terça-feira, 5 de julho de 2022

VIVA O TRIBALISMO E O GOLPISMO ABAIXO O MPLA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Desta vez é para esmagar a concorrência. Querem votar num partido tribalista? Votem no MPLA. Golpistas do Maio de 1977, ergam-se das ossadas! Familiares saboreiem a vingança, servida com a temperatura dos gelados. Votem no MPLA. Nós somos os golpistas triunfantes. Os 0,21 por cento que votaram no Partido Renovador Democrático e os 0,23 por cento que votaram na Frente para a Democracia, hoje Bloco Democrático, votem em nós. Recalcitrantes da FNLA! Não vale a pena repetirem os erros do costume. Votem no MPLA. 

Não há tribalistas como nós, do Zaire a Cabinda, de Cabinda ao Leste, do Planalto Central ao deserto do Namibe. Nós garantimos reduzir Angola ao vosso kimbo, pôr no poder todos os povos de Angola porque isso de um só povo, uma só nação era um truque dos que fizeram do MPLA um movimento revolucionário libertador. Isso da liberdade é mania de branco. Morte aos brancos, vivam os indígenas! Até o Tonet vai na enxurrada e a CASA-CE fecha as portas. Coitado do Miau que ficou sem o sobado!  

Querem beijar os mortos e fazer o komba? Votem no MPLA. Nós fomos os únicos que conseguimos pôr de pé o negócio das ossadas. Vendemos as do Savimbi, passámos para os golpistas e qualquer dia vendemos os ossos dos reis do Congo, da rainha Nzinga Mbandi, dos reis do Bailundo e do rei das miúdas do Bairro Operário, o meu amigo Kid Kimdumba que morreu num desastre de mota, quando fugia da polícia. Vamos criar a cesta básica dos komba, para todos enterrarem os seus mortos sem sepultura. Se for preciso, o médico especialista em rins, Matadi Daniel, transforma ossos de galinha em ossadas dos heróis que deram o golpe de estado em 1977.

Sabem por que razão os golpistas perderam, tendo tudo nas mãos para ganhar? Porque queriam ser ossadas ao serviço do presidente do MPLA de turno. Os chefes do KGB em Luanda estavam do lado deles. Quando Nito Alves foi a Moscovo, quem lhe fez companhia dia e noite e depois escreveu o discurso que proferiu no Congresso do PCUS, foi o marechal Epichev, comissário político do Exército Vermelho. Os adidos militares soviéticos em Luanda, Pavel Stariakov e Yuri Fedin, eram os “conselheiros” dos golpistas. Os cubanos garantiram que ficavam em cima do muro. Honra e glória ao general Moracen! Foi o único que se mexeu na hora da verdade.

Então perderam mais como? Incompetência, incompetência, incompetência. Não acreditem quando os seus familiares e camaradas derrotados hoje dizem que eles eram a geração mais bem formada e politizada de Angola. Tudo fantasia. Matumbice em excesso levou-os à derrota. Tirando dois ou três equivocados, a formação dos golpistas era rastejante. E Monstro Imortal era um grande chefe militar num movimento onde eram todos políticos obrigados a pegar em armas em defesa do Povo Angolano.

O Savimbi tinha tudo para ganhar. Apresentou-se como maoista, o único que não dependia do apoio no exterior de Angola, o mais puro combatente da liberdade. Usou doses latifundiárias de demagogia e levou muita gente atrás dele. Um ano depois o balão estava vazio e o povo abandonou-o. Acabou nas mãos da PIDE, da tropa portuguesa de ocupação e mais tarde dos bandidos do regime racista da África do Sul. Esse também era o maior. O mais bem formado. O mais politizado. O mais ousado. Afinal não passava de um traidor desprezível. Acabou como acabam todos os pulhas da História. O MPLA que nasceu em 2017 aproveitou e estreou-se no negócio, vendendo as suas ossadas. 

Em 1974, quem estava próximo do MPLA sabia que antes de começar qualquer actividade, todos repetiam as palavras de rodem que eram a essência do programa do movimento. Abaixo o imperialismo! Abaixo o colonialismo! Abaixo o racismo! Abaixo o tribalismo! A Luta continua! A vitória é certa! E ninguém se retirava sem antes cantar  o hino do movimento. Era sempre assim, fosse nos centros de instrução revolucionária, nos quartéis das FAPLA, nas fábricas, nas oficinas, nos portos, nas lavras, nos escritórios, nas escolas.

O presidente do MPLA ontem foi a Caxito e falou às massas mas esqueceu-se dessa tradição (boa tradição!) e exaltou o tribalismo. Colocou num pedestal os golpistas do 27 de Maio de 1977 que, como se sabe, eram movidos também pelo racismo. Abriu as portas ao imperialismo e só não pediu socorro aos colonialistas porque eles estão nas lonas e o máximo que nos podem mandar é a figura caricata do Tio Célito ou o chupista António Costa. Também nos podem emprestar a Francisca Van-Dúnem mas não acredito que ela faça melhor do que aquela senhora que recupera activos.

Por falar nisso, não vou perder a oportunidade de lembrar, mais uma vez, que após o desmantelamento da República Popular de Angola e a adesão à economia de mercado (capitalismo) o MPLA impôs uma lei travão que consistia nisto: Nenhum estrangeiro podia ter empresas em Angola sem uma ou um parceiro angolano e a maioria do capital tinha que ser angolana. Foram adoptadas políticas de Estado que permitissem criar uma elite económica e financeira, com capacidade para liderar. 

Assim se fez. Isso não é corrupção. Esses grupos económicos e essas empresas não foram criados por ladrões e corruptos. Foram angolanas e angolanos que lideraram todos os processos. Que escolheram os seus parceiros. Pessoas e instituições (algumas do Estado Angolano) que hoje distorcem a realidade, mentem, manipulam não me merecem a menor credibilidade. Confundem propositadamente políticas de Estado com corrupção. Dizem-nos que houve exageros e desvarios. As provas até agora apresentadas nos Tribunais, não me convenceram. 

Não posso calar o que penso: Está em marcha uma operação para desacreditar o MPLA, os seus dirigentes e os seus governos passados. A favor de “grupos” e empresários que saíram do nada para o topo das actividades económicas, de um dia para o outro. Tipo roleta de casino na hora da sorte. 

Os partidos da Oposição não conseguem apresentar-se como alternativa. O MPLA está a ser desmantelado. Os votos de 24 de Agosto vão suportar uma democracia sem partidos. Se os militantes do MPLA permitirem. Ainda têm uma palavra a dizer. Uma palavra decisiva. Um grito de revolta é um bom começo. Abaixo o imperialismo. Abaixo o racismo. Abaixo o tribalismo. A luta continua. A vitória é certa! O povo heroico e generoso… Não vai deixar!

*Jornalista

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