sábado, 25 de março de 2023

Angola | NEGÓCIO DAS OSSADAS CHUMBOU NO EXAME – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Arrogância é excrescência de personalidades doentias, por isso não frequento nem aceito. Desde que enganei as estatísticas e continuei a viver para além da esperança de vida nunca mais fiz marcações para lá de duas horas. Para o dia seguinte, nem pensar. Não sou arrogante. Mas sou um crente incondicional na Ciência. O Professor Catedrático da Universidade de Coimbra Duarte Nuno Vieira, perito em antropologia forense, anunciou que exames de ADN revelaram que as ossadas de Sita Vales e José Van Dúnem entregues aos familiares não batem certo. Creio na Ciência e nos cientistas. Logo, é verdade.

Cuidado com a arrogância! Porque também é possível que os filhos dos golpistas tenham outros pais biológicos, mortos ou vivos. Quanto às mães, nada de dúvidas. Mas os bebés podem ter sido trocados na maternidade. Não comecem já a culpar o antigo ministro da injustiça e dos direitos desumanos, Francisco Queiroz, nem o seu suserano João Lourenço. Ou os seus amos. Sobretudo estes, porque atacá-los pode significar tiroteio nos pés, nas pernas, no coração e nos miolos. Como se sabe, o desalmado negociante de ossadas rastejava aos pés do irmão de Sita Vales e da irmã Francisca de José Van-Dúnem.

Este novo capítulo aberto pelos familiares dos golpistas de 27 de Maio começou antes da época. Costuma ser escrito mais para o fim de Abril. Este ano caiu em cima do 23 de Março, data em que as FAPLA derrotaram os invasores sul-africanos, destruindo o regime racista de Pretória. No Dia da Libertação da África Austral. O George Soros deve ter entrado com muito dinheiro. A nazi que manda na Comissão Europeia igualmente. O genocida Biden, certamente. A flausina que meche os cordelinhos dos fantoches em Luanda na qualidade de embaixadora da União Europeia, está metida no insulto, pelo menos até às cuequinhas de rendas. A embaixada dos EUA nem se fala. 

A operação de ontem meteu uma tal Cândida Pinto, cada vez mais mulher-a-dias engraxada com dinheiros passados por baixo da mesa. E, surpresa das surpresas, o filho de uma vítima, João Saraiva de Carvalho (sobrinho) mostrou-se com os filhos dos assassinos. O pai dele, Gilberto Saraiva de Carvalho (Gigi/Mano Carapau), foi assassinado no Luena. Duvido que existam as suas ossadas. A maka levantada pelo cientista Duarte Nuno Vieira tem a ver com o negócio das ossadas de Luanda. 

Gigi foi assassinado por energúmenos racistas e tribalistas na cidade do Luena. Para vingarem a norte dos “comandantes do Leste” assassinados em Luanda pelos golpistas. Segundo Nito Alves, no depoimento que escreveu e assinou, foi José Van-Dúnem e Sita Vales que deram ordens para matar todos os comandantes, mais Hélder Neto e o ministro Saidy Mingas.  

O tio do Joãozinho, General Tetembwa, escapou por pouco aos assassinos. O Comandante Petroff esteve preso na parada da IX Brigada e salvou-se porque foi levado de ambulância para o Hospital Militar, antes de chegar a ordem para executar os comandantes. O Joãozinho é filho de uma vítima do 27 de Maio, Gilberto Saraiva de Carvalho. Como foi possível juntar-se ao filho de José Van-Dúnem e Sita Vales, os golpistas mandantes dos crimes? Eu sei mas por respeito ao pai, que me levou para o MPLA (também foi ele que mobilizou José Van-Dúnem) e restante família não digo mais nada. 

Em devido tempo avisei que o negócio das ossadas ia dar para o torto. Expliquei porquê. Não fui ouvido, pelo contrário, fui insultado e ameaçado. Alguns amigos afastaram-se em protesto. Até 27 de Maio vamos ter ventoinhas a ventilarem porcaria para cima do MPLA. Voltarei sempre que for preciso.

 Antes de encerrar este capítulo, quero que fique claro isto. Sim, no 27 de Maio de 1977 houve massacres. Foram os golpistas que massacraram. Houve perseguições. Foram os membros da direcção política e militar do golpe que perseguiram. Houve prisões arbitrárias. Foram os golpistas que prenderam. Execuções sem julgamento, sim, aconteceram. Foi José Van-Dúnem e Sita Vales que mandaram matar, segundo Nito Alves. Tudo o que aconteceu nos dias seguintes é da exclusiva responsabilidade da direcção política e militar do golpe de estado.

As angolanas e os angolanos que enfrentaram os golpistas não são criminosos. Não são traidores. São patriotas. Heróis Nacionais. São vítimas dos carniceiros que desencadearam o golpe de estado. E este não é suposto. A decapitação do Estado-Maior Geral das FAPLA aconteceu mesmo. Os golpistas assaltaram e ocuparam a IX Brigada pela força. Aconteceu mesmo, não é uma suposição. O portão de ferro da cadeia de São Paulo foi rebentado com um blindado pelos golpistas. Hélder Neto foi assassinado na hora. Abriram aas celas dos mercenários e de todos os detidos. Aconteceu mesmo, não é uma suposição. A empresa CIVICOP deve fechar as portas e liquidar o negócio das ossadas.

Noutra frente, o sicário da associação de malfeitores UNITA Anastácio Ruben Sicato escreveu um texto delirante, mentiroso, falso, insultuoso sobre a Batalha do Cuito Cuanavale. Este diz que sim, a batalha existiu mas em 23 de Março de 1988 os invasores e as FAPLA empataram. Escreve mais isto que deve ter enfurecido o criminoso de guerra Abílio Camalata Numa: “A batalha do Kuíto Kuanavale foi parte da contra-ofensiva da UNITA à ofensiva mal-sucedida do MPLA para tomar Mavinga e Jamba”. O outro diz que a batalha nunca existiu. 

O sicário Sicato fez parte do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN) mas não largou o espírito de seita. Não despiu a pele de bandido. Não se despediu do regime de apartheid. Não fez o luto dos seus mentores karkamanos. É um crápula insanável. Mas temos que lhe agradecer o texto. Porque depois de dar muitas voltas, nunca conseguiu incluir a UNITA nos Acordos de Nova Iorque. Não conseguiu incluir a sua associação de malfeitores nas negociações de paz. E só entrou depois, porque os senhores de Washington pediram ao Presidente José Eduardo dos Santos que desse uma mão a Savimbi para que ele e a sua organização não se tornassem párias. Daí o Acordo der Bicesse.

Ismael Mateus escreveu no Jornal de Angola que há uma “estratégia de desconsideração pessoal e moral dos adversários “. E dá um exemplo. Os Media públicos ignoraram o 57º aniversário da UNITA no dia 13 de Março de 1966. Este recebe do Orçamento Geral do Estado e não é pouco. Mete a mão na massa pelo lado da turma do Miala, pela Presidência da República, pela Empresa Edições Novembro e sabe-se lá mais de onde. 

O escriba a soldo está enganado. Os Media públicos fizeram mitro bem ignorar essa data fatídica que ia destruindo todos os ganhos alcançados com a Luta Armada de Libertação Nacional e impediu que o MPLA abrisse uma frente para o mar à boleira do Caminho-de-Ferro de Benguela. Ou levasse a guerrilha até ao Planalto de Malanje para, a partir desse território, à boleia do Caminho-de-Ferro de Luanda levar a luta revolucionária à capital.

No dia 13 de Março de 1966, os serviços secretos da Zona Militar Leste, do Estado-Maior da Região Militar de Angola, a PIDE e civis empresários ou ligados a igrejas deram à luz a UNITA, liderada por Jonas Savimbi que, segundo o general português Franco Pinheiro, disse após ler um relatório secreto: “Este homem é um traidor nato!” Isto aconteceu no seu gabinete na Fortaleza de São Miguel. Os jornalistas ao serviço dos independentistas brancos, em protesto, abandonaram a sala. Só fiquei eu e o José Manuel da Nóbrega. E valeu a pena porque o senhor general revelou actos de Savimbi que ultrapassam largamente o conceito de traição.

A UNITA adoptou um política populista e demagógica que lhe valeu apoio de largas camadas das populações rurais no Leste de Angola. Mas rapidamente os apoiantes perceberam o logro e o balão tal como encheu assim se esvaziou rapidamente. Em 1968, os serviços secretos militares portugueses enviaram para Lumbala Nguimbo (Gago Coutinho) os dois melhores comandantes da UNITA: Majores Pedro e Sachilombo, que integraram os Flechas da PIDE com 200 homens armados.

Jonas Savimbi tentou o reconhecimento da UNITA junto do Comité de Libertação da ONU e da OUA (hoje Unidade Africana). Falhou. Os serviços secretos britânicos informaram o Presidente Kaunda que a organização era uma unidade especial das tropas portuguesas e dos Flechas da PIDE. Para limpar essa imagem Jonas Savimbi e os serviços secretos militares portugueses montaram uma operação ousada que consistia em atrair a um local perto de Cangamba, Flechas da PIDE (comandadas por Machai), o fundador dessa tropa, inspector Óscar Cardoso, e um helicóptero pilotado por um oficial sul-africano.

O inspector da PIDE e o piloto eram feitos prisioneiros. Os Flechas massacrados. O helicóptero seria fotografado e filmado com os dois prisioneiros para depois correr mundo. A operação falhou porque uma tempestade terrível impediu que a aeronave se aproximasse do objectivo. O piloto deu muitas voltas e teve de regressar à base por falta de combustível. Mas os Flechas foram mesmo massacrados porque os homens de Jonas Savimbi convenceram-nos a largar as armas porque estavam numa operação de paz.

Oficialmente a operação consistia em receber armados sob o comandado pdo tenente Sabino, para depois serem lançados na luta contra a guerrilha do MPLA. O fracasso obrigou a montar mais uma operação, desta vez contra a base de fuzileiros navais portugueses no Lunguébungo. Aquilo foi mal combinado e a tropa reagiu com tal ímpeto que dos atacantes da UNITA poucos fugiram com vida. 

Quando nasceu a UNITA movimento e partido político? Em Maio de 1974, quando Savimbi disse à Emissora Oficial de Angola (RNA) que os angolanos não estavam preparados para a independência e apoiou o federalismo de Spínola? Quando Savimbi e Nzau Puna se encontraram com Agostinho Neto e Lúcio Lara no Luena? Quando a OUA, na sequència desse encontro, reconheceu a UNITA como movimento de libertação? Na Cimeira de Mombaça, em Janeiro de 1975? Na Cimeira do Alvor, logo a seguir? No dia da assinatura do Acordo de Bicesse? No Protocolo de Lusaka? No dia da morte de Jonas Savimbi? No dia da Paz?  

No dia 13 de Março de 1966 o que nasceu foi uma unidade especial da PIDE e da tropa portuguesa. Querem comemorar essa data na Angola Independente? Não insultem o Povo Angolano. Comam do Orçamento Geral do Estado, da Presidência da República, das empresas públicas da comunicação social mas não cuspam na memória dos nossos Heróis e dos nossos Mártires. 

A UNITA é uma porcaria que devia ter acabado quando acabou Jonas Savimbi. Hoje apenas serve para travar. Destruir. Mentir. Demolir o regime democrático. 

*Jornalista

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