quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O DOSSIÊ MOÇAMBIQUE

# Publicado em português do Brasil

Água e ar envenenados. Rios destruídos e, com eles, subsistência de comunidades. Acordos indenizatórios burlados. Repressão. Após explorar carvão por dez anos, mineradora retira-se em “lavagem verde” – mas não apaga rastro de dor

Estacio Valoi* de Maputo | em Outras Palavras

Em dezembro de 2021, a Vale S.A. anunciou um acordo vinculativo com a Vulcan Minerals – uma companhia que é parte do Grupo Jindal – para vender a mina de Moatize e o Corredor Logístico de Nacala por US$ 270 milhões. A transação só poderá ser concretizada após aprovação pelo governo de Moçambique, mas já foi festejado por veículos do mercado financeiro como Forbes e Bloomberg. O anúncio vem dar conclusão a outro feito um ano atrás, quando, após uma década de exploração de carvão em Moçambique, a Vale S.A. apresentou planos de se desfazer da mina de Moatize, que explora em sociedade com a Mitsui Corp.

A alegação da Vale é praticamente uma confissão do impacto que causou: em linguagem business, apresenta planos de “reduzir impactos ambientais” e se tornar “neutra em carbono” até 2050. Naquelas áreas de concessão detidas pela companhia transnacional na escaldante província de Tete, encontramos um problemático padrão de violência, usurpação de terras e morte que contradiz totalmente o que a empresa diz a respeito do seu carvão “de fonte responsável”.

A mina de Moatize foi oficialmente inaugurada em maio de 2011 e produz 11,3 milhões de toneladas de carvão por ano. No seu relatório anual de 2009, a Vale declarou que detinha 1.087 milhões de toneladas de recursos de carvão (tanto provados como prováveis), por todas as suas minas e projetos, dos quais 87% (954 milhões de toneladas) estavam localizados em Moatize. O relatório também apontava para 2046 como a data projetada para esgotamento do projeto.

Entre 2009 e 2010, a Vale reassentou 1.365 famílias – nos reassentamentos de Cateme e 25 de Setembro – para instalar a mina de Moatize. Ao longo do Corredor de Nacala, mais cerca de 2 mil famílias foram reassentadas. A maioria das famílias reassentadas pela Vale sobrevivia de agricultura de subsistência e criação de gado.

Os reassentamentos foram caracterizados por vários problemas já amplamente documentados, incluindo falta de segurança das casas (infraestrutura falha, sistemas elétrico e de esgoto mal feitos), e localização em terras que não permitem a prática da agricultura de subsistência (solos de má qualidade, terras distantes dos mercados e sem acesso à água). Não obstante estes problemas já terem sido denunciados pelas comunidades afetadas e por várias organizações a nível nacional e internacional, a grande maioria não foi resolvida até hoje.

A Polícia da República de Moçambique (PRM), incluindo a sua Unidade de Intervenção Rápida (UIR), tem sido “usada” pela Vale em diversas ocasiões para dispersar e reprimir pessoas que protestam contra a empresa, através de espancamentos e uso de balas de borracha e balas reais. Também têm feito detenções arbitrárias de oleiros, que até hoje esperam por compensação devido à perda dos seus meios de subsistência.

Para piorar ainda mais a situação, jornalistas locais afirmam que têm sido intimidados e ameaçados pelas autoridades locais – incluindo o Presidente do Conselho Municipal de Moatize, Carlos Portimão – para que não reportem sobre estes assuntos. “Se queres reportar sobre a Vale, fala com os seus diretores, não com os locais ou com os oleiros” – dizem os diretores de rádios locais aos seus repórteres.

Angola | DESCOBERTA DA ÍNDIA E CONTAS A DESCOBERTO

Artur Queiroz*, Luanda

Há muito, muito, muito tempo havia um homem muito rico, muito rico, muito rico chamado Sô Vasco. Comprou caravelas de nau, pôs todas na água, correu com corrida, correu com corrida e um dia encontrou no meio do mar um homem muito grande, muito feio, que saiu da água e berrou:

- Xé Sô Vasco, vais aonde?

O Sô Vasco se assustou muito e respondeu baixinho:

- Sô Adamastor, faz favor, deixa só o branco chegar na Índia!

E ele deixou. Foi assim que os portugueses aportaram a Calecute, em 1498. Depois, segundo Fernando Pessoa, ficaram à boa vida. Porque antes, já tinham chegado à foz do rio Zaire (1482 e 1486) e navegaram com as caravelas de nau até às quedas de Ielala, em Matadi. Naquele tempo Banana e Boma eram mais importantes. E foram cidades angolanas até à Conferência de Berlim. 

Banana, em 1885 ainda era uma cidade angolana. O governo da colónia decretou que a partir de 31 de Dezembro de 1882, os navios da Empresa Nacional de Navegação que navegassem entre a Costa Oeste de África e Portugal deviam escalar no porto do Banana em ambos os sentidos. 

Com a Conferência de Berlim, Portugal cedeu à Bélgica as suas possessões na margem direita do rio Zaire. Em 19 de Fevereiro de 1885 a Península do Banana passou a ser território belga. Mas os angolanos foram protegidos e puderam continuar a residir na cidade. Os pais do músico e compositor angolano Liceu Vieira Dias, nacionalista da primeira hora, ainda lá viviam em 1919, ano do nascimento do ícone da música popular angolana.

Angola | Adalberto Costa Júnior quer esconder segredos com os israelitas

É público, e já foi confirmado pelos próprios serviços de imprensa da UNITA, que Adalberto Costa Júnior está em Israel.

Neste país está em contacto com associados de Isabel dos Santos (antigos agentes secretos Mossad), que ajudaram, no passado, a filha do ex-Presidente angolano a espiar supostas pessoas próximas do Presidente João Lourenço.

Um dos pedidos mais importantes que Adalberto Costa Júnior fez aos amigos de Isabel dos Santos durante a visita a Israel foi a obtenção de pequenos aparelhos capazes de proteger quatro telefones portáteis contra escutas, demonstrando que a sua atividade com um pequeno grupo de colaboradores não é transparente e tem uma face obscura e secreta de subversão da ordem constitucional.

Se Adalberto não tivesse nada a esconder, não necessitava de proteção eletrónica israelita.

Tribuna de Angola

Angola "ainda não manifestou interesse" em observadores eleitorais da UE

A União Europeia está "pronta" para acompanhar as eleições em Angola, mas o país "ainda não manifestou interesse", segundo a embaixadora. UE "não faz julgamentos" sobre a atual "tensão" sociopolítica.

A União Europeia (UE) anunciou esta quarta-feira (02.02) que "está pronta" para acompanhar as eleições gerais em Angola, previstas para agosto, e "mantém diálogo" com o Governo angolano e com todos parceiros importantes no processo, mas Luanda "ainda não manifestou interesse".

A embaixadora da UE em Angola, Jeannette Seppen, augurou que as próximas eleições gerais em Angola, previstas para a segunda quinzena de agosto próximo, sirvam para reforçar a democracia no país africano. "Como para todas as eleições, esperamos que seja um momento em que os cidadãos angolanos possam exprimir a sua voz, a sua preferência eleitoral e que vai, mais uma vez, ser uma etapa para Angola avançar na sua democracia", afirmou hoje a diplomata europeia, em Luanda, quando questionada pela Lusa.

Segundo Jeannete Seppen, o bloco europeu está pronto para acompanhar as eleições em Angola, "mas ainda não sabe" se observadores da UE estarão em Angola, já que "decorrem neste momento conversas com o Governo angolano e com todos os importantes parceiros nesta questão".

"Para ver como é que vamos avançar neste sentido", continuou a embaixadora da UE em Angola, no final da cerimónia de lançamento oficial do Projeto de Apoio à Sociedade Civil e à Administração Local em Angola (PASCAL).

Golpe? Simões Pereira não se convence com explicações "simplistas" do PR

GUINÉ-BISSAU

O líder do PAIGC condena a "tentativa de golpe" que vitimou várias pessoas. Exige também um "inquérito sério" para apurar o que terá acontecido na terça-feira em Bissau e responsabilizar os culpados.

Na sua primeira reação aos ataques acorridos na terça-feira (01.02) na sede do Governo guineense, o presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, manifesta-se preocupado com a violência registada em Bissau. E condena todas as tentativas de subversão da ordem constitucional por vias não democráticas.

Em entrevista exclusiva à DW, o líder do maior partido da oposição exige a criação de uma comissão internacional de inquérito para apurar responsabilidades. Simões Pereira diz que não ficou absolutamente convencido com as explicações do chefe de Estadosobre os supostos autores do ataque, alegadamente ligados ao narcotráfico. Segundo Umaro Sissoco Embaló, foram "elementos isolados" que tentaram assassinar as principais figuras do Estado, que participavam numa reunião extraordinária do Conselho de Ministros, no Palácio do Governo.

DW África: Como reage aos acontecimentos de ontem ocorridos na Guiné-Bissau?

Domingos Simões Pereira (DSP): É com sentimento de grande frustração que reajo, enquanto guineense, enquanto cidadão e também enquanto político, pela ocorrência de mais um ato de violência, uma anunciada tentativa de golpe de Estado. E, como sempre fizemos no passado, expressamos o nosso veemente repúdio e condenação de todas as tentativas de subversão da ordem constitucional por vias não democráticas.

DW África: Na sua observação, foi mesmo uma tentativa de golpe de Estado?

DSP:  Penso que aquilo que os guineenses deviam exigir é que não se fique por essa explicação simplista e circunstancial. Penso que a nação guineense merece conhecer os pormenores dessa ocorrência e saber quem são essas pessoas que eventualmente intentaram esse golpe. Quantos eram? De onde vinham? Estavam a mando de quem? E quais eram os verdadeiros propósitos?

Reino Unido | Keir Starmer acusa Boris Johnson de "repetir teorias da conspiração"

# Publicado em português do Brasil

Líder trabalhista diz que 'é hora de restaurar a dignidade' enquanto o primeiro-ministro se recusa a se desculpar por comentários de Jimmy Savile

Keir Starmer acusou Boris Johnson de "repetir as teorias da conspiração de fascistas violentos" para ganho político depois que o primeiro-ministro dobrou as falsas alegações sobre a culpa do líder trabalhista pelo fracasso em processar Jimmy Savile.

Johnson foi condenado por vítimas da emissora desonrada, bem como por alguns parlamentares e pela presidente da Câmara dos Comuns , Lindsay Hoyle, por fazer a reclamação no parlamento na segunda-feira.

Michael Gove, secretário de nivelamento e comunidades, descartou as preocupações na quarta-feira, dizendo que não havia necessidade de o primeiro-ministro se desculpar ou retirar a alegação, que está fortemente associada a conspirações de extrema-direita.

Começando as perguntas do primeiro-ministro desta semana, Starmer apelou diretamente aos parlamentares conservadores sobre as táticas de Johnson.

“Só quero dizer aos membros opostos: o partido deles é o de Winston Churchill. Nossos partidos se uniram quando derrotamos o fascismo na Europa”, disse Starmer. “Agora seu líder está na Câmara dos Comuns repetindo as teorias da conspiração de fascistas violentos para tentar ganhar pontos políticos baratos. Ele sabe exatamente o que está fazendo. É hora de restaurar alguma dignidade.”

"Mortalidade por" todas as causas "aumentou 140% desde a introdução da vacina"

# Publicado em português do Brasil

Globo News com informações Detox

OAN: "A taxa de mortalidade por" todas as causas "(não Covid) aumentou 140% desde que as vacinas foram introduzidas"

O canal de televisão americano  One America News  discute novos dados que revelam que o número de americanos que morrem no auge de suas vidas aumentou quase 140% do normal desde que as vacinas Covid foram introduzidas em 2021.

O repórter investigativo e correspondente da OAN  relata: “As seguradoras estão vendo uma  explosão de mortes entre pessoas no auge, com idades entre 18 e 64 anos. Eles não podem explicar e não estão ligados ao Covid. A única diferença entre 2021 e 2020 é que a vacina foi introduzida e amplamente divulgada”.

FOX NEWS: Em alguns países ao redor do mundo, as mortes estão aumentando e ninguém sabe por quê.

Em conexão com o muito popular  programa Tucker Carlson  (exibido em 20 de outubro de 2021), o jornalista  Alex Berenson investiga o estranho caso de mortes "por todas as causas" que crescem cada vez mais em todo o mundo, superando as estatísticas normais. O jornalista cita o exemplo dos EUA, mas fala sobretudo do Reino Unido e da Alemanha, onde não existe o triste e conhecido problema das mortes por overdose que aflige os Estados Unidos. Em seguida, compara estas anomalias com o facto de terem ocorrido após as várias campanhas de vacinação realizadas nos vários estados, lembrando, por exemplo, que no Reino Unido, graças a dados mais específicos, estão particularmente ligadas a problemas cardiovasculares, assumindo assim uma ligação . Ao mesmo tempo, no entanto, ele ressalta que não tem evidências sólidas para confirmar isso, mas ressalta que, em qualquer caso, esse tópico parece ser um tabu, já que por apenas falar dele publicamente foi suspenso pelo Twitter.

Portugal 'covidado' | 56 mortes, 54.693 novos infetados, 2442 hospitalizados

Quase 34 mil recuperados num dia

Portugal regista, esta quarta-feira, mais 54.693 casos de covid-19 e 56 mortes associadas à doença. Nas últimas 24 horas, 33.989 pessoas recuperaram da infeção por SARS-CoV-2.

O mais recente boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS) regista 54.693 novos infetados, valor que representa uma subida face aos dados de ontem (50.888 casos), mas uma descida em relação à passada quarta-feira, quando foram contabilizados 65.578 positivos (mais 10.885).

Depois das 63 mortes do balanço anterior (número que não era tão elevado há quase um ano), morreram, hoje, 56 pessoas. De referir que, desde o início da pandemia, 20.024 infetados perderam a batalha contra a doença, 2.745.383 contraíram a infeção e 2.112.346 recuperaram, 33.989 deles nas últimas 24 horas. O número de casos ativos aumentou para 613.013, mais 20.648 face ao último boletim.

Portugal | Contra os contra a exploração de lítio governo vai avançar com concursos

Prospeção de lítio pode avançar em seis áreas. Governo decide lançar concursos

De oito áreas identificadas pelo seu "potencial", duas ficaram de fora devido a restrições ambientais. Poderá já avançar nos próximos 60 dias o processo concursal para fazer a prospeção e pesquisa de lítio.

Ministério do Ambiente e da Ação Climática concluiu que, das oito áreas identificadas como tendo potencial de existência de lítio, seis têm condições para a prospeção, pelo que já podem ser lançados concursos. Da lista das oito áreas, só foram excluídas Serra de Arga, nos concelhos de concelhos de Caminha, Vila Nova de CerveiraViana do Castelo e Ponte de Lima, no Alto Minho, e Segura, em Idanha-a-Novaavança o jornal Expresso.

Os locais onde a exploração poderá avançar são SeixosoVieiros (Mondim de Basto), Massueime (Guarda) e quatro zonas entre Guarda e Mangualde.

Nos próximos 60 dias o procedimento para os concursos de atribuição de direitos de prospeção do lítio poderá ser iniciado. O aval resulta da Avaliação Ambiental Estratégica, desencadeada pela Direção-Geral de Energia e Geologia, que também resolveu reduzir para metade a área de cada um dos seis locais identificados como viáveis.

Portugal | O PCP E BLOCO DEVIAM UNIR-SE?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

O PCP e os partidos portugueses da esquerda revolucionária nunca se entenderam. Para lá de cisões históricas, que, na verdade, remontam à revolução russa de 1917, os comunistas portugueses tiveram sempre imensas dificuldades em lidar com o voluntarismo, a imprudência, a desorganização, o individualismo, o sectarismo, a incoerência e a indisciplina dessas organizações.

A síntese dessa desconfiança tem uma palavra leninista para definir esse radicalismo, considerado "infantil": esquerdismo.

Do lado dos outros partidos acusou-se o PCP, conforme os tempos, de reformismo, estalinismo, revisionismo, totalitarismo, institucionalismo, imobilismo, tacitismo e outros "ismos" que agora não recordo.

Estes partidos da esquerda revolucionária, eleitoralmente pouco representativos, também nunca se entenderam entre si.

Porém, com a formação, em 1999, do Bloco de Esquerda, uma parte deles resolveu essas disputas e, eleitoralmente, foi possível apresentar uma formação relevante que até mudou ideologicamente o discurso: já não são de extrema-esquerda, são da esquerda radical, falam mais dos direitos das minorias do que da luta da classe operária.

Os outros grupos que pululavam no pós-25 de Abril ou desapareceram ou, sobrevivendo, agonizam por aí.

Essa modificação não aproximou PCP e Bloco, pelo contrário, a competição entre os dois aumentou. Mesmo durante a "geringonça", em que ambos apoiaram os Orçamentos apresentados pelo PS, estes dois partidos, nas questões fulcrais, nunca negociaram entre si nem apresentaram posições públicas comuns. Pelo contrário, houve sempre rivalidade, apesar de terem propostas políticas muito parecidas em questões-chave como a legislação laboral, a Segurança Social ou o Serviço Nacional de Saúde.

Mário Tomé critica estender de mão do BE ao PS para acordos e pede balanço sério

PORTUGAL

Para Mário Tomé, esta derrota "muito pesada" do Bloco de Esquerda não pode significar continuar na mesma linha, exigindo uma "mudança efetiva" na linha política que está a ser seguida.

O histórico da UDP Mário Tomé criticou na terça-feira a estratégia do BE nas legislativas de "estender a mão ao PS para fazer acordos" em vez de se apresentar como alternativa, defendendo um "balanço sério" sobre esta pesada derrota.

O antigo deputado da UDP Mário Tomé é, desde a última Convenção Nacional do BE, membro da Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre convenções, tendo sido eleito pela lista do movimento Convergência, críticos da direção de Catarina Martins.

Em declarações à Lusa sobre o resultado eleitoral do BE nas legislativas de domingo -- o pior em 20 anos, com a perda de metade dos votos e a eleição de apenas de cinco dos 19 deputados -- Mário Tomé defendeu que esta derrota "muito pesada" não pode significar continuar na mesma linha, exigindo uma "mudança efetiva" na linha política que está a ser seguida.

"O programa eleitoral do Bloco, quer em 2019 quer agora, é um bom programa eleitoral, só que foi depois metido debaixo do estender da mão ao PS para fazer acordos e o que é que ficou para as pessoas? O Bloco chumbou o orçamento e agora quer o acordo", criticou.

Portugal | O SILÊNCIO, COMPROMETIDO, SOBRE AS PONTES

Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

O JN deu nota esta semana de que será necessário construir uma nova ponte sobre o Douro para a passagem do comboio de alta velocidade. E que terão sido encomendados estudos a um gabinete de engenharia para análise dessa solução. Este é um projeto com mais de duas décadas, onde já se gastaram centenas de milhares de euros em estudos!

De acordo com as notícias, apesar de a Ponte de S. João estar muito aquém da sua capacidade, é necessária uma nova ponte porque, do lado de Gaia, a atual linha tem uma curva que não é compatível com a alta velocidade. Notícias sobre o TGV e a forma de atravessamento do Douro são cíclicas, sendo que, em duas décadas, nada avançou de facto.

Diz-se, agora, que a ponte se localizará "entre a ponte de São João e a ponte rodoviária do Freixo (...), passando sobre a praia fluvial do Areinho (em Gaia) e os terrenos da Mota-Engil (no Porto)". O que espanta é que, perante estas notícias, a "Câmara de Gaia remeteu comentários para depois da apresentação dos estudos". O Município do Porto "não quis falar sobre o tema". Ou seja, estamos perante um projeto que, indubitavelmente, marcará a paisagem, a estrutura, a mobilidade e as acessibilidades dos dois municípios. O que se esperaria é que os presidentes das câmaras dissessem o que pensam e fomentassem o debate sobre o tema, envolvendo os órgãos municipais. Mas, tal como aconteceu com a ponte rodoviária do Areinho e a ponte do metro do Campo Alegre, este processo está envolvido num inadmissível secretismo, à margem dos órgãos locais democraticamente eleitos!... Porquê?!

*Engenheiro

O Estado britânico nunca foi responsabilizado pelo domingo sangrento

* Publicado em português do Brasil

Cinquenta anos atrás, soldados britânicos mataram 13 civis desarmados em uma marcha pelos direitos civis em Derry. O juiz mais antigo da Grã-Bretanha, Lord Widgery, publicou então um relatório oficial sobre o massacre cheio de mentiras, dando sanção judicial ao assassinato.

Daniel Finn | Jacobin

Em 30 de janeiro de 1972, soldados britânicos assassinaram treze civis que participavam de uma marcha pelos direitos civis em Derry, no norte da Irlanda. Outro homem ferido por suas balas morreu mais tarde. O massacre aconteceu em plena luz do dia, com centenas de testemunhas oculares, incluindo membros da imprensa internacional. Havia também filmagens dos eventos do dia.

Depois disso, não deveria haver dúvidas sobre o que aconteceu em Derry. As únicas questões a serem determinadas eram como e por quê . Será que os soldados do Primeiro Batalhão do Regimento de Pára-quedistas (“Paras”) simplesmente enlouqueceram? Ou o massacre foi o resultado previsível de um plano criminosamente imprudente elaborado por oficiais superiores?

Em vez disso, as famílias das vítimas tiveram que esperar quase quatro décadas para que Lord Mark Saville reconhecesse que todos os mortos eram civis desarmados e que o primeiro-ministro britânico David Cameron se desculpasse por suas mortes. Ao longo desse período, a linha oficial do estado britânico, conforme expressa no relatório publicado por Lord John Widgery em abril de 1972, era que os soldados só começaram a atirar depois de estarem sob fogo contínuo e que acreditavam sinceramente que seus alvos estavam armados. pistoleiros.

Widgery serviu como Lord Chief Justice da Inglaterra e País de Gales, a figura judicial mais eminente do país, entre 1971 e 1980. Seu relatório foi uma litania orquestrada de mentiras, para emprestar uma frase célebre de um magistrado muito mais honrado, o juiz neozelandês Peter Mahon . Merece ser lembrado como o episódio mais vergonhoso da história moderna do sistema jurídico britânico.

Ao falsificar os eventos do Domingo Sangrento, Widgery garantiu que os parentes dos mortos teriam que passar décadas fazendo campanha para estabelecer os fatos básicos. O establishment britânico acabou descartando seu relatório quando não era mais conveniente se engajar na negação descarada da verdade. Mas já havia causado danos incalculáveis ​​a essa altura. Encarregado de fazer cumprir o estado de direito, Widgery deixou um rastro de carnificina e vidas quebradas em seu rastro.

A MALDIÇÃO FRANCESA

O projeto de Macron esgotou-se e leva a União Europeia a jogar as suas fichas num projeto que a vai pôr em causa. A França está a semear o perigo.

Francisco Louçã* | opinião

A França é o centro da história política europeia desde 1789. Ao longo de mais de 200 anos, as suas disputas marcaram o ritmo do continente: a revolução e depois as guerras napoleónicas, as convulsões anti-absolutistas do meio do século XIX, a Comuna de Paris, a Frente Popular, a resistência, o Maio de 68, o Programa Comum das esquerdas. O país situou-se no vértice do conflito com a Prússia e, no século passado, nas duas guerras mundiais. De França vieram muitas das ideias, alguma da cultura e não raras das ambições modernizadoras que fazem as cores do mundo contemporâneo. Os outros dois polos europeus, a Alemanha e o Reino Unido, desafiaram, entre alianças e conflitos, esta matriz. E por vezes triunfaram, como na economia, o que não é pouco, mas nenhum deles tem tido a mesma influência nas ideias políticas que desenham o nosso mapa. Por isso, a desagregação do regime francês é tão marcante, à esquerda como à direita.

ESTUDO. O LIBERALISMO SÓ FUNCIONA PARA OS RICOS

Grandes reformas que reduzem os impostos sobre os ricos levam a uma maior desigualdade de rendimentos mas não têm aumentado o crescimento económico e não diminuem o desemprego, de acordo com um novo estudo da London School of Economics (LSE) e do King's College London, divulgado na semana passada.

Os investigadores dizem que os governos que procuram restaurar as finanças públicas após a crise da Covid-19 não devem, portanto, preocupar-se com as consequências económicas do aumento dos impostos sobre os ricos.

O documento, publicado pelo LSE's International Inequalities Institute, utiliza dados de 18 países da OCDE, incluindo o Reino Unido e os EUA, ao longo das últimas cinco décadas. «As Consequências Económicas de Grandes Cortes de Impostos para os Ricos», de David Hope e Julian Limberg, mostram que os últimos 50 anos foram um período de queda de impostos sobre os ricos nas economias avançadas. Os grandes cortes fiscais foram repartidos pelos países e ao longo do período de observação, mas foram particularmente concentrados no final da década de 1980, a partir do advento dos governos neoliberais de Reagan e Thatcher e a expansão das teses neoliberais, ligadas ao chamado «Consenso de Washington».

Os autores concluem: «Os nossos resultados têm importantes implicações nos debates actuais em torno das consequências económicas da tributação dos ricos, uma vez que fornecem provas causais que apoiam o crescente conjunto de provas de estudos correlacionados que a redução de impostos sobre os ricos aumenta as quotas de rendimentos de topo, mas tem pouco efeito no desempenho económico.»

Hope, professor convidado do LSE's International Inequalities Institute e docente de Economia Política do King's College London, defende: «A nossa investigação mostra que os argumentos económicos para manter baixos os impostos sobre os ricos são fracos. Grandes cortes fiscais para os ricos desde os anos 80 aumentaram a desigualdade de rendimentos, com todos os problemas que isso acarreta, sem quaisquer ganhos compensatórios no desempenho económico.»

Limberg, professor de Políticas Públicas no King's College London, afirma: «Os nossos resultados podem ser notícias bem-vindas para os governos, que procuram reparar as finanças públicas após a crise da covid-19, uma vez que implicam que não devem preocupar-se indevidamente com as consequências económicas do aumento dos impostos sobre os ricos.»

Os países estudados no jornal são Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suíça, Reino Unido, e EUA.

À mesma conclusão chegaram Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Stefanie Stancheva, no artigo «Optimal Taxation of Top Labor Incomes: A Tale of Three Elasticities», publicado no American Economic Journal: Economic Policy, em 2014, no qual analisam a taxa marginal dos mais ricos entre o início dos anos 60 e o início deste século, e mostram que nos países que mais cortaram as taxas de imposto houve um crescimento mais acentuado do rendimento dos 1% mais ricos.

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