ventos da História: Gasodutos, nunca mais. Vodka, de vez em quando. E nuestro hermano Pedro, el Pequeño, faria ecoar as carpideiras das horas graves: Espanha está de nojo. A NIA/Nova Invencível Armada, ataviada e enviada para o Mar Negro, sofreu um percalço instantâneo. Padece de cegueira e surdez electrónicas. Foi neutralizada sem um tiro. Baloiça nas salsas e sombrias águas, sob as ordens de El Rey Emérito, que decidiu tomar o lugar do Duque de Medina-Sidónia, que não se mostrou à altura no Canal da Mancha/Ano da Graça de 1588.

Assim seria. Está escrito nas estrelas. Não são precisos dotes visionários. Não o esclarecem directamente Putin e Lavrov. Têm nervos de aço e pa(ciência) de nação milenar. E, ao contrário de Joe, o Profeta, preferem evitar este cenário. A Rússia não carece de invadir a Ucrânia. Se justificável e imperioso, aplicaria tratamentos teleterápicos: já elimina pequenos alvos na Síria a partir de Moscovo e das águas profundas do Mediterrâneo e do Cáspio. O alarido à volta das manobras (agora em fase terminal) nada tem a ver com os exercícios em si mesmos (idênticos aos do ano passado) mas ao facto de recentemente a Rússia haver apresentado um rol de garantias mútuas de segurança. A invenção da invasão da Ucrânia foi posta em marcha para desviar as atenções da carteira de exigências e para criar a percepção, principalmente na Europa, de que a Rússia é um perigo tenebroso e inconfiável, que tem de ser cercado e punido à medida que levanta a cabeça. A Rússia não exige demais dos ditos parceiros ou sócios. Como confessou, com seriedade e aprumo, o Chefe do Estado-Maior da Armada da Alemanha (de imediato forçado a demitir-se), a Rússia tem todo o direito a relações transparentes e que se respeite a sua dignidade.

Joe diz ser católico. Mas não ouve o Papa. Quer guerra. Quer sanções. Quer mais, mais, mais vagas de refugiados. Mas sempre longe dos USA. E neste momento, eis-nos num apertado beco: onde encontrar abrigo antes do próximo dia 16? A Rússia é uma superpotência militar. Segundo o presidente da Croácia, mil vezes mais poderosa do que o cómico Zelensky. Os USA ficarão deveras decepcionados se os russos não escacarem a Ucrânia ou, pelo menos, não pulverizarem um quartel e uma igreja e um infantário. Vamos todos rezar pela Conversão da Rússia, desígnio que Lúcia, a Vidente, deixou por realizar. Que a Rússia cumpra a Palavra do Profeta. Se preciso for, que Joe se desautorize e desloque as predições do Juízo Final para 13 de Maio. Numa segunda escolha, para 1 de Março, Dia de Carnaval, em último caso, para 1 de Abril, Dia das Mentiras.

15/Fevereiro/2022

[*] Escritor.

Este artigo encontra-se em resistir.in

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