quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Angola | MANIFESTO IGNORADO DÁ PAI INCÓGNITO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Manifesto do MPLA ao Povo Angolano caracteriza a situação mundial de uma forma que se pode resumir assim: “Os países imperialistas pretendem perpetuar a opressão das colónias e dos países dependentes”. Para isso criaram uma Frente Imperialista Mundial. A resposta só podia ser esta: “As colónias e os países dependentes viram-se obrigados a criar a Frente Mundial Contra o Imperialismo”.

Como criar essa frente? A resposta clara, sem lugar a dúvidas, está no Manifesto do MPLA ao Povo Angolano: ”Só a luta solidária e unida de todas as colónias, de todos os países dependentes se pode derrubar o imperialismo em cada país oprimido e em todo o mundo”.

Esta posição deve ter cegado os “historiadores” pagos à página na missão de destruir Angola Livre e Independente. Porque ao lerem o Manifesto do MPLA ao Povo Angolano não conseguiram ler esta parte que indica o caminho para o triunfo: “Impõe-se, pois, a união firme e inabalável e a luta unida não só de todos os indivíduos africanos, mas também de todos os povos africanos. Nenhum africano pode ficar indiferente perante a luta contra o imperialismo que se trave em qualquer ponto do nosso continente por UMA ÁFRICA PARA OS AFRICANOS”.

O Manifesto do MPLA ao Povo Angolano também caracteriza a situação económica e social de uma forma muito assertiva, em 1956. Leiam esta parte:

”As minas de Angola estão nas mãos de portugueses, de belgas, de americanos, de ingleses. O território angolano pertence ao Estado português. As terras férteis nas regiões de melhor clima são distribuídas aos colonos portugueses. Milhões de indígenas não são considerados cidadãos pelo governo colonialista português, não têm direito à posse individual da terra angolana (…) O comércio interno é dificultado ao indígena e facilitado ao colono português ou de outra nacionalidade estrangeira. O comércio externo é controlado pelo estado colonialista português e exercido por colonos portugueses. Não há bancos de indígenas nem meios de transporte de indígenas”.

O que era o colonialismo em Angola? O Manifesto do MPLA ao Povo Angolano revela a sua face sinistra: “O colonialismo inculcou em todo o organismo de Angola o micróbio da ruína, do ódio, do atraso, da miséria, do obscurantismo, da reação. O caminho que nos obrigam a seguir é absolutamente contrário aos supremos interesses do povo angolano: aos da nossa sobrevivência, da nossa liberdade, do rápido e livre progresso económico, da nossa felicidade, de pão, terra, paz e cultura para todos”.

O MPLA é o 4 de Fevereiro e o 4 de Fevereiro é de todos, Leiam porquê:

“As mais elementares necessidades inadiáveis do nosso povo - como a necessidade sagrada e imperiosa der impedir que Angola se esvazie da sua população negra, como sucedeu, por exemplo, com a população nativa do continente americano, para no lugar dela viverem numericamente grandes e poderosas populações de origem europeia -, exigem a mobilização e a luta – LUTA EM TODAS AS FRENTES E EM TODAS AS CONDIÇÕES – do povo angolano para o aniquilamento do imperialismo, do colonialismo português, para tornar Angola um Estado independente, para a instauração de um governo angolano democrático e popular”. 

O Manifesto do MPLA ao Povo Angolano mobilizou os Heróis do 4 de Fevereiro para lutarem por este objectivo maior: 

“Um governo angolano de ampla coligação de todas as forças que tenham lutado implacável e intransigentemente, até ao fim, contra o colonialismo português. Um governo de todas as forças anti-imperialistas e à frente do qual esteja a classe trabalhadora. Um governo que estabelecerá as indispensáveis relações do nosso povo com todos os povos, incluindo o povo português, mas na base do livre consentimento, da confiança mútua, da igualdade de direitos, de mútuos benefícios e da colaboração pacífica”.

Últimas palavras do Manifesto do MPLA ao Povo Angolano: “É indispensável lutar para organizar e organizar para lutar.”

Partindo do princípio que certos historiadores são capazes de ler, gostava de saber que parte do manifesto não percebem para duvidarem da paternidade do 4 de Fevereiro. Se o MPLA não é o motor daquela acção revolucionária então foram os marcianos. Mas como os Heróis que ainda estão vivos são todos do MPLA, os já falecidos igualmente e marcianos não existem, é ululantemente óbvio que o “amplo movimento” nascido em 1956 tem a paternidade de todas as acções revolucionárias que aconteceram em Angola depois dessa data. Até a Grande Insurreição em 15 de Março de 1961 ainda que sob a bandeira da UPA.

O Presidente João Lourenço deu uma entrevista ao jornal espanhol ABC, franquista e nazi no passado, agora de extremíssima direita. Está a melhorar. Afinal sempre é um meio mais decente do que a Voz da América, instrumento de propaganda da CIA.  Mas indo de lixo mediático em lixeira mediática, sua excelência começa a especializar-se em voar baixinho, como os jacarés do Dange lá no Bindo.

Ontem à noite, a TPA organizou um debate sobre o 4 de Fevereiro. Um dos participantes, o senhor brigadeiro Francisco Hebo Zangui Longa, também fez um voo rastejante ante o silêncio de todos os outros participantes (espero que não seja conivência). Disse ele que os angolanos são honestos, os angolanos não são corruptos, os angolanos são trabalhadores. Mas vieram “uns estrangeiros com certas ideias” e transplantaram a corrupção, a desonestidade e a ociosidade para Angola. Isto dito por um militar é mesmo muito feio.

Ele sabe (ou devia saber) que sem estrangeiros amigos, Angola ainda era uma colónia ou apenas um bantustão do regime de apartheid da África do Sul. Posso recordar-lhe argelinos, jugoslavos, congoleses (Brazzaville), zambianos, tanzanianos, soviéticos, jugoslavos e cubanos. Sem estes estrangeiros (e outros…) o senhor brigadeiro Francisco Hebo Zangui Longa o máximo que conseguia, era ser soldado básico, faxina, no RI20. Ainda menos do que o soldado condutor Jacques dos Santos.

O 4 de Fevereiro não admite racismo. Não admite xenofobia. Não admite nazis, bem ou mal falantes. 

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana