domingo, 5 de fevereiro de 2023

Angola | O BALÃO ESPIÃO E A HORA DA MENTIRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um balão chinês, espião, paira sobre Montana, a 150 quilómetros de altitude. É uma invasão ao estado terrorista mais perigoso do mundo. Porque Biden acha que os EUA são altíssimos. A altura vai até ao céu. E se Deus não condenar a invasão da Ucrânia arrisca-se a levar com uma bomba atómica no seu território, paraíso de santas, santos, querubins e almas absolvidas de todos os pecados praticados na Terra. Eu terei sempre a entrada cortada.

Rui Verde é o perito dilecto do Presidente João Lourenço. Depois de escrever a sua palpitante biografia que inclui a derrota eleitoral de Luanda, agora está empenhado numa cruzada para Angola adoptar uma nova Constituição da República. Leram bem. O ex-presidiário não propõe uma Revisão Constitucional. Quer mesmo uma nova Lei Fundamental! Fundamento da proposta dos “peritos” arregimentados pelo mobutismo reinante: É para evitar conflitos. 

Quem pensa que é para permitir ao chefe ficar mais uns quantos mandatos presidenciais, está a ser maldoso. Eu sou um deles. Mau, mau, mau.

Também sou um piolhoso. Quando era miúdo apanhava piolhos como quem se despede. A Aurora, minha colega de escola, dilecta filha do senhor Gorila, mecânico afamado e árbitro de futebol honestíssimo (uma redundância, todos os árbitros são honestos) era perita em catar os parasitas. E quando a comichão me incomodava pedia a sua intervenção técnica.

Um dia estava sentado à porta de casa da senhora professora (era ao lado da escola) e a Aurora catava os piolhos que se passeavam na minha cabeça, com grande mestria. A nossa esforçada mestra viu aquilo e berrou: Sai daqui seu piolhoso! E depois com um esgar de nojo rematou: Seus porcos! A Aurora nunca negou catar-me piolhos e lêndeas, nunca. Um dia fomos ao cemitério enterrar o Esticadinho. Pequenas árvores pingavam sobre as campas, pétalas brancas de belíssimas flores. O meu pai disse que eram beijos-de-mulata. 

As campas dos sobas à beira da picada entre a Kapopa e o Dambi também recebiam a sombra e as pétalas dos beijos-de-mulata. Quis conhecer o sabor desses beijos e pedi um à Aurora. E ela não negou. Foi um estremecimento de amor. Muitos anos mais tarde, em memória desse momento sublime escrevi estes versos: Agora que amanhece/Diz-me bem amada/que memória te esquece/Que paixão te apaga/Que amor te arrefece.

Os piolhosos são assim. Abusadores. Não tanto como os aspirantes a terroristas do PRA JÁ SERVIR ANGOLA do mestre Chivukuvuku. Um tal Carlos Xavier, deputado da UNITA, ia participar na “marcha de abertura do ano político” do projecto terrorista. Disse à Voz da América (isso mesmo, a mesma que foi escolhida pelo Presidente João Lourenço para dar uma entrevista em Washington) que nem a Polícia nem a Assembleia Nacional saíram em seu socorro. Imperdoável.

Um deputado da UNITA filiado no projecto terrorista do Chivukuvuku foi detido por um polícia que não conhece todos os deputados eleitos e ninguém reagiu. A democracia está em perigo. O Presidente João Lourenço tem de chamar Rui Verde e Rafael Marques para resolverem a maka. Talvez uma nova Constituição da República resolva tão magno problema. Quem se mete com piolhosos corre sempre o risco de acabar eternamente no poder. O que é uma chatice. Não sobra tempo para gastar os milhões dos confiscos e da nova corrupção.

Boas notícias. A senhora ministra da tutela anunciou que os funcionários públicos, quando colocados em lugares recônditos, vão receber subsídios de isolamento, de instalação e de renda de casa. Uma percentagem modesta do “salário base”. A isto chama-se fingir que empurra mas não empurra, como faziam os contestatários do Comboio Malandro do poeta António Jacinto. 

Alguém tem de explicar à senhora ministra (seguramente bem intencionada mas profundamente equivocada) que um professor ganha entre 50 e 100 mil kwanzas. Um enfermeiro entre 90 e 250 mil. E não estou a falar do salário base. O que propõe são trocos. Condições piolhosas. Inaceitáveis.

Querem colocar recursos humanos qualificados nas províncias do interior, nos municípios mais recônditos? Paguem-lhes o mesmo que pagam aos deputados. Mais 30 por cento do isolamento, da instalação e da renda de casa. Em vez do Lexus da praxe podem dar-lhes um triciclo kaweseki. Mas não agridam mais os profissionais com migalhas. Esmolas. Se querem colocar um professor ou enfermeiro aos pés do Carlos Xavier, deputado da UNITA, estão à vontade. Conseguem mesmo piorar o que está pior.

Os jornalistas do Jornal de Angola tinham salários rastejantes. Se eu fosse um daqueles profissionais, sentia-me ofendido e agredido no final de cada mês. O director-geral (ainda não existia o conselho de administração) José Ribeiro resolveu o problema duplicando o salário a título de “subsídio técnico”. Foi adoptada uma política de prestações sociais para resolver problemas que muitos enfrentavam quotidianamente. 

E o dinheiro? Fizemos uma manobra arriscada, triplicando o preço dos pequenos anúncios e apostando em publicidade redigida. A tutela nada teve a ver com o assunto, a não ser apoiar. E o Ministério das Finanças não teve que abrir os cordões à bolsa. Só assim foi possível fazer Jornalismo. Pagar aos jornalistas salários rastejantes só pode dar banditismo mediático à moda do Rafael Marques ou do Teixeira Cândido. 

Úrsula von der Leyen foi à Ucrânia anunciar que vai mandar milhões de lâmpadas para o país. Charles Michel disse que a União Europeia é a Ucrânia e a Ucrânia é a União Europeia. Os nazis são piolhosos mas muito perigosos! Usam a mentira como arma de submissão dos povos. O “ocidente alargado” adoptou a hora da mentira.

* Jornalista - Na imagem: Piolho Fotogénico

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Angola | O LIVRO VERDE E JORNALISMO FALSIFICADO – Artur Queiroz

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