quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Angola | RICOS NACIONAIS E OS LADRÕES ESTRANGEIROS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O ilustre advogado que defende o major Pedro Lussaty, Francisco Muteka, disse nas suas alegações finais que o arguido tem um património superior a cem milhões de dólares. Por isso, não necessitava de fazer esquemas para sacar dinheiro da Casa Militar do Presidente da República. 

Um ilustre general, Manuel Hélder Vieira Dias (Kopelipa) disse durante a audiência de julgamento que o dinheiro guardado em malas, apreendido no apartamento do senhor major, não saiu da Casa Militar, no tempo em que ele era ministro de Estado e chefe instituição. Até porque na instituição não existiam divisas, só kwanzas. E sua excelência aconselhou as autoridades competentes a investigarem a origem do dinheiro.

Eis um desafio interessante. Donde vem o dinheiro dos milionários? Qual é a cor desse dinheiro? As notas (cédulas) têm apenas o retrato de Agostinho Neto ou também de José Eduardo dos Santos? Se têm dos dois, é antigo. Se só têm do Fundador da Nação é novíssimo, as notas foram impressas depois de 2017. 

A comunicação social alinhada com o chefe Miala chamava arguidos aos generais que foram depor como testemunhas ou declarantes. Uma manobra claríssima para denegrir a imagem das Forças Armadas e sobretudo dos que ganharam a guerra contra os karkamanos, pela Soberania Nacional e Integridade Territorial. Desde o primeiro instante de emissão na TPA ficou claro que à conta do major Pedro Lussaty, quem de facto estava a ser atingida, era a sociedade castrense. Ainda que apreça um absurdo, a operação está justificada.

Entre a Independência Nacional e hoje, Angola formou excelentes militares. Ali não havia lugar para a mediocridade porque isso significava a morte ou a derrota fatal. O “Caso Lussaty” tresanda a inveja, vingança e ajuste de contas. À luz de um velho equívoco, nascido em 1992, só podem ser ricos os escolhidos. Só podem mexer nos cofres do Estado, as mãos autorizadas. Só podem arrotar milhões, os clientes fiéis. Tenho amigas e amigos muito, muito ricos. Multimilionários.

Relações Angola - EUA: "A porta da China sempre estará aberta"

Numa altura em que Angola toma uma posição cada vez mais pro-ocidente, em entrevista à DW África, o analista chinês diz que é um direito de Angola escolher os seus aliados e a China sempre terá a porta aberta.

China é o principal parceiro económico de vários países africanos. Por outro lado, Angola está cada vez mais próxima dos Estados Unidos, adotando um posicionamento pro-ocidente, numa altura em que o mundo aponta "sinais preocupantes" na relação China - Ocidente.

Em entrevista à DW, o académico chinês e responsável pelo Centro de Estudos Africanos Para Desenvolvimento e Inovação -CEADI, Juan Shang diz que, apesar das fortes relações entre os EUA e África, a China estará sempre de portas abertas para financiar as economias africanas.

DW África: A China é o principal parceiro económico de Angola e de vários países africanos. Por outro lado, Angola está cada vez mais próxima dos EUA, adotando um posicionamento pro-ocidente. Como é que a China encara isso?

Juan Shang(JS): Este não é um fato negativo, porque sabemos que desde que João Lourenço assumiu a presidência, que Angola mudou o rumo para os Estados Unidos. Em várias conferências públicas, João Lourenço deixou claro que quer uma boa cooperação com os Estados Unidos.

A  China não tem muita opinião quanto a isso, porque isso é um direito de Angola. Uma das principais políticas externas da China é não mexer em assuntos internos de outros países.

DW África: Sob a governação de Xi Jinping, diz-se que a China tem adoptado uma política externas cada vez mais assertiva. A China tem políticas externa específicas para África ou para conter esta aproximação entre África e o Ocidente?

JS: Me parece que não. Mas na semana passada, o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, visitou Moçambique, mesmo este ter dado voto nulo quanto à questão da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. E por que a Ucrânia foi à Moçambique? Segundo uma investigação, percebeu-se que Moçambique e Angola são dois dos maiores compradores de armas russas. Significa que a Ucrânia quer pedir favor à Moçambique para comprar estas armas. E quem vai pagar é os Estados Unidos. Nós não queremos criticar os países africanos, porque é um direito dos países africanos.

DW África: Num dos seus artigos académicos afirma que "no século 21 a China e os Estados Unidos são parceiros e às vezes rivais". A que se deve ?

JS: Nós não queremos ser rivais do Estados Unidos, porque o mundo hoje precisa de cooperação. Este é um conflito de comércio entre a China e os Estados Unidos. Os Estados Unidos sabem que a China, como a segunda maior economia do mundo constitui uma ameaça para eles e portanto, nos tem aplicado muitas sanções. E isso causa muitos conflitos.

DW África: Como ficam os financiamentos da China em Angola? O que se pode esperar da China no futuro?

JS: Desde 2018 que a China já não dá financiamentos à Angola. O Governo de Angola gosta mais dos financiamentos dos Estados Unidos, por isso recorre ao Banco Mundial, ao FMI, vai para Inglaterra, Alemanha, etc. Desde o início do governo de João Lourenço que a Angola obtém apenas financiamento de países ocidentais.

DW África: Mas acha que a China gostaria de continuar a financiar os países africanos?

JS: A porta da China sempre estará aberta para financiar as economias africanas.  Após o discurso de Xi Jinping, neste último congresso do partido comunista, ficou patente que a China precisa de continuar com as reformas e aberturas para o mundo, por isso, no futuro a China vai continuar com as linhas de crédito para os países africanos.

Sandra Quiala | Deutsche Welle

Moçambique | Cabo Delgado: Grupo ataca mina de rubi e obriga à evacuação de outra

Um grupo armado desconhecido atacou as instalações de uma empresa de mineração de rubis no sul de Cabo Delgado, no distrito de Montepuez, e levou à evacuação de outra, anunciaram as autoridades e empresas.

Um grupo armado desconhecido atacou na noite de quarta-feira (19.10) as instalações de uma empresa de mineração de rubis no sul de Cabo Delgado. 

O alvo foi a empresa Gemrock, em Namanhumbir, no distrito de Montepuez, onde foram destruídas casas e veículos, sem indicação de vítimas, referiu a polícia local citada pela Televisão de Moçambique (TVM).

As instalações ficam as 12 quilómetros de outra empresa, a Montepuez Rubi Mining (MRM) da multinacional Gemfields, que, entretanto, através de comunicado, anunciou a evacuação do espaço e suspensão de atividades.

"Um ataque atribuído à atividade insurgente foi relatado na mina de rubi vizinha pertencente à Gemrock", anunciou, acrescentando que "os detalhes do ataque estão a ser verificados".

"Como consequência, a MRM iniciou o processo de evacuação de colaboradores, operacionais e empreiteiros e, portanto, as operações de mineração no local cessaram", lê-se no documento.

Imigrantes timorenses: “Há quem ganhe milhões com a exploração destas pessoas"

Catarina Martins esteve no Martim Moniz, em Lisboa, com um grupo de imigrantes que está a dormir na rua. Além da urgência de resolver este “problema humanitário óbvio”, a dirigente do Bloco destacou que é preciso responsabilizar todos os que ganham dinheiro à custa desta miséria.

Neste momento, dezenas de timorenses vivem ao relento na praça do Martim Moniz, em Lisboa. Vieram para Portugal iludidos com a promessa de trabalho e agora são abandonados à sua sorte. Esta quinta-feira, Catarina Martins esteve reunida com estas pessoas. A coordenadora do Bloco alertou que é preciso responder a este “problema humanitário óbvio, urgente”, assegurando-lhes abrigo, habitação, vestuário, que é o mínimo que “o nosso país pode fazer para quem veio trabalhar e foi enganada”. E há outras questões a assegurar, relacionadas com a burocracia necessária à oficialização da sua situação em Portugal, a aprendizagem do português ou a garantia de trabalho digno.

Catarina pede responsabilidades a quem está a “ganhar muito dinheiro à custa desta miséria”: “os agiotas que emprestam dinheiro para a viagem, os intermediários da mão de obra que lhes ficam com papéis e com parte do salário”, mas também quem usufrui do seu trabalho, como “os produtores agrícolas e as empresas de construção civil, e depois “as deixam abandonadas”.

A coordenadora do Bloco enfatizou que é preciso “combater a máfia de tráfico de seres humanos”, que “também está em Portugal”. “Sejamos claros, há quem em Portugal esteja a ganhar muito dinheiro” com esta situação, vincou.

Reforçando que “há quem ganhe milhões com a exploração destas pessoas”, Catarina Martins quer ver responsabilizados “todos os que ganham dinheiro com a exploração destas pessoas”.

EMIGRAÇÃO DE TIMORENSES PARA PORTUGAL: AMEAÇA OU OPORTUNIDADE?

M. Azancot de Menezes*

Milhares de jovens timorenses estão a emigrar para Portugal, Irlanda e Inglaterra, entre outros países. As causas da emigração, devem-se, em boa parte, à pobreza, à deslealdade de alguns advogados e à ausência de um plano de desenvolvimento nacional suficientemente capaz de dar um rumo a Timor-Leste.

A ausência de políticas públicas de âmbito estrutural conducentes à criação de emprego no país e à inserção na vida social e profissional dos milhares de jovens que terminam o ensino técnico-profissional e as universidades são um dos factores que estão a contribuir para a emigração da juventude.

Passados 23 anos da data do referendo são desconhecidas as necessidades de formação do ensino médio e superior do país. Neste sentido, qualquer observador atento deve perguntar, afinal de contas, que é feito do  plano de formação de quadros para a próxima década?

Perante a ausência de políticas públicas que possam alavancar o país, com um perfil de saída de diplomados do ensino técnico-profissional e do ensino superior inadequado para as necessidades e prioridades do país, face a este cenário, há muitos milhares de jovens mergulhados no desemprego estrutural, onde se inclui 75% da população com menos de 35 anos de idade.

A solução “milagrosa” para os milhares de jovens desempregados, com o apoio de advogadas e solicitadoras portuguesas com poucos escrúpulos, passou a ser a emigração para Portugal, no famoso avião da EuroAtlantic do grupo Pestana, cujo voo, num só sentido, custa cerca de 2 mil euros, cujo dinheiro é angariado com a ajuda das famílias em Timor-Leste, na expectativa de conseguirem um passaporte português e depois seguirem viagem para outros países, principalmente, para executar trabalhos em fábricas de carne na Inglaterra e na Irlanda, trabalhos domésticos na Coreia do Sul, com a esperança de poderem, após terem tratado dos documentos de identificação, encontrar emprego para sustentar as famílias.

Fracasso de Liz: Imprensa europeia culpa Brexit por 'insanidade' política no Reino Unido

Jon Henley - correspondente na Europa de The Guardian

Colunistas sugerem que o fracasso de Liz Truss pode significar o fim do 'pensamento positivo' de um Reino Unido soberano seguindo seu próprio caminho

#Traduzido em português do Brasil

Seis anos depois do referendo do Brexit, os observadores continentais se acostumaram com os colapsos de Westminster – mas muitos veem no último cataclismo o final inevitável de um projeto que sempre foi divorciado da realidade.

“Ouvi, talvez; entendido, não realmente”, disse o Le Monde sobre Liz Truss sobre a notícia de sua renúncia. “Uma oradora terrível que não podia fazer mais do que repetir 'crescimento, crescimento, crescimento', aparentemente imune a críticas... ela foi rejeitada tanto pelo público quanto por seu próprio partido.”

Os líderes políticos expressaram educadamente seus arrependimentos. Chegando a uma cúpula da UE em Bruxelas, Emmanuel Macron disse que era importante que o Reino Unido “redescobrisse a estabilidade política muito rapidamente” no contexto da guerra na Ucrânia. Descrevendo o Reino Unido como um amigo, o presidente francês acrescentou que estava “sempre triste por perder um colega”.

O taoiseach da Irlanda, Micheál Martin, expressou simpatia pessoal por Truss durante o que descreveu como “um momento muito difícil” para o primeiro-ministro – embora ele também tenha apontado o dedo para o Brexit .

“Problemas surgiram a partir dessa decisão e desde que essa decisão foi tomada”, disse Martin. “Muitos não foram pensados ​​em relação ao que era essencialmente uma decisão política, com enormes implicações econômicas e de mercado.”

Liz Truss renuncia ao cargo de PM e desencadeia nova eleição para a liderança

Peter Walker Pippa Crerar Jessica Elgot | The Guardian

Truss diz que deixará o cargo após uma semana de concurso de emergência para encontrar sucessor

#Traduzido em português do Brasil

Liz Truss renunciou ao cargo de primeira-ministra e deixará o cargo após uma semana de disputa de emergência para encontrar seu sucessor, anunciou ela do lado de fora de Downing Street.

Segue-se um turbulento período de 45 dias no cargo durante o qual o mini-orçamento de Truss quebrou os mercados , ela perdeu dois ministros importantes e perdeu a confiança de quase todos os seus próprios parlamentares.

Sua declaração veio depois que ela conheceu Graham Brady, presidente do Comitê de parlamentares conservadores de 1922, em Downing Street, seguido por sua vice-primeira-ministra, Thérèse Coffey, e o presidente do partido, Jake Berry.

Truss disse que assumiu o cargo com “uma visão para uma economia de baixo imposto e alto crescimento que tiraria vantagem das liberdades do Brexit”.

Ela continuou: “Reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo partido conservador. Portanto, falei com Sua Majestade o Rei para notificá-lo de que estou renunciando ao cargo de líder do Partido Conservador.

“Esta manhã conheci o presidente do Comitê de 1922, Sir Graham Brady. Concordamos que haverá uma eleição de liderança a ser concluída na próxima semana. Isso garantirá que continuemos cumprindo nossos planos fiscais e mantendo a estabilidade econômica e a segurança nacional de nosso país. Permanecerei como primeiro-ministro até que um sucessor seja escolhido”.

JARDINEIROS HUMANISTAS CONTRA OS SELVAGENS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Zarifa Ghafari e Durão Barroso receberam hoje em Lisboa o Prémio Norte Sul instituído pelo Conselho da Europa. A Zarifa é afegã e parece que atacou nas autarquias quando os gringos mandavam no bocado. Os donos saíram e ela agora recebe prémios. O Durão Barroso é um grande defensor dos direitos humanos. Quando era primeiro-ministro de Portugal jurou a pés juntos que viu as provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque. Esta visão mentirosa causou milhões de mortos, refugiados e deslocados. Barroso agora é banqueiro e anda a vender vacinas aos pobres. Um bom branco.

Outro figurão que no seu tempo foi agraciado com o Premio Norte Sul é Mário Soares. Singela homenagem aos tempos heroicos em que andava lambuzado nos diamantes de sangue da UNITA. Tudo boa gente, jardineiros de fino trato, cuidadores da liberdade deles, das contas bancárias deles, do latrocínio, dos genocídios, do esclavagismo. Para enganar a malta meteram no meio a desgraçada afegã que aceitou o pratito de lentilhas. É a lídima representante de gerações e gerações de criadagem, servos da gleba, escravas e escravos gratos aos seus amos. 

O Borrel é um espanholito tresloucado que faz equipa com a nazi Úrsula von der Leyen. Nunca teve tanto poder. Nunca acumulou tanto dinheiro. Por isso está fascinado com ele próprio. Vai daí, abriu a bocarra no Luxemburgo mais ou menos nestes termos: 

“A Europa é um jardim cuidadosamente tratado. Quase todo o resto do mundo é uma selva. Os selvagens têm de ser postos na ordem quando querem invadir o nosso jardim”.

Ele não disse, mas subentende-se: 

Os jardineiros têm o direito de matar os selvagens no Mediterrâneo. Nas fronteiras da Polónia, no trabalho escravo. Têm o direito de expô-los nus na fronteira entre a Turquia e a Grécia.

Porque alguns países africanos estão abandonando Paris, juntando-se a Moscovo

A outra guerra Rússia-Ocidente

Ramzy Baroud* |  Antiwar

No momento em que o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba foi deposto por seu próprio ex-colega militar, o capitão Ibrahim Traore, multidões golpistas encheram as ruas. Alguns queimaram bandeiras francesas, outros carregavam bandeiras russas. Esta cena por si só representa a atual disputa em andamento em todo o continente africano.

#Traduzido em português do Brasil

Há alguns anos, a discussão sobre as mudanças geopolíticas na África não se preocupava exatamente com a França e a Rússia em si. Concentrou-se principalmente no crescente papel econômico e nas parcerias políticas da China no continente africano. Por exemplo, a decisão de Pequim de estabelecer sua primeira base militar no exterior em Djibuti em 2017 sinalizou o principal movimento geopolítico da China, traduzindo sua influência econômica na região em influência política, apoiada pela presença militar.

A China continua comprometida com sua estratégia para a África. Pequim é o maior parceiro comercial da África há 12 anos, consecutivamente, com o comércio bilateral total entre China e África, em 2021, atingindo US$ 254,3 bilhões, segundo dados recentes divulgados pela Administração Geral de Alfândegas da China.

Os Estados Unidos, juntamente com seus aliados ocidentais, estão cientes e alertam contra a crescente influência da China na África. O estabelecimento do AFRICOM dos EUA em 2007 foi corretamente entendido como uma medida contrária à influência da China. Desde então, e provavelmente antes, as conversas sobre uma nova " Scramble for Africa " ​​abundaram, com novos jogadores, incluindo China, Rússia e até Turkiye, entrando na briga.

A guerra Rússia-Ucrânia, no entanto, alterou a dinâmica geopolítica na África, pois destacou a rivalidade russo-francesa no continente, em oposição à competição sino-americana lá.

Embora a Rússia esteja presente na política africana há anos, a guerra – portanto, a necessidade de aliados estáveis ​​nas Nações Unidas e em outros lugares – acelerou a ofensiva de charme de Moscou. Em julho, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov , visitou Egito, Etiópia, Uganda e República do Congo, fortalecendo as relações diplomáticas da Rússia com os líderes africanos.

"Sabemos que os colegas africanos não aprovam as tentativas indisfarçadas dos EUA e seus satélites europeus... de impor uma ordem mundial unipolar à comunidade internacional", disse Lavrov. Suas palavras foram recebidas com concordância.

Portugal | PROFESSORES CONVOCAM GREVE NACIONAL PARA 2 DE NOVEMBRO

Exigem a valorização da carreira docente, o combate à precariedade e a necessidade de promover o rejuvenescimento do setor

Os sindicatos de professores anunciaram esta quinta-feira uma greve nacional para o próximo dia 2 de novembro, em protesto contra a alegada falta de investimento do Governo na educação exposta na proposta de Orçamento do Estado para 2023.

Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Federação Nacional da Educação (FNE), Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL) e Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU), entre outras plataformas, exigem a valorização da carreira docente, o combate à precariedade e a necessidade de promover o rejuvenescimento do setor.

De acordo com as várias estruturas sindicais associadas aos professores e educadores, que já submeteram o pré-aviso de greve, foi escolhido o dia 02 de novembro para fazer coincidir a greve nacional com a intervenção do ministro da Educação, João Costa, na Assembleia da República, em defesa da proposta orçamental para o setor no próximo ano.

"É este subfinanciamento, que se está a tornar crónico, que impede a melhoria das condições de trabalho nas escolas, a melhoria das condições de aprendizagem dos alunos e, no caso dos profissionais docentes, que impede a tomada de medidas que confiram atratividade à profissão, levando os jovens professores a abandonarem, os jovens que concluem o secundário a não procurarem os cursos de formação de docentes e os mais velhos a ansiarem pelo momento da sua aposentação", referiu em comunicado a Fenprof.

Já a FNE apelou à criação de estímulos para atrair professores para zonas mais desfavorecidas ou com falta de profissionais, à conclusão do processo de recuperação do tempo congelado e ao respeito pelos limites do tempo de trabalho, além da substituição do atual modelo de avaliação de desempenho. Na nota enviada às redações, o sindicato adiantou também que vai promover regionalmente outras iniciativas e que já pediu reuniões aos grupos parlamentares.

Por sua vez, o SINDEP justificou o uso da "legítima arma da greve" na expectativa de que leve o Ministério da Educação a "voltar à mesa para uma verdadeira negociação e não para um mero 'faz de conta que negociamos'". A estrutura sindical criticou ainda a ausência de uma medicina de trabalho para o setor e a resposta com a criação de mais de 7.000 juntas médicas para avaliar a legitimidade das baixas entre os docentes.

A ASPL lembrou que Portugal fica aquém das metas de investimento no ensino observadas pela OCDE e que deveriam ser aumentadas as verbas para eliminar o défice no custo anual de formação dos alunos e na carreira docente, enquanto o SPLIU defendeu um processo negocial sério com a tutela, resumindo: "Este é o momento de os educadores e professores retomarem a união e assumirem o seu descontentamento de forma unida".

Para esta quinta-feira está já agendada uma declaração à comunicação social por parte do secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, às 12:00, em Coimbra.

Diário de Notícias | Lusa

Portugal | A TRAGICOMÉDIA DA TAP

Joana Petiz* | Diário de Notícias | opinião

Em seis meses, o PS, que se prometia "de diálogo" apesar da maioria absoluta, chumbou (repetidos) pedidos de audição de nove ministros no Parlamento. Na Saúde, entendeu que Temido, de saída, não devia explicações e Pizarro ainda não estava dentro de temas relevantes, como o caos nas Urgências. Não considerou igualmente justificarem-se esclarecimentos sobre temas como apoios na investigação e no Ensino Superior e à cultura, a trapalhada do novo aeroporto anunciado e regressado à gaveta em menos de 24 horas, os fundos europeus atribuídos a Mário Ferreira, a decisão de retirar competências à PJ pondo em causa a separação de poderes, o gravíssimo ciberataque que abriu acesso a documentos classificados da NATO. Os pedidos foram feitos e recusados. Todos. Em seis meses.

A comprovar a regra, a exceção de ontem, que não o é: o PS chumbou os requerimentos da oposição, fazendo a sua própria carta de chamada a Pedro Nuno Santos. Não foi estética, foi mesmo truque. E nem sequer foi o único ou o melhor - o fogo de artifício foi preparado, carregado e disparado, cumprindo a sua função lúdica na perfeição.

A razão para Pedro Nuno Santos ser chamado a explicar-se era uma suposta incompatibilidade de um ministro do governo de Costa. Mais uma. Em causa, desta vez, estava a participação de um governante no capital de uma empresa maioritariamente detida por seus familiares diretos e que assinara contratos por ajuste direto com o Estado superando 1 milhão de euros. Uma situação sobre a qual o próprio terá pedido parecer à PGR dando o assunto como encerrado, uma vez que ninguém se mostrou incomodado. Agora que o incómodo surgiu, Pedro Nuno Santos explicou aos deputados que irá "esperar pelo processo de averiguações do Ministério Público ou do Constitucional" e cumprir a decisão que daí venha. Mas se essa decisão for a condenação, sentir-se-á "injustiçado", em nome individual e coletivo (pela família, pela empresa e até pela democracia).

Explicações dadas, caso encerrado em menos de uma hora e sem indignações, tirando a do próprio. O PS de Costa fizera por isso. A preceder o debate da alegada incompatibilidade, agendou outro tema, (mais uma) troca de acusações sobre a inclassificável novela TAP. Uma primeira audição que esgotou a emoção e a energia dos presentes, ao fim de três horas a correr em círculos.

O maior truque, o mais brilhante foguete, foi disparado logo à partida: a TAP andou a gastar mais dinheiro do que devia em aviões. E essa largueza assemelha-se a má-gestão - e já seguiu para o Ministério Público investigar. A auditoria foi feita agora à gestão de Fernando Pinto, que durante 17 anos liderou a companhia, tendo saído em 2018.

Alguém se lembrou porque é que só agora, praticamente cinco anos depois da saída, soaram campainhas relativamente a quem esteve à frente da TAP durante quase duas décadas? Alguém questionou o estado da frota substituída ou a quantidade de rotas acrescentadas à operação da companhia (várias delas agora canceladas) e seus resultados? Alguém explicou que os 50 aviões comprados são topo de gama e energeticamente eficientes?

Alguém sequer se lembrou que nem há 15 dias a TAP 100% pública e com 3,2 mil milhões de euros injetados, com milhares de despedimentos feitos e cortes salariais aplicados aos que ficaram, encomendou 50 BMW topo de gama e ainda poderá pagar 500 mil euros de indemnização pelo cancelamento do contrato? Meio milhão por carros, não aviões, que não vai receber.

Pela enésima vez, perorou-se sobre a impossível opção de ter uma companhia pública. Defendeu-se o fim dos cortes nos salários sem se questionar que nível salarial poderá suportar um abatimento de 25% a 50%. Criticou-se a privatização que pôs fim ao sorvedouro de fundos públicos (leia-se, dinheiro dos contribuintes), modernizou e fez crescer a companhia, pondo-a a caminho de resultados positivos. E Pedro Nuno ainda conseguiu convencer com a nova narrativa do próprio governo que renacionalizou a TAP mais de um ano antes de se pensar sequer em pandemias. "Não há cambalhotas. Sempre quisemos privatizar." Disse isto sem se rir. E motivos não lhe faltavam.

*Subdiretora do Diário de Notícias

Portugal | EXÉRCITO DE SALVAÇÃO


Henrique Monteiro | Henricartoon

GOVERNO PORTUGUÊS DISTRIBUI ESMOLAS, QUEM RECEBEU CONTINUA AFLITO

A farsa mal amanhada de querer fazer parecer que atenuam a carestia de vida já começou. O governo português e de Costa já pôs em curso a operação. Já houve massacrados e famintos portugueses que receberam a esmola. Outros também irão receber. Para muitos que receberam a esmola constatam que já estava gasta, porque o aumento de preços de bens essenciais para a sua sobrevivência têm vindo a aumentar desde há meses atrás devido à inflação e a oportunismos de especuladores sob o falso pretexto desses aumentos da inflação.

Como sempre a tendência destas crises é que os ricos fiquem mais ricos e os pobres mais pobres, famintos, empenhados, sem abrigo e na miséria absoluta. As esmolas foram ou serão recebidas mas já estão gastas e a perspetiva é de que vêm aí tempos piores e maior miséria. Medidas como aumentos de salários, de subsídios, pensões e controlo dos especuladores que obviassem à cada vez mais miséria lusa em curso contribuiriam para efetivamente mitigarem as dificuldades económicas dos portugueses, assim não. A penúria, a pobreza extrema, aumenta a cada dia que passa e não se vê a UE, nem os governos de cada país tomarem medidas e decisões para a enfrentarem. Para não permitirem que imensos milhões de cidadãos mal sobrevivam na miséria, na pobreza envergonhada e extrema enquanto uns quantos enriquecem ainda mais com a desgraça, indiferença e exploração desumana desses mesmos milhões.

O assunto tem pano para mangas, temos de o encurtar, A seguir o Expresso Curto faz a devida referência às esmolas com números em título. Números da pobreza é aquilo que evidencia. O autor do título e da prosa é José Cardoso, editor adjunto do burgo Pinto Balsemão, que está considerado e bem acima dos míseros portugueses, dos maioritariamente quilhados e mal pagos do costume. A pseudo-democracia, ditadura do mercado, inépcia e desonestidades políticas vigoram e inflaciona-se, serva dos potenciais e imoralmente mais ricos que pouco mais representam que os 2% da população mundial.

Leia a seguir o Curto do Expresso de hoje.

MM | PG

A GUERRA NA UCRÂNIA E A FARSA DOS “VALORES OCIDENTAIS”

Pedro Morata | El Salto | Imagem Patrícia Bolinches

A guerra na Ucrânia e o confronto geral com a Rússia são explicados, a partir do Ocidente, como um nobre episódio de validade e defesa dos "valores ocidentais". É um cenário de farsa muito elaborado.

#Traduzido em português do Brasil

A guerra na Ucrânia e o confronto geral com a Rússia é explicado, desde o Ocidente, como um nobre episódio de validade e defesa dos "valores ocidentais", sobretudo democráticos e morais, cuja génese histórica afirma ser inigualável e é considerada razão de admiração e imitação pelo resto do mundo e suas "outras" culturas. Assim, a "cultura" do Ocidente quer ser resumida, de forma extraordinariamente explícita e com um grau de homogeneidade sem precedentes, nesta guerra. São pouquíssimas as vozes que destacam as misérias triunfantes de um mundo cultural/civilizacional apegado a prolongar, sem nenhuma autocrítica, uma colossal farsa feita de hegemonismo, agressão e ganância: uma encenação extraordinária em que uma aliança militar, a OTAN, dirigida e manipulado pelos Estados Unidos,

# A guerra na Ucrânia e o confronto geral com a Rússia é explicado, desde o Ocidente, como um nobre episódio de validade e defesa dos "valores ocidentais", democráticos e morais

Porque, em primeiro lugar, somos nós, o Ocidente, que decidimos e enfatizamos o que é o Oriente, ou seja, quem são os Outros, aqueles que não vivem nossa cultura ou valores nem aceitam submeter-se a eles, quem nós decretamos como superiores e dignos de serem compartilhados e assumidos, sempre segundo nossa interpretação e sob nossa direção e controle. E é por isso que, nesta guerra, com um enfoque mediático inconcebivelmente monótono, se tem o maior cuidado em esconder as causas imediatas e profundas da crise, pois se considera que o inimigo - a Rússia de Putin, na altura - reúne todos os os elementos possíveis para se tornar um objetivo, retumbante e “exemplar”, a bater pela clara e indiscutível superioridade desses valores, que são lançados com um implacável militarismo.

É um cenário de farsa altamente elaborado, tanto na forma quanto na substância, dominado por um etnocentrismo inequívoco: uma raça escolhida (branca, é claro), selecionada pela história para civilizar as outras, levando-as (por bem ou por mal) ao longo do caminho. caminho daqueles valores que, em última análise, devem ser democráticos e econômicos.

# É um cenário de farsa altamente elaborado, tanto na forma quanto na substância, dominado por um etnocentrismo inequívoco

A palavra é, com efeito, etnocentrismo, ou seja, uma visão do mundo e das coisas de acordo com a etnia e cultura dominantes, que foram europeias, exportadas para a América e grande parte do mundo, e consequente “sublimação” nos Estados Unidos (que acrescenta particularidades muito notáveis ​​e decisivas, destacando a religiosidade que impregna a história de sua origem, seus pioneiros e até mesmo seus pais fundadores, os constitucionalistas de 1787; tudo isso exibindo nos fatos um discurso cínico e grotesco de uma Nação distinguida por Deus e destinado, consequentemente, a dominar um mundo que precisa de sua orientação).

Neste caso, a versão etnocêntrica que nos interessa, a eurocêntrica (na qual a "variante" norte-americana pode e deve ser perfeitamente incluída, como dizemos) mantém uma posição permanentemente colonial em relação ao mundo estrangeiro, ou seja, de " dominação" justificada e "documentada" de tudo e de todos: povos, culturas, recursos... Uma colonização eminentemente econômico-cultural, que substitui, e em grande parte prolonga, a anterior, de tipo político-militar.

E se, por circunstâncias circunstanciais, os antigos impérios coloniais são instados a bater no peito, fazem-no aludindo aos seus erros de colonização... .). Nos últimos anos tem havido uma série de "reconhecimentos de erros" por parte das antigas potências coloniais - Holanda, Bélgica e França, de que o Reino Unido não se arrepende -, evitando chamar as coisas pelo seu nome, ou seja, fazendo um paripé carente de sinceridade, pois essas nações dignas mantêm seu poder econômico e seu padrão de vida através do neocolonialismo, econômico, cultural e não raro militar, sempre em busca de novas vítimas.

PORQUE NÃO SIMPLESMENTE ABOLIR A OTAN?

Prof Rodrigue Tremblay* | Global Research

Global Research, 18 de outubro de 2022 - Global Research, 19 de agosto de 2008

Este artigo incisivo e oportuno do premiado autor Professor  Rodrigue Tremblay  foi publicado pela Global Research há doze anos em agosto de 2008.

Vamos construir um Consenso para a Paz Mundial: Abolir a OTAN.

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[O objetivo da OTAN é] “manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães em baixo”. Lord Ismay , primeiro secretário-geral da OTAN

“Devemos convocar imediatamente uma reunião do Conselho do Atlântico Norte para avaliar a segurança da Geórgia e rever as medidas que a OTAN pode tomar para contribuir para estabilizar esta situação muito perigosa.” Senador John McCain, (8 de agosto de 2008)

“Se tivéssemos trabalhado preventivamente com a Rússia, com a Geórgia, garantindo que a OTAN tivesse o tipo de habilidade e a presença e o engajamento, talvez pudéssemos ter evitado isso” [A invasão da Ossétia do Sul pela Geórgia e a subsequente resposta russa ]. Tom Daschle, ex-líder da maioria no Senado e conselheiro do senador Barack Obama, (17 de agosto de 2008)

“De todos os inimigos da liberdade pública, a guerra talvez seja o mais temido, porque compreende e desenvolve o germe de todos os outros.” James Madison (1751-1836), quarto presidente americano

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é uma relíquia da Guerra Fria. Foi criado em 4 de abril de 1949 como uma aliança defensiva dos países da Europa Ocidental mais o Canadá e os Estados Unidos para proteger os antigos países das invasões da União Soviética.

Mas desde 1991, o império soviético não existe mais e a Rússia vem cooperando economicamente com os países da Europa Ocidental, fornecendo-lhes gás e petróleo e todos os tipos de commodities. Isso aumentou a interdependência econômica europeia e, portanto, reduziu muito a necessidade de uma aliança militar defensiva, acima e além do próprio sistema militar de autodefesa dos países europeus.

Mas o governo dos EUA não vê as coisas dessa maneira. Preferiria manter seu papel de protetor paternalista da Europa e de única superpotência mundial. A OTAN é uma ferramenta conveniente para esse efeito. Mas talvez o mundo devesse se preocupar com quem anda pelo planeta com uma lata de gasolina em uma mão e uma caixa de fósforos na outra, fingindo vender seguro contra incêndio.

O argumento lunático de que a habilidade nuclear nos torna seguros - Caitlin Johnstone

Caitlin Johnstone | Consortium News

Os spinmeisters imperiais para a guerra por procuração dos EUA na Ucrânia estão tentando nos fazer acreditar que a desescalada é perigosa. 

#Traduzido em português do Brasil

De todas as narrativas que circularam sobre a guerra por procuração dos EUA na Ucrânia, a mais estúpida até agora deve ser a afirmação cada vez mais comum de que a escalada agressiva da provocação nuclear é segura e a redução da escalada é perigosa.

Vemos um excelente exemplo dessa narrativa obviamente idiota em um novo artigo do Business Insider : “ As ameaças nucleares de Putin estão levando pessoas como Trump e Elon Musk a pressionar por um acordo de paz na Ucrânia. Um especialista nuclear adverte que isso é 'perigoso'. 

“Um desejo compreensível de evitar uma guerra nuclear pode realmente tornar o mundo mais perigoso se isso significar correr para implementar uma 'paz' na Ucrânia que sirva aos interesses russos”, escreve o  confiável apologista do império  Charles Davis. “Tal medida, que algumas figuras influentes pediram, corre o risco de abrir um precedente de que a chantagem atômica é a maneira de vencer guerras e tomar territórios que as tropas não podem de outra forma, um modelo que poderia ser copiado até mesmo pelos estados com armas nucleares mais fracos. , e só pode conseguir atrasar outra guerra.”

A única fonte de Davis para seu artigo é Pavel Podvig, do Instituto das Nações Unidas para Pesquisa de Desarmamento, que  é muito abertamente tendencioso  contra a Rússia.

“O Ocidente apoia a Ucrânia com armas e apoio financeiro, moral e político. Desistir disso e dizer: 'Bem, você sabe, estamos com muito medo de ameaças nucleares e por isso só queremos fazer um acordo' – isso certamente abriria um precedente que não seria muito positivo”, diz Podvig. “Se você ceder a essa ameaça nuclear uma vez, o que impediria a Rússia no futuro – ou outros – de fazer a mesma coisa novamente?”

AS TEIAS DE ARANHA DA(S) REALIDADE(S)

Manuel Augusto Araújo | AbrilAbril | opinião

A construção desta fina teia de aranha visa a despolitização efectiva do mundo contemporâneo, que a alienação seja aceite enquanto normalidade, que as lutas sociais simulem mudar tudo para não mudar nada.

As Realidades (fábula), de Louis Aragon

Era uma vez uma realidade
com suas ovelhas de lã real
a filha do rei passou por ali
E as ovelhas baliam que linda que está
A re a re a realidade.

Na noite era uma vez
uma realidade que sofria de insónia
Então chegava a madrinha fada
E realmente levava-a pela mão
a re a re a realidade.

No trono havia uma vez
um velho rei que se aborrecia
e pela noite perdia o seu manto
e por rainha puseram-lhe ao lado
a re a re a realidade

CAUDA: dade dade a reali
dade dade a realidade
A real a real
idade idade dá a reali
ali
a re a realidade
era uma vez a REALIDADE.

Diariamente somos confrontados com a realidade, com as realidades, como políticos, economistas e empreendedores preferem dizer, que acabam por tecer uma teia de aranha intimidativa onde nos querem apanhar num tempo em que cada vez mais devemos desconfiar da realidade, das realidades, como nos são apresentadas para nelas acreditarmos, para por elas sermos constrangidos, a elas não podermos escapar.

São inúmeras as realidades que nos são impingidas, que não passam de ficções, que, de tão repetidas, deixam de ser escrutinadas e entram nos glossários da comunicação social controlada directa ou indirectamente pelo império, dispensando verificações e certificações dos variados e enviesados polígrafos. Estamos cercados por uma opinião dominante sustentada em realidades ancoradas no senso comum, pelo que escapam a qualquer análise racional, com o objectivo de subjectivamente direccionar as apreciações críticas não conformes com o pensamento preponderante e as narrativas que diariamente, hora a hora, são construídas e vendidas como verdade, subvertendo a consigna de Lénine que só a verdade é revolucionária, porque a verdade foi substituída pela realidade, pelas realidades.

Realidade, realidades que se impõem como uma evidência não passível de qualquer debate, dogmas que se querem impossíveis de ultrapassar. Um muro resistente a todos os idealismos, a todas as ideologias militantes porque, segundo os seus próceres, as realidades da economia mundial, os veredictos dos mercados financeiros e dos seus braços armados, nomeadamente FMI, Banco Mundial, empresas de notação, etc., é que determinam a pulsação da vida concreta, a vida autêntica em que não há lugar para as pessoas, pelo que as relações sociais e políticas estão subordinadas ao determinismo desumanizado da realidade.

O seu alfa e ómega é o TINA (There Is No Alternative) de Margaret Thatcher quando vendia, com os seus dotes de feirante do capitalismo, que não haveria alternativa ao neoliberalismo, às leis do mercado, à globalização, um totalitarismo muito do agrado dos democratas liberais e iliberais acantonados no centro-direita, direita e extrema-direita, que estão a conquistar espaço político mundo fora, principalmente na Europa, o que nos EUA e outros países anglo-saxónicos é de há muito tempo um facto mascarado por regulares combates de wrestling entre dois partidos que prosseguem no essencial os mesmos objectivos e que procura ser modelo universal para o império de ilusões onde mesmo as elites progressistas se afundam. Por cá, encontram-se acantonados na Iniciativa Liberal, Chega , CDS e no PSD, mas também no PS, onde a sua tendência mais adossada à direita contamina o todo.

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