sábado, 4 de fevereiro de 2023

Angola | O LIVRO VERDE E JORNALISMO FALSIFICADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Rui Verde tem um currículo notabilíssimo. Foi vice-reitor da Universidade Independente, encerrada compulsivamente devido a práticas criminosas dos seus responsáveis e grave degradação pedagógica. Corria o ano de 2007. O reitor, Luís Arouca, afastou o seu “vice” Verde acusando-o de corrupção e falsificação de documentos. 

O acusado contestou. Mas Rui Verde acabou preso e mais tarde condenado por corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos. Sem se deter publicou o livro “O Processo 95385. Como Sócrates e o poder político destruíram uma universidade”. 

O mirabolante vice-reitor da Universidade Independente preso e condenado por corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos (um verdadeiro marimbondo ou mesmo caranguejo com asas fininhas) acaba de publicar mais um livro do género: “João Lourenço. Herança, Frustrações, sucessos (e a derrota de Luanda)”. Palpitante!

O autor é agora agente de coisas esquisitas mais ou menos ao serviço de polícias secretas. E é sócio do Rafael Marques na lixeira Maka Angola, o que faz de ambos serventes do George Soros, uma das mais sinistras figuras da actualidade e cujos interesses, pelos vistos, incluem a promoção de João Lourenço.

Uma correcção ao livro do Verde. O cabeça de lista do MPLA nas eleições de 2017 também não ajudou o seu partido a ganhar no círculo eleitoral de Luanda. A Oposição somou mais votos do que o vencedor das eleições. Em Agosto passado apenas foi confirmado o descalabro. O eleitorado do MPLA absteve-se ou votou mesmo contra João Lourenço. 

Mas há outra correcção a fazer. A vitória do partido de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos não foi “apertada”. Pelo contrário, foi retumbante. Esmagadora. Penso mesmo que foi a mais expressiva de todas as vitórias eleitorais do MPLA. Nunca se esqueçam que, pela primeira vez, a Oposição concorreu unida. Ainda agora Justino Pinto de Andrade teve de renunciar à direcção do Bloco Democrático porque foi eleito deputado da UNITA! Até o Chivukuvuku, antigo chefe da ala terrorista de Jonas Savimbi, voltou ao local do crime e foi eleito nas listas do Galo Negro acabando com a CASA-CE.

O livro do ex-presidiário tem uma capa apelativa mas em nenhum ponto diz que é uma biografia não autorizada. Logo, João Lourenço deu fogo à peça. Escolheu bem. Muito bem. O que não deve ter sido fácil. O Presidente da República tinha muita mão-de-obra para a propaganda. Mas com o currículo do Rui Verde, ninguém. Algumas e alguns mereciam estar presos por crimes graves contra o Jornalismo mas têm passado incólumes, o que lhes retira categoria e peso para escrever um livro sobre o chefe. Esta biografia autorizada é um luxo. Por causa desta fraude ninguém vai levar o Rui Verde preso. 

A alternativa ao ex-presidiário talvez fosse aquela menina que manda uns mujimbos para a TPA a partir da Casa Branca. Mas não me parece que alguma vez tenha ido presa. Quando muito tem sido assediada por polícias desalmados e algo tarados sexuais. Há imensos nos EUA!

A Hariana tem um “hard pass” para o covil do chefe do estado terrorista mais perigoso do mundo. O jornalismo que faz é pornografia hard core mas está desculpada. A sua produção comparada com as opções de política externa do Presidente João Lourenço são salmos bíblicos. A pureza em forma de notícia. 

Como dizia o meu compadre David Moisés, “na vida é tudo relativo e no MPLA ainda mais”. Mas também dizia uma com mais profundidade que eu aproveitei para abertura do meu livro Mukandano: “Se há revolução que não comeu seus filhos para alimentar enteados, pode varrer-me com a primeira chapada”. Isto em 1975, às portas da Independência Nacional. 

Imaginem o que diria hoje o Heróico Comandante Ndozi se assistisse ao festim de fantoches e traidores que estamos com eles. Nada de especial. Convidava-me para irmos plantar repolhos na fazenda dele no Soyo. Era o que eu já devia estar a fazer há muitos anos. Mas, confesso, sou muito atrevido e tenho o vício da escrita ligeira.

A grande Hariana hoje entrou na TPA a matar: Angola subiu quatro pontos na lista mundial da corrupção! A vigarice é organizada pela “Transparência Internacional”, instrumento criado por antigos marimbondos do Banco Mundial. Sabem quem está nos primeiros lugares da “transparência”? Os países que guardam o dinheiro dos corruptos e são antros dos corruptores activos. A Suíça está nos primeiros lugares dos países livres de corrupção. E o “paraíso fiscal” Luxemburgo também. 

Enfim, Angola agora está melhor na lista. A Hariana não disse mas digo eu. O Grupo Carrinho esteve um dia sem comer os nossos mundos de fundos. E os destinatários dos “ajustes directos” estão a fazer dieta, comem menos um kwanza ao matabicho. Graças ao Presidente João Lourenço, a corrupção em Angola andas pelas ruas da amargura. O chefe é para nós mais do que uma mãe.

Lá tenho que explicar mais uma vez. A maquineta infernal do capitalismo só funciona se tiver no depósito, ao mesmo tempo, três combustíveis: Exploração de quem trabalha, corrupção e ladroagem em conluio com o Estado, que pode ir até às formas violentas de latrocínio. 

Isso do combate à corrupção é uma manobra de diversão para os grandes corruptos trabalharem à vontade. Explorarem quem trabalha à vontade. Roubarem à vontade. Que parte não percebem? Se querem viver na economia de mercado e gramar os deputados da UNITA também levam com a corrupção, a exploração e o roubo. 

O jornalismo deles é assim. A RTP tem um “enviado especial” na Ucrânia e o moço de recados diz que está na linha da frente. A maka dos combates é em Bakhmut. E o heroico António Mateus anda a fazer propaganda dos nazis em Kherson. Por estas e por outras foi expulso de Moçambique. 

A CNN Portugal tem um tal Sérgio Furtado na Ucrânia. Hoje Úrsula von der Leyen e alguns comissários da Comissão Europeia estiveram reunidos com Zelensky supostamente em Kiev. O rapaz reportou o acontecimento sem estar presente. O “ocidente alargado” chama a isto jornalismo. Democracia não casa com propaganda. Jornalistas não são kaxikos pagos à peça.

* Jornalista

Na imagem: Rui Verde, referido em artigo no Observador 

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