"Quem é que pode ir, sem horror, assistir à Jornada Mundial da Juventude, como se nada se tivesse passado?"
No Fórum TSF, perante a reação da Igreja relativamente aos nomes dos padres que terão cometido abusos sexuais, Maria João Sande Lemos, do Movimento Nós Somos Igreja, fala num caso que lança uma nódoa sobre todo o clero.
Após a reação da Igreja à lista com os nomes de mais de cem padres suspeitos de terem cometido abusos sexuais, Maria João Sande Lemos, que faz parte do Movimento Nós Somos Igreja, fala em horror e num caso que lança uma nódoa sobre todo o clero, questionando, agora, com que sentimento se pode ir à Jornada Mundial da Juventude.
"Até me custa imenso pensar na Jornada Mundial da Juventude. Depois disto tudo, não são capazes de tomar o partido das crianças? Então o que cá vêm fazer os jovens? Quer dizer, missas, os bispos todos lá em cima, uns que foram encobridores, outros que não. Eu não sei quem é que pode ir, sem horror, assistir àquilo tudo, como se nada se tivesse passado", afirmou, em declarações no Fórum TSF.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, remeteu na sexta-feira eventuais indemnizações às vítimas de abusos sexuais para os seus autores, indiciando que não haverá lugar a indemnizações por parte da instituição.
"Quanto ao apoio às vítimas, a questão das indemnizações é clara, tanto no Direito Canónico, como no Direito Civil. Se há um mal que é feito por alguém é esse alguém que é responsável, para falar de indemnização", afirmou José Ornelas.
O prelado falava, em conferência de imprensa, após a Assembleia Plenária extraordinária, que se realizou em Fátima, dedicada, exclusivamente, à análise do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgado em 13 de fevereiro.
Também o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, afastou, no domingo, a suspensão de alegados padres abusadores de menores sem que haja "factos comprovados, sujeitos a contraditório" e um processo canónico feito pela Santa Sé.
"Aquilo que nos foi entregue pela Comissão Independente foi uma lista de nomes. Se essa lista de nomes for preenchida por factos, tanto nós como as autoridades civis podemos atuar. [...] Da parte da Igreja, estamos completamente disponíveis para procurar a resolução deste problema, em colaboração, claro está, com as entidades civis e canónicas", afirmou o cardeal-patriarca de Lisboa.
Questionado se a resolução do problema pode passar pela suspensão imediata dos alegados padres abusadores de menores, Manuel Clemente respondeu: "Essa é uma pena muito grave, é a mais grave que a Santa Sé poderá dar e é a Santa Sé que a poderá dar".
"Se nós tivermos factos, e factos comprovados e sujeitos a contraditório, claro - nós estamos num país de direito e de leis - só pode ser feita pela Santa Sé, não é uma coisa que um bispo possa fazer por si", referiu.
Interrogado se os padres em questão não podem ser suspensos preventivamente, o cardeal-patriarca de Lisboa voltou a descartar esse cenário, referindo que "não pode ser porque é sujeito a contraditório".
Manuel Acácio com Carolina Quaresma | TSF
Imagem: Maria João Sande Lemos © Diana Quintela/Global Imagens
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