terça-feira, 1 de março de 2022

CONTOS POPULARES ANGOLANOS -- A Mãe que Gerou uma Pedrinha

Seke La Bindo*

Era uma vez o soba Tyipeku senhor de terras e gado. Os seus domínios percorriam as margens do rio Cuvango até se perderem de vista. Os súbditos viviam na abundância e todos eram amigos. Naquelas paragens havia água em abundância e os raios de sol faziam crescer a massambala nas imensas chanas. Todos os dias eram de festa e só se ouviam cânticos de alegria.

O soba era jovem e os mais velhos aconselharam-no a casar. Na cidadela real existiam duas jovens muito belas. Tyipeku hesitava em casar com uma ou com outra. Depois de longos meses de dúvidas, mandou chamar o adivinho e pediu-lhe um conselho:

- Qual das jovens devo desposar, Wanuka ou Ipumpu?

O adivinho pediu um dia para dar a resposta. Quando regressou a casa do soba trazia a solução:

- Os oráculos dizem que deves casar com as duas. 

Tyipeku aceitou o conselho e desposou as duas jovens. Ambas ficaram grávidas ao mesmo tempo e pariram no mesmo dia. Wanuka deu à luz uma pedrinha e Ipumpu, uma rã. O soba ficou muito desiludido com a cria de Wanuka e disse-lhe:

- Todas as minhas dúvidas acabaram agora. Nunca devia ter casado contigo, do teu ventre apenas saem pedras. Ipumpu é que gera a vida. 

Dito isto, o soba guardou a pedrinha numa caixa e desde então nunca mais quis saber da sua esposa Wanuka. Ipumpu tudo fazia para que a mãe da pedrinha fosse expulsa da cidadela real. Queria ser a única esposa.

Com o desgosto, Wanuka pegou na pedrinha e foi guardá-la na lavra onde todos os dias trabalhava. Voltou à aldeia e disse ao soba que lançou a pedra à Terra, que é a mãe de todas as criaturas. Tyipeku nem quis saber. Só tinha olhos para a rã.

Wanuka mal o Sol nasceu foi trabalhar para a lavra e o que encontrou causou-lhe um grande alvoroço. A palhota onde guardava os utensílios agrícolas estava transformado num palácio. Todas as terras das redondezas tinham grandes plantações de mandioca, milho e batata-doce. As chanas estavam repletas de massambala. Os pastores guardavam grandes rebanhos de cabras e manadas de bois. Jovens alegres dançavam belas danças. Era um nunca mais acabar de riquezas. 

À porta do palácio estavam sentadas duas meninas formosas, Intumba e Cassanga que cantavam esta canção:

- Cantemos a nossa alegria/pela princesa Intumba/sim, cantemos à alegria./O pai é uma cabaça de veneno mortífero/a mãe uma suave onda de água/aparentemente não gerou uma jóia/mas venham todos ver/ como a magia está trabalhando.

Tyipeku foi avisado dos acontecimentos fantásticos na lavra da sua esposa Wanuka. Era tudo tão estranho que foi ver o que se passava. Quando chegou ao paraíso criado pela pedrinha, ficou envergonhado e arrependido por ter desprezado a esposa que deu à luz uma pedra. 

Zangado, quando chegou a casa disse a Ipumpu:

- A única coisa que me deste foi uma rã que se multiplicou por milhares e a única coisa que fazem é comer. A pedrinha que Wanuka me deu, criou o paraíso. A partir de hoje deixas de ser minha esposa.

O rei pegou nas rãs que tinha em casa e atirou-as ao rio Cuvango, onde desde então passam a vida a chorar pela triste sorte da mãe: kwa, kwa, kwa!

Desde esse dia, Intumba e Cassanga cantavam nas festas o hino que exaltava os prodígios da mãe que pariu a pedrinha mágica: 

- Nana lindunda lya mema/kavembela ndandi, kavembela/indya utale ndandi mo ilima!

*Conto adaptado do livro O Mundo Cultural dos Nganguelas

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