Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião
Não há nada de ecuménico no
perdão do cristianismo que permita aproximação ou desvalorização de um conjunto
de criminosos que viva encoberto
A título justificativo, Marcelo
refere que foram proferidas pela intuição de que muitas das vítimas não queriam
ou podiam falar. A desvalorização transfigurar-se-ia, assim, num apelo de
dedicação ao testemunho, uma exortação à denúncia dos que, silenciosos,
faltaram à chamada. Mas a frase do presidente é apenas e só um momento
muitíssimo infeliz. Isso e nada mais. Incompreensível na boca de qualquer
pessoa, insustentável na voz de um PR. A menção às centenas de cidadãos que lhe
manifestaram solidariedade nestes dias é a prova de um plano de fuga ao
sinistro. Todos os ziguezagues comunicacionais, desdobrados na multiplicidade
de momentos que se seguiram e
Crime, dizemos nós. O presidente não foi mal compreendido, o presidente foi infeliz. E tão mais fácil seria dizer que as suas declarações foram infelizes e que as críticas que choveram de todos os quadrantes são justificadas. Não está em causa, obviamente, o carácter humano de Marcelo ou qualquer dúvida que possa existir sobre o pensamento do PR numa matéria tão complexa e delicada como esta. A simplicidade de admitir que se pode ser infeliz-às-vezes é um desafio que encerra verdade, arrependimento e em nada macularia um pedido de desculpas. Fazê-lo à quarta declaração, à boleia e pelo arrasto da opinião pública é algo deprimente. Crime, disse ele.
O catolicismo do presidente da
República não pode ser questionado num Estado laico. Manda a higiene da
República, porém, que a confissão religiosa seja transparente, equitativa e não
crie questões existenciais a qualquer investigação. Lembremos a defesa pessoal
de D. José Policarpo e D. Manuel Clemente, assim como a rábula mal esclarecida
do(s) telefonema(s) a D. José Ornelas. Todos os episódios anteriores deixaram
Marcelo cair
*O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Músico e jurista
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