sexta-feira, 20 de maio de 2022

UNIDOS ATÉ À MORTE OU QUE A TURQUIA OS SEPARE – Artur Queiroz

 
Artur Queiroz*, Luanda

Um jurista doutorado, professor universitário, deus do Direito na terra prometida que é Portugal, disse, sem se rir, que os prisioneiros de guerra não podem ser exibidos, ninguém pode entrevistá-los sem a presença da Cruz Vermelha, convenções internacionais garantem-lhes um tratamento digno e humano. O mesmo iluminado, logo a seguir, comentou o julgamento de um militar russo, de 21 anos, que está a ser julgado em Kiev, enfiado numa gaiola e cercado de nazis armados até aos dentes. Um deles, todo vestido de negro, até tem o rosto tapado e exibe a sua arma com mira telescópica. 

Este prisioneiro de guerra pode ser exibido e julgado num pseudo tribunal de um país que o departamento de Estado dos EUA garante existir total subjugação do Poder Judicial ao Poder Político. Mas já foram revelados os rostos e os nomes de mais dois prisioneiros russos que, segundo os intrépidos repórteres portugueses, já assumiram a culpa e confessaram os seus crimes! Estes presos são julgados pelos seus carcereiros. Senhoras e senhores repórteres: Acham mesmo que aqueles desgraçados estão em condições de reclamar inocência? Por favor, se não são capazes de dignificar o jornalismo, pelo menos portem-se como seres humanos e não como macacos amestrados no circo montado pelo Pentágono, a CIA e os chefes da OTAN (ou NATO).

A Cruz Vermelha Internacional disse hoje que já registou centenas de prisioneiros de guerra ucranianos sob custódia da Federação Russa. A mesma prestimosa instituição, até hoje, nada disse sobre os prisioneiros de guerra da Federação Russa na Ucrânia. E nem uma palavra sobre aquela farsa que decorre no “tribunal” de Kiev. 

A ONU também está em silêncio. Nem sequer questiona o processo. Um militar da federação Russa terá disparado contra um civil e uns dias depois está a responder ante os juízes. Provas? Aquelas que a PIDE do Zelensky arranjou. Contrataram uma senhora para declarar que viu o soldado disparar! E basta. Como houve uma confissão, está tudo resolvido. Esta é a democracia deles todos, de Helsínquia a Washington, de Kiev a Lisboa, de Paris a Londres, de Madrid a Berlim.

O presidente Putin cometeu um erro capital. Pensava que ia dividir os 32 países da OTAN (ou NATO) mais os estados-membros da União Europeia. Enganou-se redondamente. Úrsula von der Leyen diz que a Ucrânia entra no cartel já amanhã. Charles Michel garante que a adesão começou ontem e termina depois de amanhã. O senhorito Josep Borrell leva ainda hoje o certificado da adesão a Kiev e entrega-o ao Zelensky. Todos unidos como betão.

O chanceler Olaf Scholz, único patrão da União Europeia, acaba de dizer que não aceita a criação de atalhos para a Ucrânia aderir ao cartel europeu. A adesão vai demorar anos.

“Restaurar as infraestruturas destruídas e revitalizar a economia ucraniana custará biliões. A União Europeia deve começar a lançar as bases para um fundo de solidariedade financiado por contribuições dos seus membros e parceiros”, disse o chanceler alemão. O veredicto está na frase final: "não há atalhos no caminho para a União Europeia”.

Como entretanto o cartel acaba, a Ucrânia vai aderir ao espaço onde os estados-membros pobrezinhos ficam a catar os restos no lixo deixado pelos ricaços.

A OTAN (ou NATO) também está mais unida do que nunca. Com a operação especial militar da Federação Russa na Ucrânia, ganhou uma alma nova. Até aqui atacavam cobardemente civis inocentes na Jugoslávia (até bombardearam a embaixada da República Popular da China em Belgrado), no Iraque, na Líbia, na Síria, no Iémen, em tudo quanto é alvo. Agora atacam uma grande potência militar, por procuração passada à Ucrânia! Já ganharam. A Federação Russa não quer a organização militar mais agressiva e reaccionária do mundo, nas suas fronteiras. Agora levam com a Finlândia e a Suécia. O secretário-geral, Jens Stoltenberg, disse que os dois países são recebidos de braços abertos e a adesão vai ser tiro e queda. 

Washington alinhou no mesmo coro. Lisboa mandou a Helsínquia um tal Cravinho com o alvará da adesão, já assinado. Londres ia mandar para Kiev a rainha Isabel II mas ela está pior da perna e foi aquele rapaz fogoso, o Johnson, danado para a brincadeira e a bebedeira. Ofereceu aos finlandeses o botão das armas atómicas. Os Media Ocidentais garantiram, em uníssono, que os dois países nórdicos já são membros da OTAN (ou NATO). Tudo mentira. A Turquia, que tem o segundo maior exército da organização ofensiva e assassina, disse que não.

O presidente Erdogan emitiu um comunicado onde é claríssimo: “Nós vetamos a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO”. E para não restarem mais dúvidas, fez esta declaração em relação às relações com Moscovo: “ A Turquia não pode recusar a Federação Russa nem o gás russo. Esta é para nós uma questão estratégica”. Conclusão: A organização militar mais reacionária e agressiva do planeta afinal não pode receber a Finlândia e a Suécia ainda hoje, nem de braços abertos. A Turquia veta. E sem unanimidade, nada feito. Como se vê, a OTAN (ou NATO) está mais unida do que nunca. Aquilo é um bloco de betão.

Um professor universitário português, daqueles que sabe tudo, disse isto ante as câmaras da CNN Portugal: “ A Turquia está com problemas económicos e Erdogan tem eleições para o ano. Se lhe derem dinheiro, aceita a Finlândia e a Suécia na NATO”. Eles pensam mesmo assim. Vou pôr o dedo na ferida. Este é o discurso dos supremacistas brancos. Dos nazis encartados. Para eles, os turcos são entre o preto e o asiático. Desprezíveis. Desde que lhes deem dinheiro eles ajoelham-se aos pés dos loiros nórdicos. Atenção! Este é o pensamento reinante no Ocidente. Estes são os valores deles. Querem regressar, depressa e em força, ao esclavagismo e ao colonialismo. 

A República Popular da China hoje já lhes leu a sentença. Tenham muito cuidado com as manobras que estão a fazer com Taiwan. Vai ficar muito perigoso para vocês. E depois a declaração bombástica: Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) têm de convidar outros países para a organização. Vem aí a nova ordem multipolar. Os donos dos Media ocidentais, um dia destes não têm dinheiro para pagar às empregadas e aos empregados. Os primeiros a ficarem sem a massa são as criadas e os criados para todo o serviço, na Inglória Ucrânia!

Denys Prokopenko, comandante do Batalhão de Azov está em boas mãos. Ontem, às 21 horas e 45 minutos, rendeu-se em Mariupol o segundo comandante, “Kalima” (Sviatoslav Palamar). Mais um herói prisioneiro de guerra dos que estão a ser derrotados pela Ucrânia. Zelensky insiste que os rendidos são heróis nacionais. Está a ser sincero. Ele identifica-se ideologicamente com os nazis. E não disfarça. Há centenas de prisioneiros ucranianos, da Guarda Nacional e do Exército, mas só os nazis Azov são heróis nacionais. Está tudo explicado.

Vários países europeus expulsaram dezenas de diplomatas russos. Chegou a hora da retaliação. Só hoje foram expulsos de Moscovo diplomatas de França (34), Itália (41) e Espanha (27). O Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa anunciou também a expulsão de “cinco empregados da Embaixada Portuguesa”. Na verdade só foi expulso um diplomata, que desempenhava a função de primeiro secretário. Os outros eram empregados. Mas como Portugal só tinha cinco diplomatas, a partir de agora ficou com quatro, mais a senhora embaixadora, Madalena Fischer.

As exportações das empresas portuguesas para a Federação Russa renderam, no ano passado, 178,4 milhões de euros. As importações atingiram mil milhões de euros. Estes dados são do Instituto Nacional de Estatística. Os russos compraram aos exportadores portugueses produtos agrícolas (16,6% do total exportado em 2021), madeira e cortiça (15,8%), máquinas e aparelhos (13,3%), produtos alimentares (sobretudo vinho) (13%) e calçado (7,6%). Foi tudo à vida! Alguém está preocupado com esses empresários? Nem pensar. Só conta o Zekensky e os negócios das Máfias de Leste. Isto vai acabar mal.

Portugal é o país do mundo com mais casos diários de COVID-19. Os técnicos de saúde exigem que o governo volte a fornecer testes grátis. A ministra Marta Temido recusa. Diz que o problema tem de ser resolvido com a responsabilidade individual. Sua excelência ainda acredita no Pai Natal. Num país onde Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa foram eleitos para dois mandatos presidenciais, falar de responsabilidade é uma piada de péssimo gosto.

* Jornalista

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