# Publicado em português do Brasil
Água e ar envenenados. Rios destruídos e, com eles, subsistência de comunidades. Acordos indenizatórios burlados. Repressão. Após explorar carvão por dez anos, mineradora retira-se em “lavagem verde” – mas não apaga rastro de dor
Estacio Valoi* de Maputo |
Em dezembro de
A alegação da Vale é praticamente uma confissão do impacto que causou: em linguagem business, apresenta planos de “reduzir impactos ambientais” e se tornar “neutra em carbono” até 2050. Naquelas áreas de concessão detidas pela companhia transnacional na escaldante província de Tete, encontramos um problemático padrão de violência, usurpação de terras e morte que contradiz totalmente o que a empresa diz a respeito do seu carvão “de fonte responsável”.
A mina de Moatize foi
oficialmente inaugurada em maio de 2011 e produz 11,3 milhões de toneladas de
carvão por ano. No seu relatório anual de
Entre 2009 e
Os reassentamentos foram caracterizados por vários problemas já amplamente documentados, incluindo falta de segurança das casas (infraestrutura falha, sistemas elétrico e de esgoto mal feitos), e localização em terras que não permitem a prática da agricultura de subsistência (solos de má qualidade, terras distantes dos mercados e sem acesso à água). Não obstante estes problemas já terem sido denunciados pelas comunidades afetadas e por várias organizações a nível nacional e internacional, a grande maioria não foi resolvida até hoje.
A Polícia da República de Moçambique (PRM), incluindo a sua Unidade de Intervenção Rápida (UIR), tem sido “usada” pela Vale em diversas ocasiões para dispersar e reprimir pessoas que protestam contra a empresa, através de espancamentos e uso de balas de borracha e balas reais. Também têm feito detenções arbitrárias de oleiros, que até hoje esperam por compensação devido à perda dos seus meios de subsistência.
Para piorar ainda mais a situação, jornalistas locais afirmam que têm sido intimidados e ameaçados pelas autoridades locais – incluindo o Presidente do Conselho Municipal de Moatize, Carlos Portimão – para que não reportem sobre estes assuntos. “Se queres reportar sobre a Vale, fala com os seus diretores, não com os locais ou com os oleiros” – dizem os diretores de rádios locais aos seus repórteres.