Era uma vez o soba Tyipeku senhor de terras e gado. Os seus domínios percorriam as margens do rio Cuvango até se perderem de vista. Os súbditos viviam na abundância e todos eram amigos. Naquelas paragens havia água em abundância e os raios de sol faziam crescer a massambala nas imensas chanas. Todos os dias eram de festa e só se ouviam cânticos de alegria.
O soba era jovem e os mais velhos aconselharam-no a casar. Na cidadela real existiam duas jovens muito belas. Tyipeku hesitava em casar com uma ou com outra. Depois de longos meses de dúvidas, mandou chamar o adivinho e pediu-lhe um conselho:
- Qual das jovens devo desposar, Wanuka ou Ipumpu?
O adivinho pediu um dia para dar a resposta. Quando regressou a casa do soba trazia a solução:
- Os oráculos dizem que deves casar com as duas.
Tyipeku aceitou o conselho e desposou as duas jovens. Ambas ficaram grávidas ao mesmo tempo e pariram no mesmo dia. Wanuka deu à luz uma pedrinha e Ipumpu, uma rã. O soba ficou muito desiludido com a cria de Wanuka e disse-lhe:
- Todas as minhas dúvidas acabaram agora. Nunca devia ter casado contigo, do teu ventre apenas saem pedras. Ipumpu é que gera a vida.
Dito isto, o soba guardou a pedrinha numa caixa e desde então nunca mais quis saber da sua esposa Wanuka. Ipumpu tudo fazia para que a mãe da pedrinha fosse expulsa da cidadela real. Queria ser a única esposa.
Com o desgosto, Wanuka pegou na pedrinha e foi guardá-la na lavra onde todos os dias trabalhava. Voltou à aldeia e disse ao soba que lançou a pedra à Terra, que é a mãe de todas as criaturas. Tyipeku nem quis saber. Só tinha olhos para a rã.
Wanuka mal o Sol nasceu foi trabalhar para a lavra e o que encontrou causou-lhe um grande alvoroço. A palhota onde guardava os utensílios agrícolas estava transformado num palácio. Todas as terras das redondezas tinham grandes plantações de mandioca, milho e batata-doce. As chanas estavam repletas de massambala. Os pastores guardavam grandes rebanhos de cabras e manadas de bois. Jovens alegres dançavam belas danças. Era um nunca mais acabar de riquezas.
À porta do palácio estavam sentadas duas meninas formosas, Intumba e Cassanga que cantavam esta canção:
- Cantemos a nossa alegria/pela princesa Intumba/sim, cantemos à alegria./O pai é uma cabaça de veneno mortífero/a mãe uma suave onda de água/aparentemente não gerou uma jóia/mas venham todos ver/ como a magia está trabalhando.
Tyipeku foi avisado dos acontecimentos fantásticos na lavra da sua esposa Wanuka. Era tudo tão estranho que foi ver o que se passava. Quando chegou ao paraíso criado pela pedrinha, ficou envergonhado e arrependido por ter desprezado a esposa que deu à luz uma pedra.
Zangado, quando chegou a casa disse a Ipumpu:
- A única coisa que me deste foi uma rã que se multiplicou por milhares e a única coisa que fazem é comer. A pedrinha que Wanuka me deu, criou o paraíso. A partir de hoje deixas de ser minha esposa.
O rei pegou nas rãs que tinha em casa e atirou-as ao rio Cuvango, onde desde então passam a vida a chorar pela triste sorte da mãe: kwa, kwa, kwa!
Desde esse dia, Intumba e Cassanga cantavam nas festas o hino que exaltava os prodígios da mãe que pariu a pedrinha mágica:
- Nana lindunda lya mema/kavembela ndandi, kavembela/indya utale ndandi mo ilima!
*Conto adaptado do livro O Mundo Cultural dos Nganguelas
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