sábado, 10 de dezembro de 2022

NESTE NATAL SEJA SOLIDÁRIO, AJUDE UM RICO A SOFRER MENOS

Uma das coisas que salta logo à vista é a preocupação com que vivem todos os dias com a vida dos pobres. Eu, para vos ser sincero, nem me consigo pôr nos sapatos deles para conseguir imaginar a dor que é acordar todos os dias raladíssimo com os pobres.

Diogo Faro - A Cantiga é uma Arma | em Setenta e Quatro

Há um silêncio ensurdecedor generalizado, que por vezes é rasgado por um grito angustiante de verdadeira dor: é um rico a dizer que está muito preocupado com os pobres.

O silêncio é a nossa apatia, a de todos enquanto sociedade, perante o sofrimento que aflige tantos ricos. Numa altura do mundo, e do país, em que se fala tanto em minorias e opressões, em que tanta gente se mostra tão importada com os direitos das mulheres, da comunidade gay e não sei quê, dos negros, ou até dos coitados dos deficientes (ou pessoas com deficiência, como os politicamente corretos dizem, pronto), é no mínimo profundamente hipócrita que se fale tão pouco da tirania de que são alvo os ricos.

E uma das coisas que salta logo à vista é, como disse no início, a preocupação com que vivem todos os dias com a vida dos pobres. Eu, para vos ser sincero, nem me consigo pôr nos sapatos deles para conseguir imaginar a dor que é acordar todos os dias raladíssimo com os pobres.

Por exemplo, ainda há dias o Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, acordou com o habitual fardo de liderar uma das empresas mais ricas do país e de pertencer aos 5% da população portuguesa que detém mais de metade do total de riqueza do país e, como todas as manhãs, foi ao banco online verificar que os lucros da sua empresa se mantinham em pelo menos 419 milhões de euros, só em 2022. Depois levantou-se, e teve logo que se irritar com o chef particular que tem em casa por lhe ter feito umas torradas em vez de ovos de codorniz benedict, como se ele morasse em Linda-a-Velha ou noutro qualquer subúrbio, e dispôs-se a enviar um e-mail a todos os seus colaboradores, a quem paga o salário mínimo, para desejar um bom dia e pedir que sejam resilientes apesar de lhes ser cada vez mais difícil comprar comida no próprio supermercado onde trabalham, por causa da subida dos preços. Não conseguindo guardar para si o sofrimento de saber que existem pobres e, tendo as mãos atadas, não podendo fazer absolutamente nada para impedir que as pessoas passem fome, foi dar entrevistas para mostrar esta sua profunda preocupação que, quase de certeza, lhe anda a tirar o sono. Pode só tirar durante 10 ou 15 segundos, mas isto é tempo que vale imenso dinheiro por estarmos a falar de um CEO.

O mais triste é que foi logo criticado e acusado de tudo e mais alguma coisa, não tendo quase ninguém tido empatia pela sua dor, como se esta não fosse tão grande, ou ainda maior, do que a dos pais que não conseguem alimentar os filhos. A mim parte-me o coração, só de o imaginar no jacuzzi a derramar lágrimas no copo de Don Perignon, enquanto pensa nos pobres que passam fome.

Como ele, há inúmeros casos de ricos que vivem neste sofrimento atroz. Ao contrário do que se possa pensar, não é por defenderem a destruição da saúde e ensino públicos, apoiarem a especulação infinita do mercado imobiliário, serem absolutamente contra tetos máximos de preços dos combustíveis, ou quererem diminuir cada vez mais os impostos aos muito ricos e fazer de tudo para continuar a aumentar a desigualdade económica, que não se preocupam com os pobres. O ser humano é mais complexo que isso e um rico também chora.

Por isso, este Natal eu apelo: vamos ajudar os ricos a sofrer menos. Vamos abster-nos de nos queixar dos preços da alimentação e das rendas, vamos parar de dizer que os lucros das grandes empresas – como a Jerónimo Martins – são obscenos numa altura em que cada vez mais gente vive na pobreza. E já que temos tanto que poupar nas compras e prendas (forçadamente, por não termos dinheiro para mais), vamos poupar os ricos ao nosso queixume, para que eles possam ter um Natal mais descansado, menos sofrido.

Juntos, vamos salvar a consciência dos ricos.

Feliz Natal!

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