Artur Queiroz*, Luanda
O nacionalismo angolano ganhou expressão na Imprensa Livre do Século XIX e o jornalista Arantes Braga, fundador do jornal “Pharol do Povo”, não hesitou em colar ao título o subtítulo, “Folha Republicana”. Foi o primeiro jornal de Angola que em plena monarquia, numa fase de tremenda repressão, se declarou defensor dos ideais republicanos. É considerado o mais arguto jornalista africano na produção de jornalismo político.
Júlio Lobato foi igualmente um talentoso jornalista angolano. Começou a sua carreira profissional na Imprensa Livre do último quartel do século XIX. Explodiu nos primeiros anos do século XX e em 1908 fundou o jornal “A Voz de Angola” que tinha como legenda: Libertando pela Paz; Igualando pela Justiça; Progredindo pela Autonomia. Este jornal tinha um contrato com a agência Reuter e publicava todas as semanas noticiário de Londres. Pela primeira vez um jornal de Angola assumia que era defensor da Independência de Angola. A repressão caiu sobre Lobato e o seu jornal, mas a semente ficou e germinou.
O movimento cultural Vamos
Descobrir Angola, iniciado nos finais dos anos 40, resultou na fundação do
MPLA. No dia 10 de Dezembro de 1956 nasceu o Nacionalismo Revolucionário que
culminou com a Independência Nacional em 11 de Novembro de
O senhor Adalberto da Costa Júnior disse a um canal português de televisão que os Media do sector empresarial do Estado nunca o entrevistaram. Um escândalo, disse o líder da UNITA. Quem não sabe é como quem confunde bagres com girinos. Tem perspectivas de batráquio. Mais grave ainda é que vi e li jornalistas e intelectuais seguirem a crítica do chefe do Galo Negro. Antes que a estupidez faça escola e caminho, dou um esclarecimento.
A Crónica e a Entrevista são géneros autónomos no Jornalismo. A Crónica fica situada a meio caminho entre a mensagem informativa a arte literária. Poucos conseguem o equilíbrio. Entre os cronistas de Língua Portuguesa, só Ernesto Lara Filho e Ruben Braga escreveram crónicas dignas desse nome, como quem respira. Baptista-Bastos, grande cronista, caía muito para o lado da Literatura. Manuel António Pina e Eduardo Guerra Carneiro foram inovadores. Casaram a mensagem informativa com a linguagem poética e assim nasceram crónicas do outro mundo! Únicas. Monumentos da preciosa Língua Portuguesa. Tirando estes nomes, é tudo aldrabice e falsificação.
A Entrevista nasceu na Imprensa dos EUA (como quase tudo o que há de melhor e de pior no Jornalismo) no início do século XX. Os jornalistas da época ditaram uma terrível sentença: Isto é frete! Apesar da gritaria este género jornalístico fez o seu caminho. Hoje é uma ferramenta indispensável para tapar vazios de informação.
A norma é esta: Se existe um vazio de informação sobre um acontecimento, uma instituição ou uma pessoa, vamos para a entrevista, Se não existe o vazio, a entrevista é frete. Há algum vazio de informação sobre o senhor Adalberto da Costa Júnior? Algum vazio de informação sobre a UNITA? Algum vazio de informação sobre a sua ideologia? Algum vazio de informação sobre o seu programa político? Nenhum vazio. Sabemos tudo. Logo, se houver entrevista é frete. O líder da UNITA reclamou porque os Media do sector empresarial do Estado não lhe fizeram fretes.
O Jornal de Angola, a Rádio Nacional, a TPA e a ANGOP são esteios da comunicação social angolana. Tiveram um papel importantíssimo na criação da consciência nacional. Foram as escolas da esmagadora maioria das e dos Jornalistas Angolanos. A Emissora Oficial de Angola, antepassada da Rádio Nacional teve um papel decisivo na Guerra da Transição (1974-1975). Andam por aí uns parasitas da palavra que em vez de escrever, balbuciam caracteres sem nexo. Alinham as palavras por sons e por alturas. São concorrentes dos aracnídeos. Por estupidez natural, passam a vida a denegrir os Media públicos.
Adalberto imita-os. Não sabem o que dizem nem o que escrevem. Respeitem o Jornalismo Angolano pelo seu passado e pelo seu presente. Sem os Media públicos não fica nada. E não acreditem que eles precisam de uma reforma. Paguem salários dignos aos seus profissionais. Garantam-lhes formação permanente. Ponham à sua disposição bons equipamentos. É isso que os Media públicos precisam.
O senhor Adalberto da Costa
Júnior quer que estrangeiros venham contar os votos das nossas eleições. A isso
chama-se um gravíssimo atentado à Soberania Nacional. Um insulto à Comissão
Nacional Eleitoral e ao Tribunal Constitucional. É cuspir na cara dos
eleitores, É a UNITA no seu pior. Em 1974, Jonas Savimbi declarou-se contra a
Independência Nacional. Em 1975, aliou-se aos invasores estrangeiros que
atentaram contra a integridade territorial. Em 1992, tentou matar a democracia
ainda no ovo. Em
Lá no Planalto Central, o povo diz que a UNITA não dá nada. Falam assim: Otjitakaya tjyaseka otulwa. A matacanha só dá pus.
Nos anos da Independência Nacional nada se fez, uma desgraça, dizem os sicários da UNITA e os accionistas da Sociedade Civil. Nestas coisas os números funcionam. Em 1955, dez anos antes da Independência Nacional, a população escolar em Angola era de 40.920 alunos. Ensino Superior não existia. Liceus com o terceiro ciclo (sexto e sétimo anos, preparatórios para a Universidade) só dois, em Luanda (Salvador Correia) e Lubango (Diogo Cão).
Este ano lectivo abriu com dez milhões de estudantes. Na província do Zaire, uma das mais pequenas de Angola, são 200 000 alunos em todos os graus de ensino, mais do que existiam em toda a colónia de Angola no ano de 1975. Entre a Independência Nacional e 2022 Angola teve de travar a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. O Povo Angolano bateu-se contra exércitos invasores estrangeiros e matilhas de mercenários mais os traidores internos.
É verdade: UNITA tjyaseka otulwa! É uma matacanha voraz que nos come os pés. Assim vamos andar mais como? Temos de nos libertar da matacanha com uma agulha e muita paciência.
*Jornalista
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